UNIVERSIDADE DE LISBOA- FACULDADE DE CIÊNCIAS- DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA ANIMAL
A ostra-portuguesa, Crassostrea angulata (Lamarck, 1819), tem uma grande importância gastronómica, económica e ecológica a nível mundial. No estuário do Sado foi particularmente relevante na produção aquícola até à década de 1970, quando mortalidades em massa quase levaram à sua extinção no local. Atualmente, tal situação parece ter-se alterado, mas é necessário desenvolver trabalhos científicos que o demonstrem.
O objetivo deste estudo foi atualizar o mapeamento da distribuição da espécie neste sistema salobro e estudar a sua abundância, recrutamento larvar e assentamento.
A distribuição espacial foi analisada no subtidal e no intertidal ao longo da generalidade do estuário. Na zona subtidal foram observadas diversas espécies de bivalves e a comunidade foi significativamente diferente consoante a área do estuário. C. angulata foi mais abundante no Canal de Alcácer, tanto na zona subtidal, como na zona intertidal, e os teores de matéria orgânica e o tamanho médio do grão dos sedimentos foram as variáveis ambientais que melhor explicaram a distribuição de C. angulata na região subtidal. Adicionalmente, os bancos de ostra-portuguesa do Canal de Alcácer, que resistiram ao declínio da espécie no estuário do Sado, são os que se encontram em melhores condições. Foram ainda identificados novos afloramentos mais a montante do que era conhecido.
As maiores abundâncias de larvas de C. angulata estiveram presentes no plâncton na primavera quando a temperatura da água atingiu os 18 – 20 ºC e a produção fitoplanctónica aumentou. O assentamento decorreu após isso, desde finais de maio até finais de outubro. No entanto, não foi regular ao longo do período em estudo, nem uniforme nos locais testados, sendo claramente relevante o sucesso do assentamento em áreas onde não existia substrato natural disponível à fixação.
Os resultados deste estudo indicam que será possível ajudar a recuperação da população de ostra-portuguesa do estuário do Sado aplicando algumas medidas de gestão que facilitem a revitalização dos bancos naturais.
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Figura 2.2. Localização das estações de amostragem subtidais estabelecidas para determinação da distribuição de ostra-portuguesa (Crassostrea angulata) e da comunidade de bivalves no estuário do Sado. O conjunto de estações de amostragem (escolhido aleatoriamente) é representativo da área potencial de distribuição de ostra-portuguesa e das diversas zonas do estuário do Sado.
O delineamento experimental permitiu determinar a distribuição de ostra-portuguesa no estuário do Sado e também da restante comunidade de bivalves. Foram contabilizadas 26 espécies de bivalves e um total de 5862 indivíduos deste grupo. As espécies dominantes em termos numéricos foram Ostrea stentina (52 %), Cerastoderma glaucum (13 %), C. angulata (12 %) e Scrobicularia plana (11 %). Situação diferente foi encontrada para os dados da biomassa, que evidenciaram como espécies dominantes C. angulata (70 %) e O. stentina (12 %).
ESPÉCIES MAIS ABUNDANTES:
Crassostrea angulata
Ostrea stentina
Abra alba
Cerastoderma glaucum
Corbicula fluminea
Ensis ensis
Macoma cumana
Mytilus edulis
Ruditapes decussatus
Ruditapes philippinarum
Scrobicularia plana
Solen marginatus
Spisula subtruncata
Venus verrucosa
OUTRAS ESPÉCIES
Abra nitida
Arcopagia crassa
Chamelia gallina
Gari fervensis
Gibbomodiola adriática
Modiolus modiolus
Musculus discors
Parvicardium pinnulatum
Polititapes rhomboides
Ruditapes sp.
Spisula solidaSpisula solida
Venerupis senegalensis
Figura 2.4. Mapa do estuário do Sado com a posição (estrelas) das estações de amostragem estudadas de 2 a 4 de julho de 2015. Cada estação de amostragem tem a si associado um gráfico circular onde se podem observar as espécies mais abundantes. As espécies representadas acima são: Crassostrea angulata (azul claro), Ostrea stentina (laranja), Abra alba (cinzento), Cerastoderma glaucum (amarelo), Corbicula fluminea (rosa), Ensis ensis (verde claro), Macoma cumana (roxo), Mytilus edulis (castanho escuro), Ruditapes decussatus (cinzento escuro), Ruditapes philippinarum (castanho claro), Scrobicularia plana (azul escuro), Solen marginatus (verde esuro), Spisula subtruncata (preto) e Venus verrucosa (vermelho). A zona do Esteiro da Marateca engloba os seguintes pontos de amostragem: 29, 31, 32, 33, 34 e 35. A zona da Baía Central está representada pelos pontos: 20, 21, 22, 23, 24 e 30. A zona do Canal Inferior inclui os seguintes pontos amostrais: 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 25, 26, 27 e 28. A zona do Canal Superior engloba os seguintes pontos de amostrgem: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11 e 12.
Figura 2.5. Composição específica de bivalves, por estação de amostragem (arrasto), no estuário do Sado. As espécies representadas acima são: Crassostrea angulata (C_ang: circulo azul claro), Ostrea stentina (O_ste: triângulo laranja), Abra alba (A_alb: cinzento), Cerastoderma glaucum (C_gla: amarelo), Corbicula fluminea (C_flu: rosa), Ensis ensis (E_ens: verde claro), Macoma cumana (M_cum: roxo), Mytilus edulis (M_edu: castanho escuro), Ruditapes decussatus (R_dec: cinzento escuro), Ruditapes philippinarum (R_phi: castanho claro), Scrobicularia plana (S_pla: azul escuro), Solen marginatus (S_mar: verde esuro), Spisula subtruncata (S_sub: preto) e Venus verrucosa (V_ver: vermelho). Na categoria «outros» (violeta) estão as espécies de bivalves com menos que 4 individuos. (correspondiam a menos de 0,07 % da amostra total) – as espécies são: Abra nitida (0,034 %), Arcopagia crassa (0,017 %), Chamelia gallina (0,017 %), Gari fervensis (0,017 %), Gibbomodiola adriática (0,068 %), Modiolus modiolus (0,017 %), Musculus discors (0,017 %), Parvicardium pinnulatum (0,034 %), Polititapes rhomboides (0,017 %), Ruditapes sp. (0,017 %), Spisula solida (0,034 %), Venerupis senegalensis (0,051 %). O número de indivíduos das espécies de ostra (Crassostrea angulata, C_ang (círculo azul) e Ostrea stentina, O_ste (triângulo laranja)) referem-se ao eixo do lado direito do gráfico. As barras das estações 11 e 31 foram interrompidas para que fosse possível visualizar as restantes, o valor da contagem da espécie que foi interrompida está na extremidade superior da barra.
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