Categorias
Artes de pesca

Arte Xávega em Portugal

Arte Xávega em Portugal

Uma arte secular em decadência
Organização, caracterização e declínio

Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Licenciatura em Arqueologia 
Unidade Curricular de Arqueologia Moderna e Contemporânea II 
Ano Lectivo 2010/2011 

Docente: Dr. Teresa Soeiro
Discente: Maria João Marques
Arqueologia Moderna e Contemporânea II Arte Xávega em Portugal

Praia de Mira – Barco S. José pertencente à primeira companha a Norte da Praia de Mira 
(Fotografia: Maria João Marques) 

Todas as povoações de pescadores que conheço estão arruinadas. Façamos as contas: os de Valbom, mortos; os de Esposende, mortos; mortos os da Foz; os de Mira com quatro companhas em vez de quinze, e os da Póvoa, que perderam todos os seus costumes, arruinados e fugindo para o Brasil e para a África. E por toda a costa portuguesa a pesca rareia. Como temos o condão de estragar tudo, empobrecemos as populações da beira-mar, para enriquecer meia dúzia de felizes. Cultivar o mar é uma coisa – é ofício de pescadores; explorar o mar é outra coisa – é ofício de industriais. 

Raul Brandão, Os Pescadores 

Conteúdo 
Introdução 4 
Contexto da actividade pesqueira em Portugal 5 
A xávega na actualidade – definição e limitações legais 18 
A organização das pescas 20 
As companhas, a pesca e as remunerações 20 
A comercialização 24 
Palheiros de Mira – dimensão envolvente e dinâmica 26 
As construções de madeira no Litoral  26 
Origem e evolução da povoação 31 
Fisionomia da povoação 35 A população 39 
A pesca e os pescadores  40 Vida rural  44 
O plano de urbanização: destino do aglomerado  48 Conseguirá a arte xávega sobreviver? 49 
Estratégias de sobrevivência  51 
Praia de Mira – Trabalho de campo  53 
À conversa com os pescadores: Américo Domingos, Chico da Boina e Manuel João  57 
Conclusão  60 
Bibliografia  63 

Introdução 

O presente trabalho visa abordar o estudo da arte xávega em Portugal, partindo desde as suas origens, traçando a sua evolução ao longo dos tempos, aspectos que dizem respeito às técnicas mas também à própria organização das comunidades piscatórias que se geram em torno desta actividade sazonal. De facto, mais que estudar esta arte como mera actividade económica, é preciso sobretudo analisar as suas implicações sociais e até antropológicas. O desenvolvimento desta actividade levou à criação de comunidades ao longo da costa Litoral Portuguesa, sobretudo na linha da Ria de Aveiro, send o que será alvo de análise a Praia de Mira. Em torno destas teve lugar o desenvolvimento de um pequeno conjunto de actividades, uma vez que os pescadores não podiam viver única e exclusivamente da pesca, destacando-se a agricultura, que era praticada sobretudo pelas mulheres. Isto vai implicar sobretudo questões de divisão territorial e, obviamente, conflitos sociais pela posse das mesmas. 

Para além disto há também um aspecto muito específico, sobretudo observado no caso da Praia de Mira, que é o surgimento de uma arquitectura popular, os conhecidos Palheiros de Mira. Serão aprofundadas todas as questões pertinentes relativas a este tópico, desde o seu aparecimento, a sua evolução e características tipológicas bem como toda a sua envolvente. 

Será aprofundado o exemplo da Praia de Mira e da sua área envolvente, sendo que para o qual foi realizado trabalho de campo lá e que com o contributo de alguns pescadores e moradores de Mira, enriquecerão certamente este trabalho e o estudo da arte xávega em geral e de todas as suas características específicas. 

Contexto da actividade pesqueira em Portugal 

O estudo das pescas enquanto elemento activo da economia de um país ou de uma região pode e deve abarcar áreas definidas, que se complementam culminando numa análise global que comporte os seguintes campos: científico, geográfico, económico, social, comercial e ainda legislativo. 

De facto, a “autonomia geográfica de Portugal é assegurada pelos rios e mar que lhe atribuem características muito próprias e lhe fornecem obviamente o sal e o peixe, produtos que a celebrizam ao longo dos séculos”1. Desde os seus primórdios que a pesca em Portugal foi considerada como “um direito senhorial, exercido pelo rei ou delegado por ele nos titulares e corporações religiosas, que em virtude de favor ou doação régia, ou em resultado de património, faziam da pesca uma espécie de caça reservada em toda a área dos respectivos condados, dioceses, castelos e mosteiros”2, à semelhança da divisão da propriedade rural e urbana que se verificava no continente europeu. 

“Nesse tempo, os pescadores trabalhavam por imposição dos senhores, que se apropriavam do produto da exploração, permitindo-lhes unicamente ficar com uma pequena parte da alimentação diária; em todos os condados, mosteiros, confrarias, etc., havia um certo número de pessoas encarregadas da pesca para a comunidade, e com penas graves, quando não apresentavam provisão suficiente, a ponto de, com frequência, serem açoitados em público, nas prisões ou nas esplanadas dos castelos, por denúncia e convencimento do desencaminho da pescaria”3. 

Em Portugal, o mar era considerado da propriedade e gestão do Estado, embora os direitos de uso nem sempre estivessem cabalmente definidos. Desde as Ordenações Afonsinas até ao Código de 1867, pouco se altera na sua natureza jurídica. As Ordenações do Reino 4 teriam escolhido do Direito Romano a ideia de que as águas marítimas e fluviais eram da Coroa e que os senhorios só teriam direito a dispô-las por expressa doação régia. 

Neste quadro senhorial foram-se consolidando finas camadas sociais que se interpõem sucessivamente entre o pescador, o verdadeiro agente interventor no trabalho e o rei. Figuras ligadas à cobrança de direitos senhoriais e régios tendem a agir e a impor-se, ao longo do tempo, na gestão pesqueira. A excepção deu-se com a criação da Companhia Geral das Reaes Pescarias do Algarve, organizada pela Monarquia em 1773  5. Inscreve-se no modelo geral de formação das companhias privilegiadas que serviram como instrumento de actuação política e económica. 

Ultrapassando esta fase, “a pesca transforma-se em actividade produtiva de extrema importância no sector primário português”6. Este lapso de tempo foi caracterizado pelo “exercício da pesca costeira e do alto com o emprego de “artes” e “aparelhos” rudimentares de reduzida capacidade, constituindo pequenas explorações de iniciativa individual ou de pequenos grupos, organizados em parceria”7. Ao longo deste período não se notam diferenças significativas no apetrechamento da indústria da pesca nos vários pontos do país. “As “artes” e “aparelhos” usados são idênticos desde o Minho ao Algarve, variando apenas o tipo de barcos, conforme as características de cada porto”8. 

1 QUINTAS, Maria da Conceição – O Aglomerado urbano de Setúbal: Crescimento Económico, Contexto Social e Cultura Operária 1880-1930. Coimbra, 1995. P. 68. 
2 SILVA, Baldaque A. A. – Estado actual das pescas em Portugal. Lisboa, Imprensa Nacional, 1891, p. XXIII. 
3 IDEM – ibidem – P. XXV.
4 Séculos XV e XVI.  

5 Alvará de 15/1/1773 in Colecção de leis sobre pesca… 1552 a 1891, 34. 
6 QUINTAS, Maria da Conceição – O Aglomerado urbano de Setúbal: Crescimento Económico, Contexto Social e Cultura Operária 1880-1930. Coimbra, 1995. P. 68. 
7 IDEM – ibidem – p. 68. 
8 ROQUETTE, José Braz – Setúbal e o problema da pesca. Setúbal e os problemas da sua economia, Grémio do Comércio de Setúbal, 1949, p.18. 

Com o advento do capitalismo, assiste-se a profundas alterações na estrutura económica, que provocam uma ruptura no processo de exploração das espécies que povoam as nossas águas. Dos finais do século XVIII até 1920, ano em que surgem os primeiros “cercos” activados por barcos a vapor, desenvolve-se um segundo período nas fainas marítimas que, embora em permanente evolução, mantém princípios fundamentais inalteráveis”9. Este lapso de tempo é caracterizado pelo advento da grande indústria, mobilizando capitais apreciáveis no lançamento de “armações à valenciana”, apetrechamento de “cercos americanos”e barcos de arrasto de propulsão mecânica, factos que provocaram o desenvolvimento gradual da pesca costeira e, obviamente uma desvalorização da prática da arte xávega. 

Por outro lado, do ponto de vista social, à luz da própria sociedade rural que adquire um rosto diferente em função do espaço envolvente e das actividades económicas que podem contagiar esse meio, também as comunidades piscatórias variam a sua fisionomia em função dos mesmos vectores. 

Por princípio a adopção de determinada tecnologia piscatória10 deveria conduzir a uma maior extracção de pescado, reduzindo os custos de exploração e aumentando as taxas de captura, traduzidas num aumento da produtividade. Este foi um objectivo perseguido ao longo do tempo, implicando invenções ou inovações, mesmo transferências tecnológicas. De facto, as alterações e implementações tecnológicas sucederam-se. A pesca à linha era método antiquíssimo e generalizado que manteve primazia incontestada até ser suplantada pelas redes de emalhar, cerco e arrasto. O espinel era uma linha de muitos anzóis, técnica que, até aos finais do séc. XVII, não seria lançada longe da costa. A introdução das redes de cerco móvel11 constituiu um salto qualitativo fundamental. A estas redes juntam-se os pescadores das artes do chinchorro e da xávega que serão abordadas de seguida. Assim, deduz-se que, ao longo da época moderna, a eficiência de determinada tecnologia piscatória era medida pelo aumento das taxas de captura, devida à adopção de malhagens mais apertadas, de redes de maiores dimensões ou de ligações entre anzóis. 

Os melhores resultados obtidos apontaram para um novo conceito de tecnologia, muito mais abrangente do que um elenco de processos localizados. Emerge, desta forma, o princípio da eficácia económico-técnica que integra a transformação – conserva – o transporte e a distribuição do pescado. Com todas estas alterações é visível uma grande capacidade de adaptação de modelos técnicos previamente conhecidos e a transferência de práticas conhecidas ora na costa da Catalunha ou Galiza ou Andaluzia, que a legislação adopta ou condena conforme a conjuntura institucional. 

A difusão das técnicas, a transferência de modelos, a gestão do segredo, são factores estruturantes das sociedades piscatórias e a história da técnica de pesca deverá ser encarada, por conseguinte, no contexto das relações entre técnica e sociedade. 

Contudo, o avanço dos processos técnicos12 terá reduzido, a médio prazo, a taxas de captura e o acesso a fundos novos e ricos, em áreas cada vez mais afastadas da costa13, explicando que a produção total se mantivesse, durante anos, à custa do alargamento da pesca a novas regiões e o depauperamento sucessivo dos fundos tradicionais14. No entanto, o avolumar dos níveis de captura contribuiu para uma contradição ao próprio sistema – o avanço tecnológico trouxe consigo, a médio prazo, a redução das taxas de captura, com as inerentes consequências de agravamento dos custos de produção. 

De facto, em última análise devemos realmente ter em conta que o esgotamento dos recursos é factor fundamental para compreender o próprio relacionamento dos pescadores entre se si, tanto mais que, tendo em conta os aspectos apontados, podem surgir graves perturbações sociais se a produção e a produtividade descerem. Neste contexto, as instituições públicas reflectiram, já no século XIX, acerca dos limites de exploração comuns dos recursos, no cruzamento da organização dos serviços de pesca pelo Estado, do crescimento do interesse pelas ciências do mar e do esgotamento dos stocks piscícolas. 

9 IDEM – ibidem – P. 18. 
10 Artes e aparelhos. 
11 Provavelmente oriunda da Galiza na segunda metade do século XVIII. 
12 A sua aceleração processa-se com maior velocidade desde a última década do século XIX, com o aumento da tonelagem de barcos, aumento de dimensões da boca da rede de arrasto, emprego de roletes na tralha inferior da rede o que permite avançar para fundos mais ásperos, cabos ligados à rede, cada vez maiores, a fim de sustentar uma crescente qualidade do peixe.

13 A velocidade permitia rapidamente descarregar o peixe fresco nos portos e a salga e congelação permitam a sua manutenção por mais tempo. 
14 O esgotamento e a redução dos stocks foi percebido, empiricamente, ao longo do tempo, conduzindo à adopção de técnicas menos eficientes mas adequadas aos ecossistemas em causa, aspecto que pelo menos ao longo do século XVIII foi tomando consistência. Esta situação foi equacionada desde meados do século XIX, perante o desgaste alarmante de certos bancos de pesca. 

Arte xávega em Portugal – evolução e particularidades 

A arte xávega, também conhecida como Arte Nova, é basicamente do mesmo tipo de todas as artes envolventes-arrastantes de alar para a praia que, com inúmeras variantes, se encontram em todos os continentes. Na sua forma mais simples, a rede desta arte é constituída por duas mangas15, um saco, onde fica aprisionado o peixe e dois cabos de alagem que se prolongam às mangas. O seu princípio de funcionamento é simples16: uma embarcação larga da praia deixando em terra um dos cabos de alagem e dirige-se para o largo, de forma a envolver uma porção de mar ao mesmo tempo que vai calando o aparelho, primeiro o cabo, depois uma asa, o saco, a segunda asa e o segundo cabo que regressa com a embarcação à praia. Uma vez que o segundo cabo está na praia procede-se à alagem sincronizada dos dois cabos, arrastando assim, a rede até à praia e aprisionando os peixes que se encontram na área envolvida, dirigindo-se para o saco pelas duas compridas asas da rede. 

Esquema da utilização da xávega. (In Henrique Souto – Comunidades de pesca artesanal na costa Portuguesa – Estudo Geográfico). 

Brandt17 e Saharage et al18 referem o uso deste tipo redes desde pelo menos 3.000 a. C. Em várias regiões do Mediterrâneo tendo a sua difusão sido incrementada com o Império Romano. Porém, nenhum dos citados autores consegue porém estabelecer a origem precisa deste tipo de redes, sendo de supor o aparecimento com variantes em diversas áreas do Planeta, uma vez que o seu princípio de utilização é simples e lógico. 

Estas artes apresentam uma limitação: “só podem ser utilizadas em áreas onde os fundos marinhos sejam arenosos e onde existam praias que permitam as manobras da embarcação e das redes”19. Em Portugal existiram ou ainda são utilizadas redes envolventes arrastantes de diversos tipos e com várias designações e objectivos, de que são exemplos: as bargas20, as varinas21, as chinchas, os chinchorros, as pimpoeiras, as escaleiras, os rapões, as chamadas artes de arrasto, as xávegas, as murgeiras, as solheiras, não os tresmalhos que hoje existem com esta designação mas uma rede sem saco mas com um seio ao centro das asas e que era utilizada no Algarve, de acordo com a nota de Badalque da Silva22, as redes-pé, etc. 

17 1984. 
18 1992. 
19 SOUTO, Henrique – Comunidade de Pesca Artesanal na Costa Portuguesa – Estudo Geográfico. Lisboa, 1998. p. 134.
20 Utilizadas outrora para a captura do sável nos estuários e rios. 
21 Utilizadas até meados do presente século para captura do sável no rio Tejo. 
22 1891 

Praia de Mira – Auxílio do tractor em substituição dos bois, para trazer para a costa o barco e a rede (Fotografia: Maria João Marques) 

Barco de mar ou meia-lua actual. Desenho fornecido pelo construtor naval (In Henrique Souto – Comunidades de pesca artesanal na costa Portuguesa – Estudo Geográfico). 

Devido à dimensão do aparelho de pesca, a embarcação especificamente utilizada com esta arte deve possuir espaço interior suficiente para transportar as longas redes sendo ainda, caracteristicamente, de popa e proa anormalmente elevadas, para mais facilmente vencer a rebentação quando entra no mar”23. 

A arte xávega de hoje se utiliza em praias arenosas portuguesas terá sido introduzida no país em meados do século XVIII, quando a proibição da pesca do arrasto para a praia na Catalunha dispersou os pescadores para Rosilão, Languedoc, Galiza, Andaluzia e Portugal”24. 

Assim introduzidas no Algarve, por andaluzes e catalães, que se estabeleceram em Monte Gordo, começa a haver noticias deste tipo de artes em Buarcos25 e em Ovar26, levando a crer que terão sido introduzidas nesta por João Pedro Mijoule27, um francês que aqui se fixou trazendo consigo alguns catalães instruídos na sua utilização. Muitos autores pretendem fazer coincidir com a data da chegada deste francês e dos catalães que o acompanharam, o inicio desta arte de pesca de arrasto, na costa. Porém, contra esta hipótese, a referência nos livros de notariado de Aveiro de onde se pode inferir, sem margem para qualquer dúvida, que em 1751, 1764 e 1765 haveria já diversas companhas a pescar na costa, é elucidativa de todo. 

Já no Século XV o Infante D. Henrique cobrava tributo sobre as “enxávegas” que vinham de Castela. Da Catalunha provinha a designação de ”xabega”, com acentuação no E. Esta designação é ainda hoje corrente nos pescadores antigos quando nos chamam a atenção de que não é “xávega”, mas sim “chabéga” que se deve pronunciar. 

As características da costa portuguesa não contemplam elementos favoráveis ao estabelecimento de armações fixas, impedindo que os pescadores estendessem a sua pescaria a grande distância da costa pelas seguintes razões: 

O litoral é uma linha rectilínea e arenosa, sem grandes pontos de orientação, de tardio povoamento; 

Junto ao litoral não se abrigam espécies sedentárias; 

O fundo do mar é de areia limpa – não atractiva para uma fauna rica e variada – e em ligeiro declive, até 15km de distância da costa, onde as sondagens apenas atingem os 50 metros de profundidade; 

Inexistência de porto de abrigo essenciais para os pescadores se aventurarem no alto mar 28. 

Assim, não admira que a pesca fosse uma aventura árdua e de alto risco humano e material. Só restando, por isso, uma exploração costeira de espécies nómadas, restringindo-se a processos de captura muito especiais, visto que nem os barcos podem ter um largo campo de acção, nem as armações fixas são aqui susceptíveis de emprego, nem tão pouco a riqueza piscícola da costa dá ensejo a mais arrojadas tentativas de outro género – a sardinha é, assim o grande manancial. “Desova em Dezembro, Janeiro e Fevereiro, procurando lugares arenosos e pouco profundos da costa, movimentando-se de Inverno, de Norte para Sul, e de Verão, de Sul para Norte; a Primavera e Outono pairando do mar para terra e vice-versa”29. 

De facto, estas “artes novas” variam em relação às anteriores pelas suas dimensões que são, necessariamente, superiores. Porém, a variação de elementos que a compunham era frequente, dependendo do tamanho da embarcação e da própria rede. 

Esta técnica, segundo Inês Amorim, pode ter sido introduzida, aproximadamente pela mesma altura a Galiza, por três razões: 

Porque é bem provável que a semelhança com as redes de arrasto, existentes na costa, entre as quais se conta o chinchorro, fosse favorável à introdução da xávega30. Aliás, Lacerda Lobo, refere as redes de arrastar “chamadas em uns lugares xávegas em outros artes, nas quais a demasiada pequenez da sua malha é a causa de com elas se pescar a sardinha” e acrescenta num documento de 1542, impedindo a utilização de “xávegas”, que provaria a sua ancestral implantação em Portugal31. Na costa de Aveiro existem indicações da utilização de chinchorro em Esmoriz e Cortegaça e de redes de arrasto, sem especificar quais, em Ovar, nas MP de 1758. O objectivo das redes de arrasto ou varredouras é cerrar e alar para terra o peixe, sendo semelhantes à xavega. 

Eram constituídas por uma parte principal, saco, designado por “bocada”, de extremidades, “calões”, atados a cabos, “calas”; as partes da rede compreendidas entre a “bocada” e os “calões” têm o nome de “mangas”; as variantes entre as diversas redes deste género, estão no seu comprimento e, naturalmente, no número de braços humanos necessários no arrasto. O quadro seguinte mostra a estrutura das redes de arrasto ou “varredouras”.

24 CAVACO, Carmina – O Algarve Oriental. As vilas, o campo, o mar. 2 Volumes., Gab. Plan. Reg. Algarve, Faro. P. 496. 
25 Em 1750. 
26 Em 1776. 
27 Prático, conhecedor de uma técnica apurada que permitia conservar os excedentes capturados por períodos longos de semanas, e até, meses, Mijoulle virá a ser nomeado Vice-cônsul Francês no porto de Aveiro, chegando a ser «recomendado» pelo Poder Central junto da Vereação de Aveiro, sendo louvado por Pina Manique que afirma recomendar o francês pela “pronta extracção das pescarias que muitas vezes se perdia pelas praias por falta de compradores. 

28 AFREIXO, Jayme: Pescas nacionais – a região de Aveiro. P. 102 e 103. 
29 SILVA, A. A. Baldaque da: Estado actual das pescas. Lisboa, Imprensa Nacional, 1982, p. 103 
30 LOPES, Ana Maria Simões da Silva – o vocabulário português, p. 237 e 245, afirma que a precursora da arte xávega foi, em Sesimbra, o chinchorro, sendo esta largamente utilizada na ria de Aveiro, estabelecendo ligação aos fluxos migratórios. Considera que o espaço onde se usava a verdadeira arte xávega em Mira Sep. Actas do Congresso Internacional de Etnografia, v. 5, Lisboa, Junta de Investigação do Ultramar, 1965, p. 2, refere que o principal tipo de pesca utilizado nesta costa de Mira era a xávega, que substituiu, há muito, os chinchorros “já usados por ali, no século XVII” 
31 LOBO, Constantino Lacerda – Memória sobre a decadência das pescarias em Portugal. p. 283-284. 

Rede de arrasto da companha “Alexandre Vieira” – Praia de Mira (Fotografia: Maria João Marques) 

A manobra destas redes faz-se deixando, em terra, um extremos de uma das calas, o reçoeiro, e indo a bateira, ao largo, fazer o lance, trazendo depois o extremo da outra cala, a “mão-de-barra”, para a mesma praia. A gente da companha vai juntando-as, pouco a pouco, à medida que a rede vem vindo, e quando as mangas começam a sair e a pescaria tem entrado já para o saco unem-nas, completamente, e assim prosseguem na faina até o saco ficar em seco; 

A segunda razão prende-se com a forma como se introduziram as novas técnicas de pesca na Galiza. O reinado de Filipe II foi o período de maior esplendor pesqueiro na sardinha da Galiza. Acerca desta intensa actividade estacional os contemporâneos deram a notícia: abundância do recurso, valor da sua comercialização e processos de organização na sua extracção. A comprová-lo está a saída de sardinha proveniente da Galiza para Portugal e mesmo para a costa da Catalunha. Logo, os catalães quando chegam à Galiza, sabem bem da riqueza deste pescado e, após terem tentado implementar as suas novas artes da pesca “xávega”, mais rentável, as novas formas de salga da sardinha e a organização gremial diferenciada 32. 

Quando os Catalães chegaram à Galiza sabiam, porém, da relação ancestral dos galegos com a costa de Aveiro, perfeitos conhecedores e transportadores, ao longo dos séculos XVII e primeiro quartel do século XVIII, do sal das marinhas de Aveiro para Vigo, Pontevedra, Grove, etc33. Após a Restauração da Independência de Portugal em 1640, um anónimo de Aveiro refere-se ao perigo duma invasão, por ser de tanta importância ao inimigo por respeito do sal que padecem a Galiza, Biscaia, Astúrias e o Reino de Leão, que por falta de não terem sal poderão cometer a Vila que tão descuidada está; “e se o inimigo entrar na Vila lhe pode vir socorro por mar todos os dias da Galiza, Biscaia, e os galegos e biscainhos e asturianos sabem muito bem a Barra e de Verão entram com seus navios e pinaças e lanchas sem haverem mister de Piloto”34; 

A última razão baseia-se numa multiplicação de contratos – datados de 1751 – na vila de Ovar e de Aveiro, que reúnem um conjunto de expressões indicadoras da novidade, tais como: uma “rede nova chamada arte com o título de…”; ou “queirão fazer hua nova arte”, que “dependia de gastos”, contratando-se as várias redes, com um “mestre das redes chamadas artes” para “os emsignar dentro dos tres annos de tudo o que nessesario for pertensente a dita rede chamada arte e a lhes declara todo o segredo que tiver e for preciso para a dita rede haver de pescar”35.  

Relação entre núcleos piscatórios da Costa de Aveiro e Núcleos Litorais no Norte de Espanha (In Inês Amorim – Relações de trabalho e gestão pesqueira nos séculos XVIII e XIX – A pesca da xávega na praia do Furadouro (Costa de Aveiro) 

32 Vid. ROBERTO FERNÁNDEZ (ed) – España en el siglo XVIII. Homenaje a Pierre Vilar, Barcelona. Ed. Crítica, 1987, p. 487-489. 
33 AMORIM, Inês – O comércio de sal de Aveiro até meados do século XVII – relações comerciais com o Norte da Europa e Galiza. Boletim Cultural da Câmara Municipal de Aveiro. Aveiro, nº 17, 1991, p. 9-15. 
34 BAJ, 51-IX-7 (211) – Representação da Guerra – 1640.
35 ABA-SN-Ovar, nº 332. 

Mesmo que esta hipótese não se confirme, o facto de as xávegas poderem ter sido introduzidas na costa de Aveiro por volta do ano 1751/52, persiste a certeza de que o francês Mijoule já se encontrava, em Novembro de 1771, contratado com pescadores de Esgueira, núcleo vizinho a Aveiro. 

 De facto, estas artes foram as homónimas das precursoras das artes actuais. Aliás, “o verdadeiro precursor da arte xávega foi o chinchorro, que só terá aparecido no século XVI, entre a foz do Douro e a Caparica. Pelas suas grandes dimensões, a introdução do grande chinchorro só foi possível em associação com um novo tipo de embarcação: o Meia-lua, saveiro ou barco do mar. Estes, apresentam uma proa arrogante, altiva, muito elevada, como a desafiar o mar, quando varados na quietude da praia, e uma popa com uma elevação fora do usual”36. 

Há casos em que os grandes chinchorros coexistiram com as xávegas modernas. Mas, por outro lado, os chinchorros terão sido os principais responsáveis pelo povoamento dos areais da costa centro portuguesa, correspondendo à procura de novos lugares para pescar pelas populações da área lagunar de Aveiro, num movimento que parece ter sido gradual e paralelo. Assim, os pescadores de Ovar terão sido os responsáveis pelo povoamento e desenvolvimento da pesca desde o Furadouro até Espinho; os da Murtosa pelo povoamento de todo o areal entre a Torreira e S. Jacinto e os de Ílhavo pela área da Costa Nova do Prado até à Praia de Mira – será abordado mais frente a questão do povoamento da costa litoral. 

Em 1906 dá-se uma importante inovação: a pesca que até então era executada com o auxílio de duas embarcações passa a utilizar uma única, de maior dimensão, o que lhe permite levar todo o aparelho: os novos xávegas apresentam-se com maior envergadura, vão a distâncias maiores da costa, têm 2 ou 4 remos e uma tripulação que oscila entre 36 a 46 homens, conforme, repartidos pelos remos do barco. Esta modificação veio generalizar-se por todas as praias. No Furadouro, mantiveram-se a pescar anualmente uma ou duas xávegas até 1967. Porém, nos anos de 1968, 1969, 1972 e 1973 nenhuma companha trabalhou confirmando, assim, as informações de outras praias de que as décadas de 1960 e 1970 foram aquelas em que se verificou maior crise neste tipo de pesca, provavelmente por falta de mão-de-obra, marcando o fim do período das grandes xávegas, processo que ocorreu por essa época em todas as praias. 

Esse período corresponde à redução na dimensão das embarcações e das redes, que mais não foi do que um ajuste a essa falta de pescadores. A década de 1980 parece ter feito renascer esta arte, em parte graças à crise da pesca longínqua, e armaram-se novas companhas. No Furadouro, por exemplo, trabalharam quatro 1981 e 1982 parecendo ter sido o ressurgimento deste tipo de pesca. 

A adesão à Comunidade Económica Europeia e as decorrentes alterações legislativas vieram limitar a possível expansão desta arte, que só foi regulamentada em 199637. O número 1 do artigo 10º refere: “não são concedidas novas autorizações nem licenciamento inicial para o exercício da pesca com xávega”. Neste contexto legal não se assistirá ao desenvolvimento da pesca com este tipo de arte, mas apenas a eventuais rearranjos das embarcações existentes, nomeadamente com mudanças da propriedade e do local onde trabalham. Assim, esta portaria, ansiosamente esperada pelos pescadores, mais não é do que a “morte anunciada” da pesca com arte da xávega em Portugal.

36 SOUTO, Henrique – Comunidades de pesca artesanal na costa Portuguesa – Estudo Geográfico. Lisboa, 1998. P. 136. 
37 Portaria nº 488/96, 13 de Setembro 

A xávega na actualidade – definição e limitações legais 

A portaria referida no ponto anterior define arte de xávega como uma rede envolvente de alar para a praia manobrada por uma embarcação: a alagem da rede pode ser efectuada mecanicamente, com tracção animal ou com força braçal humana.

Os comprimentos máximos admitidos para o aparelho são de 3000m para os cabos de alagem, 380 para as mangas e 50 para o saco. O vazio da malha não pode ser inferior a 20mm no saco, menor do que 120mm junto à boca do saco e de 500mm junto às calas. Uma vez que se trata de uma actividade que ocupa importante parte das praias, também o seu uso em limitações temporais e materiais: não pode ser exercida durante a época balnear, em áreas concessionadas e aos fins da semana e feriados, entre as 10:30h e as 18:30h; o uso de tractores está limitado a 3 embarcações, podendo apenas movimentar-se nos locais determinados pelas autoridades no inicio de cada safra. Deverá também ser considerado o artigo 6º da Portaria que determina que quando predominem espécies subdimensionadas nas capturas de um lanço a actividade deverá ser interrompida até ao virar da maré. 

Elementos da rede de arrasto, usada na arte xávega. 

Distribuição das companhas de artes de arrasto/xávegas em 1885/86 e em 1997 (In Henrique Souto – Comunidades de pesca artesanal na costa Portuguesa – Estudo Geográfico) 

Em 1997 trabalharam em Portugal cerca de 60 embarcações com arte de xávega, distribuídas por dois sectores da costa: o primeiro englobando a costa da Caparica, a Fonte da Telha e a Praia do Meco, o segundo entre Espinho e a Praia da Vieira. Se comparada com a situação encontrada por Baldaque da Silva, verifica-se o desaparecimento total desta arte da costa Algarvia. Embora o Algarve tenha sido uma das áreas de introdução da xávega em Portugal, também o seu desaparecimento foi aí mais rápido, de tal forma que hoje quando questionados sobre esta arte a maioria dos pescadores não a conhece ou apenas como sendo aquela rede que usam no Norte e que alam para a praia com bois. No entanto, ainda no ano de 1996 houve duas matrículas de xávegas no Algarve. 

A organização das pescas 

As companhas, a pesca e as remunerações 

A pesca com xávega é, na actualidade, executada em moldes completamente distintos dos praticados até ao fim dos anos 1980, época em que se começou a generalizar a motorização das embarcações e a alagem das redes com o auxílio de aladores acoplados e tractores. Toda a enorme massa humana, característica até então deste tipo de pesca, e descrita pormenorizadamente por diversos autores, encontra-se hoje reduzida, em média a 12 pescadores”38. Actualmente apenas 3 pescadores são suficientes para manobrar e calar o aparelho: o arrais do mar e o calador39. A maioria do trabalho é executado em terra na preparação do aparelho para o lanço seguinte e, sobretudo, na separação do peixe para a venda. 

Por norma, mal a embarcação vara na praia após ter feito um lanço, e enquanto os tractores procedem à alagem do aparelho, é colocada nova rede no barco – cada companha utiliza duas redes -, ficando este ponto para o lanço imediato”40. Esta tarefa é obviamente da responsabilidade do pessoal de terra, que inclui o arrais de terra, o leiloeiro – ou contabilista – e os camaradas. 

Cada lanço da xávega, embora variável, demora entre 3 a 4 horas, desde a entrada da embarcação no mar até à colocação do peixe à venda, assim repartidas: entre 30 a 40 minutos para efectuar o cerco; entre 1:30h e 1:45h para alar o aparelho e ainda entre 1:30h e 2h para separação do peixe. Por norma, se o mar for favorável, se se estiver a vender bem, podem fazer-se 5 ou 6 lanços por dia. 

Ainda que apresente variações, o sistema de partes praticado destina habitualmente entre 40 a 50% do produto para o armador41 atribuindo-se em regra duas para os arais, duas partes ou parte e meia para o pessoal com tarefas mais importantes abaixo dos arrais e uma parte a cada camarada. 

Manobra de alagem da corda da rede – Praia de Mira (Fotografia : Maria João Marques) 

Preparação de um novo lanço – Praia de Mira (Fotografia: Maria João Marques) 

Uma vez que “a companha varia em número de pessoal durante o decorrer da safra, a parte que cabe a dada um será tanto maior quanto menor for a companha, já que o produto é dividido em menos partes”42 – neste caso o maior ganho corresponde a mais trabalho, o que é justo e lógico. No entanto, geralmente a propriedade das embarcações assenta em sociedades de vários sócios que, ainda assim, argumentam que aquilo que ganham não chega para as despesas de combustível e de manutenção. 

Assim, o número reduzido de homens que hoje integram uma companha de xávega não é apenas o resultado da mecanização das tarefas, nem a consequência da falta de pessoal mas sim devido aos poucos ganhos desta arte, levando os pescadores a procurar pescas mais remuneradoras, normalmente nos principais portos da área da xávega. Nesta arte, os níveis de remuneração do pessoal são muito baixos e não permitem a sobrevivência sem uma fonte de rendimentos complementar para o pescador. 

Por exemplo, os arrais do mar de uma companha da xávega da área da laguna de Aveiro que participou em todos os lanços da safra ganhou e 1995 cerca de 2250 euros. No entanto, dada a variabilidade da pesca de ano para ano, estes valores podem variar muito. Uma vez que esta arte só é praticável durante cerca de 5 meses do ano, gira em torno desta arte uma “nebulosa” de reformados, que acrescentam um pequeno complemento às reformas, geralmente muito baixas ou ainda pescadores que não conseguem sair do pequeno horizonte da pesca na praia, migrando para pescarias mais estáveis e remuneradoras. Por outro lado, a actividade de uma companha depende da audácia do respectivo arrais, das previsíveis vendas ou mesmo da robustez da embarcação, explicando que umas companhas pesquem e outras não. 

38SOUTO, Henrique – Comunidades de pesca artesanal na costa Portuguesa – Estudo Geográfico. Lisboa, 1998. P. 155. 
39 Estava encarregado da “arrumação dos aparelhos na ré do barco”, com o auxílio de algumas ajudantes em terra ou então por alguns remadores que lhe passavam a corda da areia para o interior do barco. Era um trabalho muito especial, tendo em conta que se tratava de organizar cordas com o comprimento de 8km ou mais, e acomodar uma rede que media cerca de 270 metros do extremo do saco às pontas das mangas. 

40 IDEM – ibidem – p. 157. É preciso considerar que antes de colocar o aparelho na embarcação este deve estar seco e limpo de areias, caso contrário o seu peso aumenta consideravelmente tornando a navegação mais difícil.
41 O armamento de uma companha de xávega exige, obviamente, um considerável investimento, já que é preciso adquirir a embarcação e os aparelhos, os tractores e os aladores. Em alguns casos, porém, o armador é simultaneamente agricultor, o que lhe permite utilizar os tractores em complementaridade na pesca e na agricultura. 
42 IDEM – ibidem – p. 158. 

 

Comparação dos perfis e das dimensões de embarcações representativas das utilizadas com a arte da xávega (sendo tab = toneladas de arqueação bruta; CS = comprimento de sinal) (In Henrique Souto – Comunidades de pesca artesanal na costa Portuguesa – Estudo Geográfico) 

Comparação da variação diária do número de lanços de duas companhas da Praia de Esmoriz e de duas companhas da Praia de Mira durante o mês de Agosto de 1997. (In Henrique Souto – Comunidades de pesca artesanal na costa Portuguesa – Estudo Geográfico) 

“Ligações familiaress” de um arrais de xávega da Praia de Esmoriz – informação recolhida em 1997. (In Henrique Souto – Comunidades de pesca artesanal na costa Portuguesa – Estudo Geográfico) 

A comercialização 

Em todas as actividades produtivas o processo de comercialização do produto é sempre determinante para o sucesso ou não da actividade. Na pesca da xávega, o pescado é comercializado pelo tradicional processo de venda em leilão, mas com algumas diferenças de praia para praia. Actualmente distinguem-se duas situações: praias “sem posto de vantagens” e praias onde existem os referidos “postos”. No primeiro caso incluem-se todas as comunidades entre a Praia de Vieira e a Praia da Tocha e ainda Espinho; já no segundo caso integram-se as comunidades entre a Praia de Mira e a Praia de Esmoriz”43. 

Nas comunidades a sul da Praia de Mira a venda do peixe faz-se ainda na praia por processos tradicionais: o pescado é separado por montes e vendido ali mesmo, geralmente as peixeiras tradicionais que o revendem na própria localidade ou nas aldeias próximas. Nos meses de maior afluência de banhistas, o consumo é efectuado maioritariamente por estes. 

A Norte da Praia de Mira, incluindo esta, todas as praias têm um “posto de vendagem” no local ou próximo de onde pescam. Estes postos só foram implementados a partir de 1996 e são constituídos por pequenas construções de madeira, em cujo exterior se procede á venda do pescado ou por edifícios em alvenaria com espaço interior para vendagem. O funcionamento destas estruturas é garantido por um comissionista44, responsável do posto e pelo cumprimento das normas legais associadas à primeira venda de peixe. 

O papel deste elemento termina aqui pois a venda é feita pelos leiloeiros de cada companha nos moldes tradicionais, ou seja, por leilão. Pode decorrer em lances decrescentes como crescente, dependendo do número de compradores. Nas comunidades onde existe mais quantidade de pescado devido ao maior número de companhas a trabalhar, o movimento nos postos de vendagem é, nos melhores dias, considerável e atrai um grande número de compradores. 

Por exemplo, o posto da Praia de Mira, o mais concorrido de todos, acorrem, em média, mais de 30 compradores considerados “grandes”. Além destes, também ali compram inúmeras peixeiras locais, sobretudo que revendem nas proximidades, sendo também possível a presença de representantes locais de grandes empresas. 

Todavia, grande número de compradores não significa melhores vendas já que os grandes compradores, pelo seu maior poder de compra e venda, arrebatam entre eles o essencial do peixe em lota e dada a sua capacidade de distribuição, não “saturam”. São compras destinadas à indústria conserveira (cavala) ou a consumo em fresco (carapau)”45. Por seu lado, o pequeno comerciante que se contentaria com a compra de um ou dois cabazes de carapau, para o que eventualmente estaria disposto a pagar mais por quilo, fica excluído já que não tem interesse em comprar de uma só vez 300 quilos não tendo capacidade para o conservar. Ou seja, o pequeno comerciante só compra o que os maiores não querem comprar. 

43  SOUTO, Henrique – Comunidades de pesca artesanal na costa Portuguesa – Estudo Geográfico. Lisboa, 1998. P. 164. 
44 Percebe 1% das vendas efectuadas e de uma forma geral é natural da localidade onde está implantado o posto e também pescador – neste caso não pescando simultaneamente – ou mesmo sócio de uma companha. 
45 IDEM – ibidem – pág. 165. 

Venda de peixe na Praia de Mira (Fotografia – Maria João Marques) 

Postos de vendagem e armazenagem na Praia de Mira (Fotografia – Maria João Marques) 

Palheiros de Mira – dimensão envolvente e dinâmica 

As construções de madeira no Litoral 

Estes aglomerados populacionais formaram-se inicialmente com pescadores, sendo que darei mais ênfase aos Palheiros de Mira, uma vez que os mesmos, bem como a sua área envolvente são alvo de estudo – teórico e prático – para a realização deste mesmo trabalho. Obviamente que para além destes existem outros aglomerados, dos quais são exemplo: Praia da Vagueira, Palheiros da Tocha, Palheiros de Quiaios, Costa de Lavos, Praia de Vieira. Em todos estes lugares era a barraca de madeira, até há relativamente poucos anos, a única casa utilizada. O material usado na cobertura era, geralmente, o estormo ou estorno, gramínea que se encontra em abundância nas areias do litoral. Em áreas desprovidas de agricultura não seria fácil obter o colmo dos cereais, sendo que daqui provem o nome de palheiros. Rocha Peixoto46 em 1898 aponta como lugares de predominância de casas de madeira, neste litoral, Cortegaça, Furadouro, Torreira, São Jacinto e Tocha; afirmando ainda que no litoral estremenho e algarvio numerosas povoações de pescadores eram formadas quase só por casa de madeira. De facto, actualmente, no Algarve e na Estremadura são hoje raras estas construções e desapareceram sem deixar vestígios em praias importantes como Ericeira, Pedrógão, São Pedro de Muel.

Ainda em 1823 ou 1824 o rei se hospedou, na Costa da Caparica, na única casa de cantaria existente47. “Há cinquenta anos este aspecto mantinha-se; a única casa mista de cantaria e madeira era uma taberna, pertencente a uma família que ainda explora uma casa de comes e bebes”48. É mais uma prova do progresso rápido dos lugares de banho de mar que, segundo J. Leite de Vasconcelos, “não começaria além do século XIX, ou datará do primeiro quartel do mesmo”49. Os palheiros subsistiram mais tempo na Fonte da Telha, “lugarejo de pescadores à beira-mar, quase totalmente formado por estas primitivas edificações”50 ainda em 1934, apesar de estar apenas 9km a sul da Costa da Caparica. 

No Algarve, o melhor exemplo deste tipo de povoações é o arraial da ilha da Culatra, no cabo de Santa Maria, onde se dispõem quase sem ordem poucas dezenas de casinhas de tábuas, justapostas verticalmente, assentes na areia e cobertas de estormo – barrão 51. 

46 PEIXOTO, Rocha – Palheiros do Litoral. In Portugália, vol. I. P. 79-96. 
47 LEAL, Pinho – Portugal Antigo e Moderno, vol. II, p. 98. 
48 BRITO, Raquel Soeiro de – Palheiros de Mira – Formação e declínio de um aglomerado de pescadores. Lisboa, 1960. P. 23. 
49 Etnografia Portuguesa, vol. II, Lisboa, p. 562. 
50 RIBEIRO, Orlando – A Arrábida. Esboço Geográfico. Lisboa, 1935, p. 83. 
51 Ultimamente foi proibida a apanha desta gramínea, razão pela qual algumas casas já estão total ou parcialmente cobertas de telha. 
52 É ainda Rocha Peixoto que conta ser usual destelharem os palheiros para mais facilmente os transportarem, sobre toros, para fora do ímpeto das marés vivas. 
53 Até 1959 todas as casas eram de madeira, excepto o posto da Guarda Fiscal. Neste ano constituíram-se quatro de cimento, logo à entrada da povoação; e, noutras, de madeira, a escadinha exterior já foi também substituída por outra de cimento. 
54 BRITO, Raquel Soeiro de – Palheiros de Mira – Formação e declínio de um aglomerado de pescadores. Lisboa, 1960. P. 23. 
55 VASCONCELLOS, José Leite de – História do Museu Etnológico Português (1893-1914). Lisboa, 1915. P. 57. 

Palheiro em que o espaço entre as estacas foi aproveitado para guarda de produtos (In Raquel Soeiro de Brito – Palheiros de Mira) 

As casas de gente abastada são sempre pintadas de cor escura, com as ripas brancas (In Raquel Soeiro de Brito – Palheiros de Mira) 

Palheiro de Mira, com forno ressaltado no primeiro andar (In Raquel Soeiro de Brito – Palheiros de Mira) 

Palheiro de Mira (Fotografia – Maria João Marques) 

Palheiro de Mira (Fotografia – Maria João Marques) 

Lugares que contribuíram para a formação e desenvolvimento dos aglomerados (In Raquel Soeiro de Brito – Palheiros de Mira) 

Origem e evolução da povoação 

Até ao começo do século XIX, os areais da beira-mar, cobertos de vegetação rala, permaneceram despovoados. Com o incremento demográfico, característico deste século, elementos da população vindos de vários lugares do interior adaptaram-se a este ambiente, inóspito pelas condições naturais, a que a pesca uma ou outra vez os havido atraído. Raras vezes como aqui é possível seguir a evolução de um lugar habitado desde a chegada dos seus primeiros povoadores”56 

As Memórias Paroquiais do tempo do Marquês de Pombal, de 177457, ainda não se referem à existência de qualquer povoação fixa neste local. Aí se encontra uma relação circunstanciada dos vinte e um lugares que formavam a vila de Mira e seu termo, num total de 679 vizinhos e 2170 pessoas. No entanto, “não há a menor referência a Palheiros de Mira, como lugar de habitação. Mas já aí se diz que a lagoa cria “muito lodo e… moliço de que utilizavam os lavradores… para a cultura de suas terras”. E que ela serve também para caça e pesca”58. 

A notícia mais antiga de Palheiros de Mira encontra-se no volume III da Corografia Moderna do Reino de Portugal, de João Maria Baptista de 1875, que ao referir-se à vila de Mira, diz que está distante 6km do oceano e tem estrada para “palheiros de Mira, na praia do Mar”, lugar cujos habitantes são “quase todos pescadores”. 

Nas primeiras décadas do século XIX começa a praia a ser frequentada temporariamente por pescadores que para aí se deslocam desde o fim da Primavera até meados de Outono, época em que o mar, mais calmo, permite o lançamento de barcos de redes nesta costa desabrigada. Uns anos por outros, quando o bom tempo persistia, a estadia podia prolongar-se um pouco, embora a população continuasse flutuante. 1835 marca o início de nascimentos na Costa do Mar que durante os primeiros onze anos, apenas esporadicamente não ocorrem de Maio a Outubro: 4 num total de 26”59. 

Entre 1845 e 1859 há um período “morto”: apenas se fazem dois registos de nascimentos e as certidões de óbito, entre 1846 e 1856, nem uma só vez registam tal ocorrência em Palheiros de Mira. Este hiato provavelmente equivalerá a falta de peixe, mau tempo, naufrágios que teriam, ocasionalmente afastado os pescadores destas paragens. Os registos parecem mostrar que a população de Palheiros de Mira seria, por vezes, pouco inferior à de qualquer outro lugarejo. Parece poder deduzir-se também que, a partir de 1872, a população já estaria “fixada”, pois o número de nascimentos, além de muito maior que nos primeiros anos de registo, já não indica grandes oscilações anuais e eles ocorrem em qualquer mês do ano. 

Aglomerado de palheiros (In Raquel Soeiro de Brito – Palheiros de Mira) 

56 BRITO, Raquel Soeiro de – Palheiros de Mira – Formação e declínio de um aglomerado de pescadores. Lisboa, 1960. P. 23. 
57 Torre do Tombo, vol. XXIII, p. 973 a 990. 
58 BRITO, Raquel Soeiro de – Palheiros de Mira – Formação e declínio de um aglomerado de pescadores. Lisboa, 1960. P. 23. 
59 IDEM – ibidem – p. 32-33.
60 IDEM – ibidem – p. 36. 

Palheiros de Mira parece ser, por volta de 1860-70, uma povoação fixada sem dúvida com pequeno número de famílias, que se dedicavam principalmente à faina da pesca, embora já preocupadas com a cultura dos campos: pescadores e seareiros – como se lê nos registos. A pesca era exercida pelos homens se bem que as mulheres os ajudassem activamente e houvesse mesmo algumas “pescadoras”. Já o trabalho de campo era feito por mulheres, embora também alguns homens se dediquem. Por esta altura a vida em Palheiros de Mira aparece completamente organizada, de tal modo que já aí residiam também empregados da fiscalização do pescado e negociantes. 

Qual a origem desta população? A resposta vai procurar-se ainda nos registos paroquiais. Durante o período do desenvolvimento da Costa do Mar, entre 1835-1870, Ílhavo vem à cabeça dos lugares que contribuíram para a formação do novo povoado: daqui são provenientes 45 de 150 progenitores; seguindo-se Mira com 21 para 100. Assim, a princípio, a população piscatório de Palheiros de Mira vinha apenas aqui passar a época de pesca e que, seguramente, pelo menos a partir de 1872, estava já fixada”60. 

O “Livros de juramento de louvados para efeito da décima” apresenta elementos relativos ao inicio da fixação da população em Palheiros de Mira: confirmam as deduções anteriores a precisar de uma data que, só por aqueles outros registos não seria

possível determinar. Parece possível indicar-se o ano de 1860 para o começo da fixação da população em Palheiros de Mira, com gente de arredores. Este processo continuou até aos nossos dias. 

O primeiro censo da população em que aparece a praia data de 1911: 50 anos depois da fixação dos primeiros habitantes, 174 fogos e 718 habitantes, sendo que o maior desenvolvimento revela-se no segundo quartel deste século. O censo de 1940 indica 318 fogos e 989 habitantes. 

Palheiros de Mira é bem o tipo de um lugar de origem recente, formado à custa de populações das proximidades, atraídas pelo seu desenvolvimento. O rápido crescimento da população num horizonte de trabalho limitado, cedo conduziu, por sua vez, à emigração estacional ou, por temporadas menos largas, para o Brasil”61. 
61 IDEM

Lugares que contribuíram para o aumento da população de Mira entre 1835 e 1870, sendo que os círculos são proporcionais ao número de povoadores (In Raquel Soeiro de Brito – Palheiros de Mira) 

Lugares que contribuíram para o amento da população de Mira entre 1870 e 1875 (In Raquel Soeiro de Brito – Palheiros de Mira) 

Fisionomia da povoação 

As dunas e a lagoa condicionam a estrutura da povoação: as casas apertam-se de encontro às outras formando estreitas vielas arenosas que descem flancos leste e sul das dunas e acabam por desembocar nas estradas referidas – a de Mira e a florestal. Nos campos da povoação encontram-se casas esparsas: nos prazos novos – os do norte – são sempre curraizinhos para o gado; nos prazos velhos – os do sul -, além daqueles há também casas de habitação. 

A maior originalidade deste aglomerado é a sua arquitectura de madeira que, sem ser exclusiva nesta região completamente desprovida de pedra e com abundância de pinhais, adquire aqui a sua expressão mais pura: as casas chegam a atingir dois e mesmo três andares, possuem dimensões não encontradas noutras praias e formavam a quase totalidade da povoação até há bem pouco tempo; a própria igrejinha, isolada em plena praia ao cimo da estrada de Mira, também é de madeira. O acesso à casa é feito, na maior parte das vezes, por escadas exteriores de madeira; para os andares superiores comunica-se sempre por estreita e íngreme escada interior. Até há pouco tempo até as chaminés eram de madeira: arrancavam a partir de 1,5 a 2 metros do solo, cobertas com folha de zinco, formando ressalto na fachada e acompanhando-a até um pouco acima da cobertura. Só os fogos frequentes motivaram a sua demolição e a construção de chaminés vulgares de zinco ou blocos de cimento”62. 

Se hoje as casas mais ricas têm vidros nas janelas, ainda nas mais pobres se podem ver apenas portadas de madeira, como outrora era usual. Os telhados são sempre de telha portuguesa, de canudo; já hoje não resta nenhuma cobertura de madeira, que era de uso geral ainda há cerca de 50 anos; e das coberturas de estormo com que os primeiros abrigos de pescadores sem dúvida se devem ter protegido, não resta hoje outra memória além do nome dado às construções, o qual originou, por outro lado, uma das designações da povoação: Palheiros. 

Primitivamente as casas assentavam em estacaria, para não oferecerem obstáculo ao caminho das areias, evitando que estas se acumulassem junto delas. Depois, gradualmente, o espaço entre cada uma das estacas foi-se cobrindo com pranchas de madeira; originou-se assim a casa actual, que desce até ao solo, com o rés-do-chão destinado a arrecadação de utensílios de lavoura e de pesca e à guarda de produtos alimentares que, anteriormente, se deixavam numa dependência do andar, obrigada a desocupar pelo aumento da família. 

As casas mais pobres são construídas com tábuas sobrepostas horizontalmente, raras vezes pintadas; as mais abastadas são, quase sempre, pintadas; além disso, ainda por vezes o modo de construção é mais requintado: as tábuas são dispostas verticalmente encostadas umas às outras, com as juntas tapadas com ripas, para dar melhor protecção contra o vento e a chuva. Aquelas são sempre pintadas de cor escura e as ripas são sempre brancas. 

Dois tipos de abegoaria: a de cima, de andar; a de baixo, de rés-do-chão 

Tipos de plantas de casas de palheiros de Mira. A de baixo, à direita, é uma casa moderna, de cimento; esta planta contrasta com as outras pela ordem das divisões (In Raquel Soeiro de Brito – Palheiros de Mira) 

Palheiros de Mira (Fotografia – Maria João Marques) 

A casa primitiva era pequena, rectangular, assentada em estacaria, apenas com uma porta central ou com uma ou duas pequenas janelas. A planta mais simples compreendia uma só divisão, simultaneamente cozinha e quarto de dormir. Quase todas as casas tinham forno de tijolo, onde se cozia uma vez por semana pão de milho que, com as couves, constituía a base da alimentação. O forno assentava numa base de madeira, saliente do primeiro andar. Hoje ainda existem alguns usados para arrecadação. 

Exemplos destas casas elementares são também visíveis em Palheiros de Mira. A partir da planta mais simples, outras se estabeleceram, sucessivamente, mais complexas. A casa rectangular, de dependências alinhadas umas a seguir às outras, é apenas uma consequência do aumento da família na casa de uma só divisão. Podiam ampliar as casas ligando duas ou mais casas ao lado umas das outras por meio de portas ou por passadiços suspensos entre as ruelas. Muitas casas têm pequenos quintais onde as mulheres plantam batatas, cebolas, alhos e couves. Na ausência destes, há sempre um pátio, modelo de sujidade e desalinho onde as galinhas estão. As divisões em si, são limpas e com algum arranjo. O mobiliário é reduzido: mesas, alguns bancos ou cadeiras, arcas para guardar a roupa; camas de ferro ou de madeira, com enxergas; nas habitações mais pobres, às vezes apenas esteiras. Só as casas abastadas ostentam mobílias completas de quadro e sala de jantar. 

A construção de madeira fica hoje muito cara e requer constantes consertos, principalmente nas casas que não são pintadas. Por isso e por um absurdo sentimento de vergonha, começam as construções de cimento a quebrar uma unidade arquitectónica tão atraente e invulgar, que a insipidez da construção moderna está a ponto de fazer desaparecer. Em 1948, das 417 construções existentes nem 30 eram de alvenaria 63; até 1956 o seu número não era suficiente para quebrar a uniformidade do conjunto.

63 Relatório que acompanha o anteprojecto da urbanização da Praia de Mira. 

A população 

A pesca é a ocupação fundamental: exercem-na dois terços dos chefes de família, embora apenas uma minoria viva exclusivamente dela; as restantes vivem também de um pedaço de terra. Como a maioria dos homens está fora de casa grande parte do ano, são as mulheres que se ocupam da agricultura. É uma população de baixo nível de vida, avaliando tanto pelo vestuário como pelo desconforto e pela má e insuficiente alimentação. Os homens vestem-se com a típica flanela de xadrez dos pescadores, bem limpa e cosida. As mulheres e as raparigas, de saia negra muito rodada e blusa de uma qualquer cor, de lenço negro na cabeça. 

A alimentação mostra as dificuldades de vida que estas famílias passavam. Muitas comiam de garfo apenas uma vez por dia aproveitando as horas tradicionais para se alimentarem de café e pão seco. As refeições padrão são: às 8 da manha, café e broa; pelo meio-dia, caldo de couves, temperado com um naco de toucinho e engrossado com feijão ou arroz e no prato miolo de broa; pelas 5-6 horas, merendam os restos do almoço; às 8-9 horas, a ceia: batatas cozidas ou assadas na areia previamente aquecida com brasas, um pouco de peixe, se o houver. Por outro lado, com o passar dos tempos, alguns pescadores passam a ir à pesca do bacalhau e o nível geral da população certamente melhorou. 

Vestuário do homem e mulher (In Raquel Soeiro de Brito – Palheiros de Mira) 

A pesca e os pescadores 

A povoação começou por um arraial de pescadores de Ílhavo de praias das imediações, a que logo se juntaram seareiros e comerciantes, também das proximidades. Estavam desde logo lançadas as bases económicas da nova povoação: pesca e agricultura. A fertilização das areias foi possível, utilizando o moliço da lagoa, caranguejos e desperdícios de peixe”64. Já então havia o exemplo do aproveitamento das areias das Gafanhas, inciado no terceiro quartel do século XVIII65. 

A partir de 1920-21 a pesca começou a decair e os pescadores a terem necessidade de procurar trabalho nas traineiras, equipadas com boas redes de cerco e na faina longínqua e arriscada do bacalhau; algumas vezes marcados por doenças, de que o reumatismo e os males da circulação são os mais frequentes, mas a que devem a compra da casa, de um pedaço de terra. 

Estes dois tipos de pesca, mais rendosa, embora obriguem os pescadores a estarem afastados das suas famílias trazendo, no entanto, melhorias na qualidade de vida”66. Por outro lado, a organização da pesca das companhas é complexa e original. Como as redes e barcos são muito caros – cada rede custa à volta de 400 euros e cada barco 125 -, é costume organizarem-se sociedades. Sendo que o número de sócios varia entre 3 a 10, ocupando-se mais das tarefas de organização e administração, do que da pesca. 

A tripulação do barco é formada por 40 homens permanentes aos remos, 4 substitutos, um calador (…) auxiliado por 2 ajudantes e o arrais. O pessoal de terra tem também as atribuições bem definidas: os arrais e o seu ajudante; 6 redeiros, encarregados de verificar diariamente o estado das redes e de as consertar; 4 rapazes para as porem a secar; 4 colhedoras, geralmente mulheres, que guardam e enrolam a corda à medida que sai do mar; 10 raparigas para transportarem a corda para junto dos barcos; 2 atadores de chicote (…); 2 rapazes para a limpeza do barco; um vendedor, um escrivão, um mestre carpinteiro (para pequenos consertos) e um encarregado de angariar os bois”67. 

Cada empresa de pesca possui armazéns onde guarda as redes, casa de fornalha para as tingir com casca de carvalho ou de salgueiro e abegoarias onde se recolhe o gado durante os três ou quatro dias que permanece no lugar para alar as redes. 

Cada companha trabalha com onze juntas: dez em serviço permanente e uma para descanso. O gado é sempre acompanhado por guardadores, que dormem nas mesmas cabanas dos animais, em cima da erva, enrolados num cobertor. Umas vezes estão separados do gado por tabique de madeira, com um postigo para o guardador vigiar os animais, outras vezes ficam numa espécie de falso andar, de ripas assentes em traves grossas”68 

Cada barco é lançado à água e retirado de lá por duas juntas que puxam os cabos presos às argolas da proa ou da ré do barco; este desliza sobre rolos de pinho colocados no sentido de largura que, por sua vez, rolam sobre uma dezena de vigas compridas e flexíveis, de eucalipto, dispostas longitudinalmente”69. 

Sr. Xico a remendar uma rede – Praia de Mira (Fotografia – Maria João Marques) 

As redes a serem puxadas pelos bois (In Raquel Soeiro de Brito – Palheiros de Mira) 

A arte é puxada por dez juntas de bois. Quando o barco sai, fica logo um cabo preso na praia; o outro é trazido pelo barco, no regresso. À medida que o barco se afasta o calador vai dando corda durante uns três ou quatro km. Só aí é que se começa a lançar a rede, com o barco a descrever um semi-círculo. Logo que a rede cai no mar, principiam as juntas a puxar pelo cabo que ficara na praia e, quando o barco chega, pelo outro. A princípio os cabos ficam muito afastados um do outro; à medida que a rede vem vindo para a praia, as juntas que puxam um dos cabos vão-se aproximando até chegar o cerco. “O andar dos bois e o trabalho dos atadores de chicote começa num ritmo lento mais vai acelerando enquanto as mangas se aproximam da praia e atinge o máximo de rapidez e vivacidade com a chegada do saco. Os bois correm para baixo e para cima, puxados pelos guardadores e incitados pelos seus gritos e pelas repetidas ferroadas dos aguilhões. Enquanto isto decorre, as raparigas enrolam prontamente as cordas, dão água a beber aos homens da companha, vão conversando com uns e com outros”70. 

Quando se levanta vento e as vagas fortes varrem a costa, a tarefa de alar as redes torna-se mais movimentada ainda: o mar puxa pelas artes. Logo que o saco chega a terra é aberto, cortando-se com um canivete a ligação longitudinal feita diariamente pelos redeiros, ao preparar as redes para o mar, e o peixe é retirado para cabazes. Procede-se de seguida à lota, para a qual vêm muitos compradores de fora, nas suas caminhetas. Esta azáfama pode prolongar-se desde as primeiras horas da manha até ao entardecer e só o mau tempo os faz parar. 

Antes de 1926, como não havia estrada que ligasse a praia com o interior, o peixe era transportado em “comboios” de carros de bois por pistas na areia, até Cantanhede, de onde seguia, em geral, por caminho-de-ferro, para o interior. Por vezes também se verificava o movimento de galeras de muares que levavam o peixe para Coimbra, havendo pessoas que só se dedicavam a este trabalho. Com a abertura da estrada, em 1929, começaram as caminhetas a vir buscar o peixe, cessando o transporte com animais”71.

O pessoal do mar é o mais bem pago, no entanto, além do ordenado, cada pescador tem meio litro de vinho para a faina e retira sempre um quinhão de peixe para casa; cada boieiro também fica com um quinhão de peixe. Porém, nos dias em que o mar não permite a saída de barcos, os pescadores têm de estar librés para fazerem qualquer serviço relacionado com a pesca, se isso lhes for ordenado: içar o barco para terra, lavá-lo e fazer-lhe pequenos remendos, ou ainda levantar e guardar redes. 

Nas horas vagas da pesca do mar os pescadores e os mais novos encontram ainda nas águas da lagoa um suplemento de trabalho e dinheiro, pescando com chinchas – miniatura da rede do mar – e pimpoeiras – rede de dimensões da anterior – os muges e barbos. As mulheres nunca trabalham na pesca, excepto no que respeita aos pequenos serviços auxiliares. Todavia, a elas lhes compete toda a lida da casa e cuidar dos filhos, bem como o trabalho do campo. 

No Inverno vão em ranchos para o Vale do Sado fazer trabalhos de enxada nos arrozais. Cada rancho era formado por um capataz, um padeiro, um rapaz para lhe carregar a lenha, dois rapazes para a coçaria, ou seja, para manterem o lume aceso, dois rapazes para carregar a água para a comida e um homem para dar água à terra. Partem de meados de Novembro até princípios de Janeiro e regressam no final de Maio. Enquanto os pescadores estão nesta faina dormem nas casas dos donos da terra e comem por conta própria. Trabalham do nascer ao por do sol, com apenas dois intervalos. 

64BRITO, Raquel Soeiro de – Palheiros de Mira – Formação e declínio de um aglomerado de pescadores. Lisboa, 1960. P. 59. 
65 Pe. João Vieira Rezende: Monografia da Gafanha. Coimbra 1944, p. 20-21. 
66 IDEM – ibidem – p. 61. 

67 IDEM – ibidem – p. 62-63.
68 IDEM – ibidem – p. 63-64.
69 IDEM – ibidem – p. 66-67. 
70 IDEM – ibidem – p. 67-68.
71 IDEM – ibidem – p. 69.

Vida rural 

Os habitantes dos Palheiros de Mira dão o nome de prazos aos seus terrenos de cultura. Estes eram baldios que começaram a ser aforados; o primeiro documento de aforamento é de 188472. São os prazos velhos e a sua área fica a Sul da estrada de Mira e forma uma língua que entra pelo Barrinha. O baldio foi dividido em tiras de 10 metros de largo por cerca de 300 ao comprido, limite natural do mouchão com as águas da lagoa. Os prazos novos situam-se a norte daquela estrada; estendem-se no sentido leste-oeste, a partir do carreiro cosido com o braço da lagoa que segue para norte até ao pinhal de Videira. São sulcados por valas de drenagem para o enxugo das terras. Este solo de areias, pobre por natureza, acaba por ser enriquecido pela estrumação abundante que se proporciona a todas as culturas. Os prazos velhos são considerados mais produtivos. Nos novos a terra é mais fraca, por isso os talhões são maiores: 16 metros de largura73 x 400 metros de comprimento. 

A forma estirada e regular destes terrenos provém da maior facilidade e uma divisão geométrica e suficientemente recente para ainda manter a forma do talhamento inicial. Por outro lado, a sua configuração, sempre perpendicular aos caminhos, é a que traduz maior comodidade de acesso. Os campos alongados dominam em toda a área da Ria e encontram nos fundos planos e nas terras baixas condições favoráveis ao desenvolvimento e à conservação deste tipo de cadastro. Ao longo do tempo, os prazos foram-se dividindo e as divisões continuaram a fazer-se longitudinalmente. Contudo, Palheiros de Mira, apesar do número elevado de prédios rústicos por km2, sendo que a área das propriedades está muito desigualmente repartida. Considera-se que uma propriedade rústica deverá ter a área mínima de 5000m2, sendo que também esta está bastante dividida e muito parcelada. 

Prazos Velhos onde é visível o alongamento dos campos (In Raquel Soeiro de Brito – Palheiros de Mira) 

Fig. 32 – Campo de cultivo junto a um palheiro – Mira (Fotografia – Maria João Marques) 

Os Inquéritos da Junta de Colonização Interna têm como objectivo principal a possibilidade do aumento das propriedades mais pequenas, para a tal área mínima de 5000m2 e a constituição de unidades agrárias maiores, variando proporcionalmente ao número de pessoas da família. Isto levou à instalação de casais agrícolas com suas moradias dentro da área de exploração. As famílias que fossem desalojadas das suas actuais terras veriam compensada a transferência tanto pela proximidade da casa em relação ao terreno como também pelo aumento da área do mesmo. Porém, este plano não prosseguiu por razoes de ordem técnica e sentimental. Ainda que pudessem trazer vantagens, as famílias tinham certa relutância em aceitar a intervenção do Estado. Havia o receio de a nova terra não ser produtiva e por outro deixarem a estranhos uma leira que vinha de gerações anteriores. 

Dadas as circunstâncias da situação, “as famílias são obrigadas a arrendar partes de terra a quem pode dispor dela”74. O arrendamento faz-se no dia 1 de Novembro de cada ano e o pagamento dos prazos tanto pode ser feito em milho como no seu equivalente em dinheiro. 

De facto, a produção é quase contínua: em Janeiro cava-se, aduba-se e planta-se batata que fica na terra até Abril; ainda a batata não foi apanhada, já se semeia milho, que é colhido em Agosto-Setembro. Neste período, colocam-se couves que foram semeadas em caixotes deixados nos pátios das casas; uma vez colhidos estes produtos, a terra é novamente cavada, adubada e semeada de pasto para o gado ou de batata. 

A produtividade da terra varia com o grau de humificação e com a humidade. A primeira depende da quantidade de matéria orgânica já incorporada nas areias, variando com o tempo de aproveitamento das terras, já a segunda depende essencialmente da profundidade do nível aquífero, sempre alto pela posição e pela altitude das terras. Isto significa que fazendas próximas possam ter um rendimento muito variado. “O processo de rega mais frequente consiste em fazer pequenos açudes nas valas que sulcam os prazos. A açudagem é feita com gramata, planta de sítios marginais de águas salobras, outras ervas, montões de terra, etc”75. 

Através deste processo é possível elevar o nível da água que humedece a terra. As outras culturas são sujeitas a regra de espargimento, com água tirada ainda das valas. Umas vezes utilizam-se latas velhas na extremidade de uma vara, outras apenas cântaros de barro. A rega superficial é apenas uma pequena ajuda, pois os produtos são regados apenas uma ou duas vezes durante o Verão. 

Com a perspectiva de aumentar o rendimento das terras mais de metade das famílias que semeiam criam também algumas cabeças de gado, sendo que neste sentido existe o rol que consiste no seguinte: reúnem-se uns quantos agricultores que escolhem entre si um escrivão, um caixa e dois louvados; cada componente dá a entrada de 5 escudos: quando lhes morre o animal, os louvados avaliam o prejuízo e esse dinheiro é pago igualmente por todos os inscritos. Em Palheiros de Mira não há esta forma de ajuda mútua, embora haja gado que justificasse um ou mesmo dois e as pessoas vêm nisto tal vantagem que quase toda a gente pobre está inscrita nos róis de Lagoa e Portomar, as povoações mais próximas. A existência do rol comum a todas as regiões de baixo nível de vida e grande criação de gado grosso. 

72 Dados fornecidos pelos Eng.-Agr. J. Vaz Pereira e A. Da Silva Poço, da Junta de Colonização Interna, que trabalharam na região, com vista a um eventual emparcelamento da propriedade.
73 Dois prazos têm 15m de largura, possivelmente para compensar um pouco mais de comprimento, este varia ligeiramente com os limites do antigo baldio. 
74BRITO, Raquel Soeiro de – Palheiros de Mira – Formação e declínio de um aglomerado de pescadores. Lisboa, 1960. P. 80. 
75 IDEM – ibidem – p. 82-83. 

O plano de urbanização: destino do aglomerado 

Em 1948 os Serviços de Urbanização realizaram um inquérito em Palheiros de Mira e estabeleceram as bases do seu plano de urbanização. Este aglomerado de pescadores foi tido como não obedecendo aos preceitos higiénicos modernos”76. Também a agricultura não basta às necessidades da população e que a pesca é exercida por meio de “processos primitivos e pouco rendosos”. Por outro lado, o lugar oferece, com as suas construções em madeira, um aspecto de extrema humildade, agravado pela superlotação das casas. Com estas bases foi elaborado um plano de urbanização que prevê que se evite que o desenvolvimento das actividades de uns pescadores possa interferir de forma negativa com as dos turistas. Neste sentido, deve assegurar-se a possibilidade de instalações de interesse geral, particularmente para o turismo; que se torne realizável a substituição progressiva das habitações, tanto quanto possível nos terrenos onde existem. 

Entretanto, por intermédio da Câmara Municipal de Mira, promoveu-se a ruína da povoação, proibindo, a partir de 1953, que se fizessem nas casas de madeira os consertos indispensáveis à sua conservação. Estas medidas têm como objectivo incrementar o turismo e transformar uma povoação viva no decurso do ano, com a sua dupla actividade de pesca e agricultura, num centro mais ao menos elegante. 

A pitoresca aglomeração de pescadores que ainda é hoje Palheiros de Mira desaparecerá brevemente”77. Destrói-se um elemento de arquitectura tradicional que, pela sua originalidade e singela elegância, merecia ser preservado. Palheiros de Mira eram, por assim dizer, a jóia deste tipo de construção. 

Por outro lado, parece que “os Serviços de Urbanização deveriam olhar pela conservação da arquitectura popular e não contribuir, pelo contrário, para a sua destruição e substituição por um estilo banal e incaracterístico”78. 

76 BRITO, Raquel Soeiro de – Palheiros de Mira – Formação e declínio de um aglomerado de pescadores. Lisboa, 1960. P. 91. 
77 IDEM – ibidem – p. 94. 
78 IDEM – ibidem – p. 97. 

Conseguirá a arte xávega sobreviver? 

De facto, esta arte tem os dias contados. Tecnologicamente ultrapassada, tem resistido graças à vontade de alguns armadores que a mantêm viva e de reformados que vão fornecendo a mão-de-obra, em muitas praias essencial para a sua manutenção. A introdução da motorização apenas reduziu o esforço humano necessário e facilitou as tarefas; por outro aumentou o seu custo, pois o essencial das despesas vai para combustível. No entanto, o subsídio não resolverá os problemas de fundo. Para além disto existe todo um conjunto de factores de indicadores que não perspectivam um bom futuro para esta arte, pois: 

Uma evidente menor ocorrência de peixe na área de actuação destas artes, sendo hoje frequentemente de indivíduos subdimensionados; 

Cada vez menor número de pescadores no que é uma tendência geral no país e em todas as artes, sendo já difícil recrutar pessoal para diversos tipos de pesca em várias regiões do país; como a xávega é pouco remuneradora, acrescem estes problemas de recrutamento, sendo já evidente que os mais aptos optam por outro tipo de pesca ou abandonam pura e simplesmente, a actividade indo trabalhar ou para a construção civil ou também para o estrangeiro; 

Evidentes alterações no clima destabilizam e desregulam os calendários habituais de pesca, tem ocorrido nos últimos anos com situações cada vez mais comuns de “mau tempo” durante o Verão, impossibilitando o trabalho, enquanto em pleno Inverno o mar representa incrivelmente um aspecto calmo e sereno; 

Evidentes alterações na linha de costa, com o recuo das praias em toda a área de actuação das xávegas, tornando mais difícil toda a entrada das embarcações no mar, o que torna actualmente há localidades que se transformaram em autenticas fortalezas defendidas por esporões e enrocamentos; 

Simultaneamente, e apesar do que se disse no ponto anterior, a ocupação do espaço costeiro continua a fazer-se em situação de risco e à custa de mata e de dunas, prolificando novas actividades relacionadas com o veraneio balnear, infelizmente não geradoras, na maioria dos casos, de empregos alternativos para os pescadores. 

De facto, para algumas comunidades da xávega a situação social é já hoje preocupante. Para isto contribui também a baixa escolaridade de muitos dos seus membros, “para além do trabalho precário na construção civil, para não falar da absoluta falta de ocupação para as mulheres”79. O mais lamentável é saber que nada se tem feito para tentar melhorar esta situação, a não ser continuar a penaliza-los, impedindo-os de comercializar espécies subdimensionadas de consumo tradicional, quando se sabe que todos os dias os arrastões apanham toneladas de juvenis das mais variadas espécies ao longo da costa impedindo-os de utilizar artes tradicionais apesar de serem selectivas. Todos estes factores levarão à concentração das embarcações existentes em duas áreas, levando posteriormente ao seu abandono, à medida que os pescadores mais velhos deixarem a actividade. 

79 SOUTO, Henrique – Comunidades de pesca artesanal na costa Portuguesa – Estudo Geográfico. Lisboa, 1998. P. 172. 

Estratégias de sobrevivência 

Uma vez que os pescadores dependem da sazonalidade da actividade, só sendo possível inverter esta situação se o pescador possuir outra fonte de rendimentos ou viver à custa do fiado. Para a maioria, “a estratégia passa pela diversificação das actividades, muitas vezes à custa de comportamentos “oportunistas”, no sentido em que é necessário aproveitar as possibilidades que no momento aparecem”80. Antes da mecanização na agricultura, as migrações internas foram parte importante destas estratégias, pois dava-se a deslocação de homens e mulheres principalmente para o rio Sado onde se integravam nos trabalhos sazonais da agricultura ou mesmo na salinicultura. Isto ajuda-nos a compreender que de facto regiões onde arte xávega seja praticada, dela façam parte sobretudo reformados ou pessoas a tempo parcial, da qual obviamente o exemplo da Praia de Mira faz parte. 

Por outro lado, há praias onde não existe actividade fora da pesca, sendo que nelas se podem desenvolver as majoeiras – “redes de tresmalho caladas na baixa-mar nas areias da praia e verificadas na baixa-mar seguinte, precisamente na zona frequentada pelo robalo, para o qual a rede é dirigida”81. São de “utilização generalizada entre a Leirosa e Espinho, não só por pescadores da xávega mas também por quem trabalha em traineiras”82. 

Por outro lado, também se usam as branqueiras, “igualmente tresmalhos, fundeadas perpendicularmente à praia e caladas por uma pequena embarcação”83; são dirigidas ao carapau, fundeadas ficando com um cabo em terra para onde são aladas sem necessidade de “ir ao mar”. Ao contrário das majoeiras, as branqueiras são, por vezes, pertença das sociedades de xávega e interessam a toda a companha. 

As majoeiras são sem dúvida, as mais importantes do ponto de vista social, pois a sua utilização não requer o uso de uma embarcação sendo, então, acessível a todos os pescadores. De acordo com Pedrosa, as redes deste tipo são utilizadas em toda a costa portuguesa desde a primeira dinastia e “constituíam a arte quase exclusiva das praias desabrigadas antes da chegada das grandes redes de arrasto”. Por seu lado, Baldaque da Silva chama-lhe engenhosa. 

As majoeiras têm 10 metros de comprimento por dois de altura e um miúdo de 110mm, possuem na tralha superior um conjunto de flutuadores em forma de barquinhas e na tralha inferior chumbadas em igual número das barquinhas. Para serem colocadas na areia estão providas de duas estacas de madeira, uma em cada extremidade, estacas essas que são enterradas com o recurso de dois instrumentos: o repuxo e o maço. “O repuxo é uma vara que possui num dos extremos uma cavidade onde entra o topo da estaca; o maço serve para bater do repuxo de forma que este penetre o mais fundo possível na areia, após o que é retirado”84. 

Estas redes empregam-se na pesca do robalo, sendo que de um modo geral cada pescador fundeia várias destas redes paralelamente umas às outras e embora sejam pertença dos pescadores a título individual é frequente entreajudam-se uns aos outros, até porque se trata de uma actividade dura que decorre no Outono e Inverno e obriga o pescador a entrar muitas vezes na água até à cintura. Por outro lado, é preciso considerar que estas redes se tornam impraticáveis em situações de grande agitação marítima. 

A proibição que recai sobre o uso destas redes é bem um exemplo de uma medida regulamentar da pesca totalmente injusta, não fundamentada e arbitrária que tem vindo a provocar em diversas comunidades situações de injustiça gritantes”85. 

Efectivamente, o que acontece é que esta arte carece de uma correcta regulamentação que tenha em consideração a componente humana e social da pesca e não apenas o factor biológico, o que na legislação nacional parece de facto nunca acontecer, levando os pescadores a afirmar que “quem manda só se preocupa com os peixes, nós podemos morrer à fome. “Esta situação revela sobretudo a pouca importância que é dada à investigação na área das Ciências Sociais e Humanas, baseando-se sempre e exclusivamente a regulamentação das pescas em pareceres da área da Biologia”86. 

80 IDEM – ibidem – p. 173. 
81 IDEM – ibidem – p. 174. 
82 IDEM – ibidem – p. 175. 
83 IDEM – ibidem – p. 175. 

84 IDEM – ibidem – p. 175 e 176. 
85 IDEM – ibidem – p. 176. 
86 IDEM – ibidem – p. 178. 

Praia de Mira – Trabalho de campo 

O trabalho de campo foi desenvolvido na Praia de Mira e em torno dos Palheiros da mesma área, uma vez que constitui um dos melhores, senão mesmo o melhor exemplo, da prática da arte xávega actualmente em território português. 

De facto, a prática desta arte é hoje ainda visível nesta Praia, diariamente, desde o nascer ao por do sol, nos meses de Verão, atraindo também a atenção dos mais curiosos e turistas. Segundo o Sr. Américo Domingos, na Praia de Mira já só trabalham seis companhas, sendo que apenas uma delas, a “Alexandre Vieira” trabalha durante todo o ano, chegando a fazer cinco a seis lanços por dia, ao contrário das restantes que fazem apenas dois ou três, quando o mar os favorece e cada um deles dura em média duas a três horas. Estas seis companhas da Praia de Mira pertencem à Capitania de Aveiro, sendo que poucas vezes se verificou no passado a ocorrência de tantas embarcações numa só praia. 

A companha seis companhas, sendo que apenas uma delas, a “Alexandre Vieira” trabalha durante todo o ano, chegando a fazer cinco a seis lanços por dia, ao contrário das restantes que fazem apenas dois ou três, quando o mar os favorece e cada um deles dura em média duas a três horas. Estas seis companhas da Praia de Mira pertencem à Capitania de Aveiro, sendo que poucas vezes se verificou no passado a ocorrência de tantas embarcações numa só praia. 

A companha “Alexandre Vieira” é a segunda companha a Norte da Praia de Mira, cujo comprimento do barco atinge quase os 12 metros e de largura tem cerca de 3 metros, sendo o maior da Capitania. Possui características que os distingue de todos os outros, pois é o único barco de fibra, já que os restantes são todos de madeira. Segundo o Sr. “Chico da Boina”, um dos 17 pescadores desta Companha, que para ela trabalha há cerca de 2 anos o barco é obrigado a ter dois motores, uma vez que não tem remos. As redes por ele utilizado atingem os 800 metros, sendo actualmente maiores, pois quando era usada a alagem pelo auxílio dos bois tinham cerca de metade do tamanho, relembra o Sr. Chico. 

Possui outra característica peculiar, uma vez que é das poucas praias onde se pratica arte xávega e que possui também posto de vendagem. Actualmente possui quatro armazéns, localizados junto à praia, sendo que o primeiro funciona como posto de vendagem e os três restantes para armazenagem de todo o material e dos tractores. Este posto de vendagem atraindo muitos compradores, que aproveitam para comprar peixe, muitas vezes em leilão. 

Barco “Alexandre Vieira” – o maior da praia de Mira, com quase 12 metros de comprimento (Fotografia – Maria João Marques) 

Mira, também conhecida como a terra dos Palheiros surgiu realmente com a fixação de comunidades de pescadores que para aqui vinham trabalhar. As características desta arquitectura popular conferem a Mira um aspecto pitoresco ou conferiram pelo menos até há bem pouco tempo. De facto, com o passar dos anos, as Políticas de Intervenção Urbana têm em muito contribuído para o seu desaparecimento quando deviam, obviamente, zelar pela sua manutenção e continuidade. Na verdade, actualmente são quase inexistentes os palheiros, sendo que ainda há menos de um ano foram demolidos por ordem da autarquia um dos últimos conjuntos destas casas, afirmou o Sr. Américo Domingos. Segundo as suas palavras “eram os últimos mesmo aqui junto à praia e foram demolidos porque a gente do costume assim o quis, é uma pena, mas já nada podemos fazer”. 

No entanto, em comparação com as aldeias de terras próximas, a população de Palheiros impressiona pela falta de carácter e pela pobreza do seu património espiritual. De facto, estas comunidades sempre foram conhecidas pela sua fé e crença e, de facto, Mira tem uma capela, junto à praia, também de madeira e que, segundo as palavras da Sr. Joaquina já é muito antiga, terá certamente mais de um século e todos os anos é alvo de pequenos restauros, sendo que também no seu interior, pelas paredes, têm cordas e bóias dos pescadores e, no altar, a N. S. da Conceição. No entanto, há menos de três décadas, nas proximidades foi construída uma outra igreja, mas a qual não é adorada nem frequentada pela então reduzida comunidade de pescadores que, todos os anos insistem em levar na procissão a Santa. Ainda na antiga capela, há poucos anos foi acrescentado um pequeno anexo, também de madeira, onde já esteve um pequeno altar, no exterior, com uma figura da Santa envolvida por conchas e leques, colocadas pelos pescadores. “Quando o mar era ruim, assim muito mau, levavam os pescadores barcos muito grandes e com muita gente, não é como agora que se usam os tractores, pois antes é que era preciso usar a força, com a ajuda dos bois tá claro. Quando viam que ia morrer alguém, porque isso também acontecia às vezes, rezavam à santa, eu ainda me lembro quando era miúda. Diziam que ela fazia milagres e o mar ficava logo ali sereno e dava para eles virem. Tudo tem muita fé nesta santa e, no entanto, faz-se sempre a festa dela e tudo aqui vem”. 

Capela da Praia de Mira (In Raquel Soeiro de Brito – Palheiros de Mira) 

Anexo acrescentado mais recentemente à capela dos pescadores (Fotografia – Maria João Marques) 

Para além das particularidades ligadas à área onde se estabeleceu este núcleo, no qual a lagoa desempenha também um papel fundamental na morfologia e confere um ar característico à terra, a pesca apresenta hoje algumas particularidades face ao que ocorre noutras praias que convém referir. Em primeiro lugar pela dimensão das embarcações, que nesta praia são as maiores de toda a costa.

Por outro lado, porque aqui desenvolveu um sistema de “braços” acoplados aos tractores que, encaixando na ré das embarcações mais pequenas para calar redes branqueiras, perpendicularmente à praia; fundeadas pelo lado do mar com sacos de areia, estas redes são aladas para a praia com os aladores dos tractores através de um dos cabos que fica preso junto ao armazém da companha. 

(Comparação das dimensões máximas e mínimas dos barcos de algumas praias (In Henrique Souto – Comunidades de Pesca Artesanal – Estudo Geográfico) 

À conversa com os pescadores: Américo Domingos, Chico da Boina e Manuel João 

Há quantos pratica esta arte? 

Américo Domingos – o meu pai já fazia esta arte, assim como o meu avô, assim que fiz 14 anos, juntei-me a eles para continuar a tradição de família. 

Quantas campanhas existem actualmente aqui na praia de Mira? 

Chico da Boina – existem 6 companhas mas só uma é que trabalha o ano todo, que é a campanha do Alexandre Vieira que chega a fazer a 5 a 6 lanços ao dia. 

A que distância costumam pescar? 

Manuel João – a gente na passa mais de uma milha da costa, só trabalhamos com cordas que devem ter aí uns 700/800 metros. Como não temos mais não dá para ir mais longe. 

Quais são os peixes que saem mais? 

Américo Domingos – carapaus, sardinhas, cavalas, petinga e às vezes alguma raia. 

Quais as principais dificuldades que encontra no seu trabalho? 

Chico da Boina – o dinheiro que fazemos é muito pouco para o trabalho que temos e a única ajuda que temos por parte do Estado é para o gasóleo. De resto arranjo de motores, redes, barcos sai tudo do nosso bolso. 

Os barcos das campanhas tem todos o mesmo tamanho? 

Manuel João – sim mais metro menos metro, são todos do mesmo tamanho a única diferença são os matérias usados na construção deles, o nosso é todo feito de fibra, os outros são apenas revestidos de madeira. 

As redes estragam-se muito? 

Américo Domingos – sim temos que remediá-las várias vezes e porque são caras só lá de vez em quando é que metemos uma secção nova. 

Enquanto remam costumam fazer cânticos? 

Chico da Boina – claro menina, faz parte do nosso trabalho e tradição, mas também ajuda a marcar o ritmo dos remos. 

Tendo em Conta que a arte da xávega encontra-se em vias de extinção, o que acha que se devia fazer para preservá-la? 

Manuel João – é darem apoios e subsídios aos pescadores como deve de ser e mudarem as leis e cotas que nos penalizam em relação aos nossos companheiros estrangeiros. 

Uma vez que a actividade normalmente e sazonal como sobrevivem o resto do ano? 

Américo Domingos – bem no caso de nós os 3, nós já somos reformados por isso dedicamo-nos só a isto, mas temos companheiros que se vêm forçados a ir para as obras de inverno para sustentar as famílias. 

Aqui em Mira praticam mais algum tipo de pesca se ser a xávega? 

Chico da Boina – com certeza menina, temos companheiros nossos na pesca do bacalhau. Há muito tempo atrás já chegamos a ter aqui em Mira 400 pescadores, mas a maioria ou está reformada ou já faleceu. 

Conclusão 

A prática da arte xávega, adoptada em meados do século XVIII, inaugurou uma nova época de organização da pesca, muito antes de transformações conhecidas para os finais do século XIX. Custos adicionais, num calendário fixado pela migração sazonal da espécie, aponta para uma evolução da sociedade de pesca, no contexto geral do negócio da salga. Esta arte é praticada por grupos de pescadores denominados companhas, que funciona como uma sociedade formada por pequenos grupos, sendo que a maior a actuar na Praia de Mira tem 17 pescadores durante todo o ano e não apenas nos meses de Verão como todas as restantes. 

A xávega sobrevive hoje graças a um pequeno grupo de velhos pescadores que se sentem realmente ligados à mesma e que, para além disso, precisam dela para como complemento de reforma ou também, em raros casos, de apoios autárquicos que pretendem de alguma forma dar continuidade ao quadro etnográfico ainda que, muitas vezes, não o façam da forma mais correcta. 

De facto, actualmente com todo o conjunto de evoluções tecnológicas no mundo da pesca, esta prática caiu em desuso, e como é praticada apenas nos meses de Verão, muitos pescadores da costa e Ria de Aveiro se deslocaram para o importante centro piscatório de Matosinhos que representa cerca de 50% do total das capturas do país, só regressando no Inverno. 

No que diz respeito às suas técnicas o que realmente menos mudou foi a rede. Hoje em dia apresentam-se maiores que há uns anos atrás, quando ainda eram usados bois para auxiliar na alagem das redes. O aumento do tamanho das mesmas andará à volta dos 50%, pois passaram de uma média de 400 para cerca de 800 metros. Dada também uma alteração da técnica de alagem, verifica-se uma diminuição do esforço colectivo, porém, um aumento da velocidade. Apesar de as companhas terem menos pescadores, fazem-se mais lanços, uma vez que são usados tractores. 

Porém, e infelizmente, o rendimento desta faina continua a ser reduzido. Factores como o mar, o clima e a própria crise mostram-se ameaças constantes, capazes de deixar escapar os mais fracos da prática desta arte. O famoso barco de meia-lua rasgando e vencendo as ondas do mar, a rede a ser alada, o peixe lutando pela vida na restinga ou simplesmente a força do homem, continuam a marca o passo diário nas areias da praia de Mira, muitas vezes sobre o olhar de por quem lá passa. 

No entanto, não deixa de ser surpreendente toda a actividade que a xávega ainda é capaz de provocar. As seis companhas ainda existentes na Praia de Mira, cada vez mais dependentes do Estado, ainda tem capacidade para mobilizar cerca de uma centena de homens. Muitos dele, já se sabe, são reformados, porém, experientes. 

O xávega, hoje mais curto cerca de 5 metros quando comparado com o grande barco de mar outrora pelos mares navegando, foi concebido sobretudo para vencer a chamada “cabeça do mar”, sendo que esta continua a ser a manobra mais complicada e problemática, mesmo após a introdução de motores. No entanto, o uso dos remos não deverá ser desvalorizado, bem pelo contrário, pois ainda hoje é com a ajuda dos mesmo que se vence a rebentação, já que nem sempre há altura de água para que a hélice dos motores girem de forma livre, sem atrito com a areia o que pode, obviamente, provocar danos. 

De facto, as redes continuam a ser tratadas por verdadeiros especialistas ainda hoje: os redeiros. A maior parte das companhas possui mais que uma rede e os patrões costumam optar pela substituição de secções da rede quando esta começa a degradar-se. Normalmente são secas ao sol entre os lanços, sobretudo os sacos. 

O rendimento obtido da prática da xávega continua longe de satisfazer os pescadores, para além de que esta arte sazonal, obriga que muitos procurem outras actividades durante o resto do ano. A também sazonalidade de certas espécies, como a cavala, que muitas vezes só começa a aparecer a partir de Junho, faz com que as companhas apostem mais na sardinha e no carapau. A sardinha não sendo muito grande na zona da Praia de Mira, faz com que seja capturada em maior quantidade a petinga, que não é mais do que a sardinha pequena. No entanto, rende muito pouco e nos meses de Verão costuma ser vendida a preços extremamente reduzidos. 

Porém, com todas as inovações decorrentes do tempo, a operação continua a exigir uma grande coordenação de esforços e uma inteligente e meticulosa divisão de tarefas. Pois, mesmo quando os barcos não estão no mar há sempre trabalho a fazer, como viajar o aparelho, cuidar da manutenção dos tractores e das redes, bem como estar sempre atento à hipótese de iniciar um novo lanço. As companhas mantêm uma distância razoável entre si, muitas vezes o dobro do comprimento das mangas (230 metros), mudando de posição no Verão, devido à presença dos banhistas. 

Os homens da Praia de Mira necessitam do turismo para manter viva esta arte. Já que estes não só consomem o peixe capturado como funcionam como factor de atracção, embora deste último resulte aparentemente pouco retorno no que diz respeito ao apoio Estatal. Basicamente, as companhas estão por sua conta e risco que, no fundo, é uma das essências desta arte teimosa teimosa e orgulhosa, que se vai arrastando no tempo. 

Bibliografia 

AMORIM, Inês – A estrutura das “artes novas” da costa de Aveiro ao longo da 2ª metade do séc. XVIII : mão-de-obra, divisão de trabalho, formas de propriedade e divisão do produto – Santiago de Compostela: Consello da Cultura Galega, 1998; 

AMORIM, Inês – História do trabalho e das Ocupações. Vol. II: As pescas. Celta Editora, 2001; 

AMORIM, Inês – Relações de trabalho e gestão pesqueira nos séculos XVIII e XIX – A pesca da xávega na praia do Furadouro (Costa de Aveiro). In Revista de História Económica e Social, 2000; 

BRITO, Raquel Soeiro de – Palheiros de Mira – Formação e declínio de um aglomerado de pescadores. Lisboa, 1960; 

LOPES, Helena e LOPES Paulo Nuno – A safra. Livros Horizonte, 1995. 

PEIXOTO, Rocha – Palheiros do Litoral. Portugália, vol. I. Lisboa, 1899-1903; 

QUINTAS, Maria da Conceição – O Aglomerado urbano de Setúbal: Crescimento Económico, Contexto Social e Cultura Operária 1880-1930. Coimbra, 1995; 

SILVA, Baldaque A. A. – Estado actual das pescas em Portugal. Lisboa, Imprensa Nacional, 1891 

SOUTO, Henrique – Comunidades de pesca artesanal na costa Portuguesa – Estudo Geográfico. Lisboa, 1998; 

VASCONCELLOS, J. Leite de – Etnografia portuguesa, vol. II. Lisboa, 1936. 

Categorias
Garum

De re coquinaria

Apicius de Re Conquinaira

De re coquinaria (ou Ars Magirica, ou Apicius Culinaris) é um compêndio de receitas culinárias da Roma antiga, de autoria atribuída ao gastrônomo Marcus Gavius Apicius (25 a.C. – 37 d.C.), que ficou conhecido a partir de manuscritos organizados por monges de Fulda, na Alemanha, nos séculos VIII e IX e editados somente no século XIX. Originalmente escrito em latim, as receitas trazem exemplos de outras culinárias além da romana, como a grega por exemplo.

No De re coquinaria, o garum é referido quarenta e duas vezes (Lagóstena Barrios, 2007: 275), constituindo um ingrediente imprescindível de muitos pratos deste livro de receitas. Todavia, os molhos de peixe, quase sempre referidos como liquamen, estão presentes de alguma forma em cerca de 350 das pouco mais de 500 receitas apresentadas, ao passo que o sal aparece em 31 receitas (Curtis, 1984: 439).

Categorias
Garum

The Rise, Fall, and Rise Again of Garum

The Rise, Fall, and Rise Again of Garum

Trinh Fred Carpenter, Metro State and Gaius Stern, UC Berk (retired

fred.carpenter@metrostate.edu
gaius@berkeley.edu

The poet Ovid was exiled to the far reaches of the ancient Roman Empire by the Emperor Augustus in 8 CE.  In his exile at Tomis, now modern day Romania, he lamented the things he missed, including food and the sound of his language.  It is with this thought that we discuss a common ingredient in Roman cookery, garum, which has suffered unfair notoriety as “a disgusting sauce made from rotting fish guts”[1] by those who have never tasted it.  The journey of garum from prominence to exile and return strangely runs parallel to Ovid whose fame returns centuries after his exile.

[1]See for example, clumsydisaster:  “… the mere idea of fish guts fermenting in a jar just makes me want to gag.  It was popular enough though that its end product was sought after by pretty much everyone.  It would be mixed with wine, vinegar, black pepper, oil, diluted with water, etc.  They even thought it was the best cure for dysentery and was a great hair remover. It seems that not only are the Romans out for tastiness but they’re out for versatility.
I’d like to add though that the end product (after all the petrifying and liquifying and obvious vomiting I’d have been doing if I had to make it) was considered quite yummy.  Kind of on par to certain Asian sauces used in Asian cuisine today. I think I just get caught on the smell. Could you imagine that? Yuck.”  From https://clumsydisaster.wordpress.com/2011/08/25/what-is-that-smell/  posted 25 Aug. 2011, 20 Sept. 2012.

What is garum?  Garum, to put it simply, is a preserved fish product.  Its origins trace to ancient Greece with the word, garos, and into Latin as garum.  Garum is simply salt, fish, sun and time:  Time for the fish to decay into a liquid and decomposed flesh at the bottom of a container.  Garum is produced in a very similar manner to Asian fish sauce, or perhaps more correctly, Asian fish sauce is produced much like Garum.  We can assume that the nutritional profile is similar with a product that is rich in umami or the fifth taste, usually associated with savoriness.  It has a taste that is called “meaty.”  Foods that are considered heavy umami are rich in glutamic acid, ribonucleotides, and inosinates, such as soy sauce, tomatoes, mushrooms, cheese, and preserved meats.  Fish sauce is also rich in nutrients and can serve as a source of amino acids and protein (Thongthai).  Brillat Savarin said that, “cheese was milk’s leap towards immortality,” and the same could be said of garum.  Using salt and fermentation, a volatile product, fish, is transformed into a long stored food item that is easily transported over long distance and served as a source of salt and protein to a growing empire that was still eaten into the Byzantine period.
The earliest surviving mention of a form of garum comes from the Greeks from the 5th century BCE Athenian Old Comedy playwright Cratinus (519 – 422 BC), an older contemporary of Sophocles.[2]

[2]Kock fragment 1.95 apud  Athen. 2.67c:  ΓΑΡΟΣ. Κρατῖνος 1.95 K:  ὁ τάλαρος ὑμῶν διάπλεως ἔσται γάρου.
Regarding garum:  Cratinus says — Your basket will be full of pickled fish sauce.
For other sources mentioned throughout viz. Manil. Astron. 5.671 ff; Seneca Ep. 95. 25; Pliny NH 31.93ff; Martial Epig. 3.77.5, 11.27; Oneirocritica1.68; Isidore of Seville, Etymologies, 20.3.19-20.

Other fragments survive from Pherecrates, Sophocles, Aeschylus and a poet named Plato.[3]
 Our main source of information on how to use garum and Roman cookery is the lone surviving cookbook from the Roman empire, Apicius’ De re coquinaria (“On the Subject of Cooking:)  Over 70% of the ~465 recipes in the cookbook use liquamen, the first draw of garum (think of virgin olive oil).  We are at a loss for the absence of these and other sources except as quotes in the Deipnosophistae of Athenaeus, a collection of dinner table discussions on everything from human virtues to types of vases and cups.  Garum comes up as a subject at least twice, Deip. 2.67c, 9.366c:  “And I also see garum sauce beaten up in a mixture with vinegar. 

[3]Kock fragments 1,197, 545 = T.G.P.2 264, Kock fragment 1.656, 55 = T.G.P.2 71 apud  Athen. 2.67c:  Φερεκράτης 1.197 K:  ἀνεμολύνθη τὴνὑπήνην τῷ γάρῳ.
And Pherecrates says—
His beard was all soaked with fish sauce.
Σοφοκλῆς Τριπτολέμῳ fr. 545 N:  τοῦ ταριχηροῦ γάρου.
And Sophocles, in his Triptolemus, says —  Eating this briny season’d pickle.
Πλάτων 1.656 K:  ἐν σαπρῷ γάρῳ βάπτοντες ἀποπνίξουσί με.  = fr. 198 Edmonds.
ὅτι δ᾽ ἀρσενικόν ἐστι τοὔνομα Αἰσχύλος δηλοῖ εἰπών fr. 55 N:  καὶ τὸν ἰχθύων γάρον.
And Plato the comic writer says—
These men will choke me, steeping me in putrid pickle.
But the word γάρος, fish sauce, is a masculine noun, as Aeschylus proves, when he says “and the fishy sauce.”

“And I also see garum sauce beaten up in a mixture with vinegar. I know that in our day some inhabitants of Pontus prepare a special kind which is called vinegar garum.”[4]  This line indicates yet another far from Rome local industry of garum production in the 2nd century AD, for the consumption of garum became an identity establishing feature of the Roman Empire, not unlike making a daily visit to the public baths or wearing the toga. 
The Romans had four types of preserved fish product that we will broadly call garum:
·       Garum:  The general product made from preserving fish with salt.  Later becomes interchangeable in word use with liquamen.  Earlier sources indicate that this particular classification was made from blood and innards of larger fish, such as tuna and mackerel.
·       Liquamen:   First liquid draw from garum without fish flesh
·       Muria:  By product of fish salting process.  The liquid brine
·       Allex:  Undissolved fish parts
Garum had both its fans and detractors, surprisingly, often the same people, including Seneca and Pliny, being but two of many.   The astronomer Manlius Astron. 5.671 describes its preparation:

This part is better if the juices are given up; that part when juices are retained,
On this side a precious bloody matter (sanies) flows and vomits out the flower of the gore
And vomits out the taste after salt is mixed in, it tempts the lips;
on that side the putrid slaughter of the crowd (of fish) flow all together
and mix their shapes in another melting semi-liquid slosh
and provide a widely used liquid for foods.

their mutual gift of liquid flows out alike
and their inner parts melt and issue forth as a stream of decomposition. 
Nay in fact they could fill the great salt pans
and cook the sea and also extract the poison of the salt sea.[5]

[4]Athen. Deip. 9.366c:  ὁρῶ δὲ καὶ μετὰ ὄξους ἀναμεμιγμένον γάρον. οἶδα δὲ ὅτι νῦν τινες τῶν Ποντικῶν ἰδίᾳ καθ᾽ αὑτὸ κατασκευάζονταιὀξύγαρον.  The translation came from Bill Thayer’s scan of the Loeb.
[5]Manil. Astron. 5.671-75:  hinc sanies pretiosa fluit floremque cruoris /  evomit ex mixto gustum sale temperat oris; illa putris turbae strages confunditur omnis /  permiscetque suas alterna in damna figuras / communemque cibis usum sucumque ministrat. Check also Geoponika 20.46.6.

Seneca the Younger Ep. 95. 25 advises his correspondent Lucilius Junior against gluttony and excess when he says “What? Don’t you think the garum made by our allies, the bloody remains of harmful (the meaning may be poisonous) fish, burns the stomach (diaphragm) with salted putrification.[6]

Garum was a luxury good, produced in many parts of Italy, so if Seneca and Lucilius Junior know others import the Spanish product, not only is it more expensive (wastefulness) but actually harmful due to the local Spanish fish from which it is produced.  It had the allure of pufferfish sushi or questionable Russian caviar.  In an age of vice, described to a considerable extent in Petronius, people were engaging in a doubly harmful form of conspicuous consumption, as Eugene Weber of UCLA liked to mention, just to show they could afford to get the garum sociorum, even though it was not better than that of Pompeii.  Some distantly-made garum was a status symbol (like Belgian beer or champagne today).
Pliny the Elder NH 31.43-44.93-97 describes both the spread of garum and the widespread garum production industry. He says garum has a delicious flavor and medicinal benefits, making it a luxury good and at the same time an edible form of Roman-ness.  

There is yet another kind of choice liquor, called garum, consisting of the guts of fish and the other parts that would otherwise be considered refuse; these are soaked in salt, so that garum is really the bloody matter of the putrefying leftovers [illa putrescentium sanies].  Once this used to be made from a fish that the Greeks called garos; they showed that by fumigation with its burning head the after-birth was brought away.  Today the most popular garum is made from the scomber in the fisheries of Carthago Spartaria—it is called garum of the allies—1,000 sesterces being exchanged for about two congii of the fish.  … Clazomenae, too, is famous for garum, and so are Pompeii and Leptis, just as Antipolis and Thurii are for muria, and today too also Delmatia.
44.95.  Allex is sediment of garum, the dregs, neither whole nor strained. It has, however, also begun to be made separately from a tiny fish, otherwise of no use. The Romans call it apua, the Greeks aphye, because this tiny fish is bred out of rain.  The people of Forum Julii call lupus (wolf) the fish from which they make garum.  Then allex became a luxury, and its various kinds have come to be innumerable; garum for instance has been blended to the color of old honey wine, and to a taste so pleasant that it can be drunk. But another kind <of garum> is devoted to superstitious sex-abstinence and Jewish rites, and is made from fish without scales. Thus allex has come to be made from oysters, sea urchins, sea anemones, and mullet’s liver, and salt to be corrupted in numberless ways so as to suit all palates. These incidental remarks must suffice for the luxurious tastes of civilized man.  Allex however itself is of some use in healing. For allex both cures itch in sheep, being poured into an incision in the skin, and is a good antidote for the bites of dog or sea draco; it is applied on pieces of lint. By garum too are fresh burns healed, if it is poured over them without mentioning garum.  Against dog-bites it is beneficial and especially against those of crocodiles..(7)

[6]Quid?  Illud sociorum garum, pretiosam malorum piscium saniem, non credis urere salsa tabe praecordia?  For garum sociorum,  see Robert Etienne, “A propos du ‘garum sociorum’,” Latomus 29 (1970) 297-313.   Translation Gaius Stern,  tabes = corruption, wasting away.
[7]Aliud etiamnum liquoris exquisiti genus, quod garum vocavere, intestinis piscium ceterisque quae abicienda essent sale maceratis, ut sit illa putrescentium sanies. hoc olim conficiebatur ex pisce quem Graeci garon vocabant, capite eius usto suffito 94extrahi secundas monstrantes. nunc e scombro pisce laudatissimum in Carthaginis Spartariae cetariis—sociorum id appellatur—singulis milibus nummum permutantibus congios fere binos. …  laudantur et Clazomenae garo Pompeique et Leptis, sicut muria Antipolis ac Thuri, iam vero et Delmatia.

All the same, while reporting garum’s merits and medicinal value, Pliny disgusts the modern reader by mentioning the decomposing fish.  This seemingly very mixed presentation probably did not faze the Roman audience who was practical and not disgusted by the same smells and tastes as us (e.g. sulphur as a cleanser, fullers using urine as detergent).  In the ancient world, nothing edible was thrown away, because many people struggled with hunger.
The poet Martial 3.77.5, like Seneca before him, regards garum as a luxury good, but one that everyone can afford, and that everyone enjoys.  He criticizes a certain Baeticus for eating capers and onions “swimming” in putrid allex:  capparin et putri cepas allece natantis.  Again here the idea is that Baeticus is no gourmet.  He shuns hare, boar, thrush, and mullet (the latter much praised by T. Annius Milo in a letter to Cicero), but eats simple capers and onions and pours on the garum.  Baeticus is the sort of person who prefers burgers at MacDonalds over duck confit at a French restaurant, and any kind of mustard will do.  He does not need Grey Poupon.
Likewise, in a second epigram, Martial 11.27, the unnamed girlfriend of Martial’s friend Flaccus is satisfied with fairly modest requests from her boyfriend, including garum,whereas Martial’s own girlfriend makes far greater demands, which he fails to deliver, but he likes the fact that she has highbrow tastes.  For us, the point emerges from both epigrams that garum is something everyone can afford, at least the less expensive varieties, so as a luxury good it compares to exotic jam in the US:  not everyone can afford to buy imported Swedish cloudberry jam or Michigan Thimbleberry jam at $12 per eight-ounce bottle, but everyone can afford Safeway raspberry jam (9)

You are made of iron, Flaccus, if your cock can stand
when your girlfriend begs you for six cyathi (half a pint) of garum,
or asks in vain for two pieces of tuna or a slim fillet of mackerel
and thinks herself unworthy of a whole bunch of grapes;
one to whom her maid with delight carries on a red platter
allecem fish-sauce, but she devours it immediately.[8]

44.95  Vitium huius est allex atque imperfecta nec colata faex. coepit tamen et privatim ex inutili pisciculo minimoque confici. apuam nostri, aphyen Graeci vocant, quoniam is pisciculus e pluvia nascitur. Foroiulienses piscem ex quo faciunt lupum appellant. transiit deinde in luxuriam, creveruntque genera ad infinitum, sicuti garum ad colorem mulsi veteris adeoque suavitatem dilutum ut bibi possit. aliud vero . . . castimoniarum superstitioni etiam sacrisque Iudaeis dicatum, quod fit e piscibus squama carentibus. sic allex pervenit ad ostreas, echinos, urticas maris, mullorum iocinera, innumerisque generibus ad saporis gulae coepit sal tabescere. 96 haec obiter indicata sint desideriis vitae, et ipsa tamen non nullius usus in medendo. namque et allece scabies pecoris sanatur infusa per cutem incisam, et contra canis morsus draconisve marini prodest, in linteolis autem concerptis inponitur. 97 Et garo ambusta recentia sanantur, si quis infundat ac non nominet garum. contra canum quoque morsus prodest maximeque crocodile …

[8]Ferreus es, sista repotest tibi mentula, Flacce,/ cum te sexcyathos oratamica gari. vel duo frusta rogat cybii tenuemve lacertum nec dignam toto se botryone putat; cui portat gaudens ancilla paropside rubra  allecem, sed quam protinus illa voret.

The professional diviner from 2nd century AD Ephesus, Artemidorus Daldianus Oneirocritica 1.68, was no fan of garum:  idcirco Artemidorus garum nihil aliud esse nisi putredinem contendit:  ouden allo h shpedwn,  quae sentential in Zonorae et Suidae lexica abiit; – “about it, Artemidorus contends that garum is nothing other than putrid when he says (in Greek) ‘nothing other than rottenness,’ which opinion was absent in the lexicons of Zonoras and Suidas.” (10)

Garum was used extensively in Roman cuisine and found throughout the Empire.  Garum factories were found in Pompeii and Roman Hispania.  Further evidence of garum’s availability and common access appear in two price sources, Tariff of Zarai, CE 202, and the Price Edict of Diocletian, AD 301.  In the Tariff of Zarai the pricing of garum is comparable to wine of the same amount.  In the Price Edict of Diocletian the fish sauce was broken into two quality classifications (first and second).  Again, in comparing with other goods listed in the Edict, it is found that first and second quality garum was priced comparably with first and second class honey.  Inferring from these two sources we can deduce that garum was common enough to be taxed regularly and fell within the price access of the Roman public, corroborating our inferences from Martial (above) 150 years later.  Further, excavation in Pompeii and Herculaneum show amphorae of garum in the homes across a wide stratum of society with all four types found. 

Obviously garum started in Italy for local consumption, but as the Roman Empire expanded, so did the need for garum and the need for local production.  And the need grew as it went, meaning that many new Romans adopted a taste for garum, either because it tastes good (as we argue) or because its consumption was seen as a status symbol.  Augustus settled many Italians in the provinces in the settlements of the 20s BC. One mostly overlooked way they Romanized the provinces, besides recreating grid-pattern Roman cities with baths and a forum, was to bring their tongues with them, meaning both the speaking of Latin – on which much has been said and written before – but also the taste for Roman food.  They imported and eventually produced their own garum to enjoy the flavors of home far from Italy.

[9]I can hardly recommend highly enough Thimbleberry Jam to those who can afford it, sold in eight ounze jars for $12 each, http://thimbleberryjamlady.com/store/index.php?main_page=index&cPath=1&zenid=up3j3qmnejg0ms7u34dbu530q1
[10]See also Galen, Concerning the Properties of Foods 1.1.42-43, Corpus medicorum graecorum, 5.4.2.

Because of the species of fish used, production of garum was mostly based around the shores of the Mediterranean, and the products of Hispania, Lusitania, and North Africa near Carthage were considered the best.[11]  Remains of the garum works in present day Spain testify to the size of production and the wide shipping network of the product.  Garum production eventually spanned coastal Hispania, Lusitania, Gaul, and North Africa.  The Eastern Empire also had processing centers along the Black Sea even beyond Roman territory in the Crimea and the Strait of Kertch.  The most extensive findings have been in Spain and Portugal; one location, Troia had the production capacity of 600 cubic metres.  The largest center is at Lixus in Nothern Morocco, whose capacity was greater than 1000 cubic metres.  These sites indicate how large the production was of the garum.  It was so widely consumed that a kosher variety was available for the Jewish population in Alexandria.

It is a wonder then that garum declined completely in its use and distribution in the Roman and Byzantine world.  But we know what disrupted the centuries-long production and trade of garum:  war and the loss of order.  Beyond the basics of fish, salt and time in producing garum in the Byzantine period large fishing fleets were essential and so were beachfront facilities (especially after regulations were put in place by Constantine Harmenopoulus that garum works could not be within a certain distance of a town due to the odors) and safe shipping routes from areas of production to faraway clients.  Other factors that may have affected garum pricing and access were the requirement of a large workforce, land for facilities, and credit during a tumultuous time where shipping routes would not necessarily be secure.  The Empire’s decline and the contraction of the Empire pulled apart the trade routes and threads from production to the client.  According to archaeologist Claudio Giardino, two additional issues were the salt tax, a heavy burden on a major ingredient of garum, and the lack of security in coastal regions once the Empire could no longer protect itself.  The increase in production and shipping costs made garum far more difficult product to acquire.  For a fuller sense of the change in Roman cuisine through time, observe the list of ingredients and flavoring ingredients that could no longer or rarely be found, including sylphium, lovage, passum, and defrutum. However, the love of preserved fish is still found in modern Italy with salted cod taking the place of Egyptian red mullet, salted anchovy for garum/muria/alec, and salted tuna.  Interestingly enough, garum was rediscovered by Cistercian monks in Campania where Colatura di Alici is produced.  It is produced differently than classic garum and Asian fish sauce, where the brine of the salted anchovies is drawn away from the vat as fermentation occurs.  It is closer to muria than classic liquamen, which was decanted from the container.

[11]Strab. Geog. 3.4.6:  εἶθ᾽ ἡ τοῦ Ἡρακλέους νῆσος ἤδη πρὸς Καρχηδόνι, ἣν καλοῦσι Σκομβραρίαν ἀπὸ τῶν ἁλισκομένων σκόμβρων, ἐξ ὧν τὸἄριστον σκευάζεται γάρον: εἴκοσι δὲ διέχει σταδίους καὶ τέτταρας τῆς Καρχηδόνος.
Next is the island of Hercules, near to Carthage, and called Scombraria, on account of the mackerel taken there, from which the finest garum is made.  It lies 24 stadia from Carthage

In contrast, the production of fish sauce in Asia has been uninterrupted for centuries. There is a question of west-east transfer of fish sauce technology, but this paper avoids that controversy and limits its focus to the similarity of the two food products developed in different areas of the world.  One does not know for certain whether Asian fish sauce (fish water) originated in China or Southeast Asia.  Apparently, the diffusion of the concept emerges out of China prior to the Han dynasty (206 BC – AD 220).  Roman and Vietnamese fish sauce have a similar ratio of fish to salt ≤ 5:1, but the Romans fermented garum for less time before bottling it.  Both Roman and Southeast Asian cuisines use fish sauce in similar manners, as both an ingredient in cooking and as a condiment that can be diluted with other ingredients like vinegar or sweetener.  Both have grades of quality.  Vietnamese and Thai fish sauce divide into four grades.  The first grade is similar to Roman flos, it is the first draw from the vat.  The fish remains from the vat are mixed with salt water to ferment for two to three additional months to create the second and third grades.  The is where the fish remains from the third grade fermentation are boiled with salt water to produce the lowest grade (probably what Baeticus slathers on his capers.  For a clearer chart of production, see Curtis’ chart from “Umamni and the Food of Classical Antiquity. (12)

Asian fish sauce production is as diffuse as the ancient Roman was, but rather than suffer a fall back in production, it has expanded into a multi-million dollar industry with EU origin classification.  The popularity of Southeast Asian cuisines, in particular, Thai and Vietnamese has magnified the customer base of fish sauces (13)

[12]Robert I. Curtis, “Umamni and the Food of Classical Antiquity,” The American Journal of Clinical Nutrition 90.3 (2009), 7125-85.

[13]Another area of expansion is Africa, where fish sauce is used in Senegalese and other West African cuisines sometimes to replace other preserved fish products (momone or guedj). Though fish sauce is on the rise, there are still issues that could see the decline of Asian fish sauces, such as climate change and the collapse of fish stocks in the coastal regions of Asia.  Vietnamese fish sauce uses pelagic fish, such as anchovy.  The Romans used more varieties of fish including larger fish, such as tuna and mackerel in addition to pelagic fish.  The Asian industry uses a smaller base of fish species in its production.

In the end, we have a food item that has been around to see its own decline and re-birth.  Fish sauce was a dominant flavoring agent of the large Roman Empire and declined with it.  It simultaneously emerged in Asia and now is the dominant flavoring agent for cuisines that are finding homes throughout the global economy.  Ovid, I think, would have been pleased to eat at a Thai or Vietnamese restaurant, if one opened in Tomi. 
Now try a bit of Roman patina cooked with garum and pine nuts

References:
Brothwell, Don R, and Patricia Brothwell. Food in antiquity: a survey of the diet of early peoples. JHU Press, 1969.
 
            Corcoran, Thomas H. “Roman fish Sauces,” Classical Journal 58 (1963), 204-10;
                      and Curtis, Robert I. “In Defense of Garum,” Classical Journal 78 (1983), 232-40.
 
Curtis, Robert Irvin. “Umamni and the Food of Classical Antiquity,” The American Journal of Clinical Nutrition 90.3 (2009), 7125-85.
            Garum and Salsamenta: Production and Commerce in Materia Medica. Brill Academic Pub. (1991).
            The Production and Commerce of Fish Sauce in the Western Roman Empire: A social and Economic Study. (Diss. 1978).
Ancient food technology. Brill Academic Pub. (2001).
 
Dalby, Andrew, and Sally Grainger. The classical cookbook. Getty Publications, 1996.
 
Faas, Patrick, and Shaun Whiteside. Around the Roman table. University of Chicago Press, 2005.
 
Giacosa, Ilaria Gozzini. A taste of Ancient Rome. Rand Corporation, 1994.
 
Grainger, Sally. Cooking Apicius: Roman recipes for today. Prospect Books, 2006.
            Grimal, Pierre and Monod, Thomas “Sur le veritable nature du ‘garum,'” Rev. Étud. ancien., 34: 27-38, 1952;
Claude Jardin, “Garum et sauces de poisson de 1’inriquiti,” JZiV. Stud. Liguri, 2T70-96, 1961;
Ruddle, Kenneth, and Naomichi Ishige. “On the origins, diffusion and cultural context of fermented fish products in Southeast Asia.” lobalization, Food and Social Identities in the Asia Pacific Region. Sophia University Institute of Comparative Culture, Tokyo (2010).
 
Thongthai C, Gildberg A. Asian fish sauce as a source of nutrition. In: Shi J, Ho CT, Shahidi F, eds. Asian functional foods. Boca Raton, FL: Taylor & Francis, 2005:215–65.
 
            R. Zahn, “Garum,” A.Pauly, et al, ed. in Real-Encyclopedie der classischen Altertumswissenschaft, 80 vols., Stuttgart, J. B. Metzler, 1893-1974, 1st series, 8, cols. 841-849, 1912 (hereinafter referred to as RE).  
 
http://www.thaifoodandtravel.com/features/fishsauce1.html
 
http://vietworldkitchen.typepad.com/blog/2008/11/fish-sauce-buying-guide.html
 
 

Categorias
Garum Publicações e estudos

Geoponica

Geopónika

Geoponia é o nome de uma coleção de cerca de vinte livros sobre agronomia e agricultura escritos em grego e compilados no século X em Constantinopla pelo imperador bizantino Constantino VII.

A palavra grega geoponica significa “empresas agrícolas”.

A coleção do século X é algumas vezes erroneamente atribuída em sua totalidade ao autor do século VII de Cassian Baso Casianus Basso Scholasticus, cuja coleção, também chamada de Geoponica, foi integrada na compilação existente.

O Baso foi baseado no trabalho de Vindonio Anatolio Vindonius Anatolio, s. IV: outro compilador agrário.

A última compilação inclui contribuições de Plínio, o Velho, do agrônomo cartaginês Mago e até mesmo do profeta Zoroastro.

O trabalho cobre todo tipo de informação agrícola, como clima, celeste e terrestre, assim como presságios, viticultura, oleocultura, apicultura, medicina veterinária, construção de tanques e muito mais, sendo que parte que aqui reproduzimos tem a ver com o fabrico de garum.

Geopónica o Extractos de agricultura de Casiano Baso;
traducción y comentarios de María José Meana, José Ignacio Cubero, Pedro Sáez;
Instituto Nacional de Investigación y Tecnología Agraria y Alimentaria 1998

Geoponica (XX, 46, 1 e seguintes) – séc. IX, bizantino.

Pôr num recipiente as vísceras de peixes e peixes pequenos com sal e deixar ao sol mexendo frequentemente. Terminada a maceração por efeito do calor, retira-se o garum introduzindo um cesto. O garumescorre para dentro do cesto e é filtrado através dele, podendo-se recolher o chamado liquamen. A parte sólida que fica é o alex. Alguns misturam duas medidas de vinho velho por cada medida de peixe.
  Se se precisar de usar o garum sem o ter tanto tempo ao sol , coze-se rapidamente pondo o peixe em água do mar concentrada de modo a que um ovo bóie (…). Mas a flor do garum obtém-se com as entranhas, o sangue e o suco dos atuns sobre os quais se deita sal e se deixa macerar durante dois meses.

Capítulo 46

Fabrico de garum, 23

1. O denominado liquame 24 é obtido da seguinte forma: colocam-se as vísceras do peixe numa tigela e salgam-se;
também os pequenos peixes como o peixe-rei (Pejerrey), pequenos salmonetes, chuclas, anchovas ou mesmo todos aqueles que sejam muito pequenos, todos são igualmente salgados e preservados em salmoura ao sol, mexendo com frequência.
2. Depois de terem permanecido na salmoura durante um verão, o garum é retirado desta forma: um grande cesto espesso é colocado no recipiente cheio destes peixes e o garum é infiltrado no cesto e, assim, passado pela peneira da cesta, o chamado liquamen é retirado; os restantes resíduos tornam-se em hallec 25.
3. Mas os bitinianos preparam desta forma: utilizam-se as Spicara maena, (o picarel manchado), melhor os pequenos do que os grandes, ou na falta destes, anchovas, chicharros, cavalas, ou mesmo hallec, ou uma mistura de todas elas. Coloca-se esta mistura na mesa de um padeiro onde a farinha seja geralmente amassada e amassa-se adicionando dois sextários* de sal a cada tipo de peixe, de modo que se misturem com o sal; Depois de deixar durante a noite, coloca-se num recipiente de barro e mete-se destapado ao sol por dois ou três meses, mexendo periodicamente com uma vara, depois cobre-se e guarda-se.
4. Alguns também acrescentam para cada sextário de peixe dois de vinho
5. Além disso, se quiser consumir o garum imediatamente, isto é, não para o pôr ao sol mas para o ferver, fará o seguinte: Verifica-se a salmoura para que ao lançar um ovo na água este flutue  (se afundar ainda não tem sal suficiente); Em seguida, coloca-se o peixe com a salmoura numa panela, acrescentando orégãos, e leva-se ao fogo até ferver, ou seja, até começar a evaporar um pouco; alguns também adicionam xarope; depois, quando estiver frio, despeje em uma peneira, repetindo o processo duas ou três vezes até que o liquido saia limpo, cubra e guarde.
6. Mas o melhor garum, o chamado haimation, é feito assim: as vísceras do atum são misturadas juntamente com as guelras, o sumo e o sangue e o sal de que precisam é aspergido sobre as mesmas; São deixados num recipiente e após dois meses no máximo, este é perfurado e sai o garum chamado haimation 26.

23. Garum era um molho de peixe resultante da auto-maceração de certos peixes na presença de um anti-séptico, neste caso o sal. Era um condimento muito apreciado nos tempos antigos.
Veja a este respeito:
P. Grimal e Th. Monod, “Sur la véritable nature du Garumm” REA, 54 (1952), pp. 27-38; J. Andre, L´alimentation … pp.195-198;
R. Curtis, Garum e Salsamenta. Produção e Comércio em Matéria Médica. Leiden, 1991.
Para o garum hispânico, um dos mais famosos:
M. Ponsich e M. Tarradell, Garum et Industries antiques de la salaison dans la Mediterranee occidentale. Paris, 1965
e
M. Ponsich, Azeite e peixe salgado. Fatores geoeconômicos de Bética e Tingitânia. Madrid, 1988.

24. O liquamen aparece mencionado pela primeira vez no meio do séc. I A.D. (Col. 6,2,7) embora a mesma palavra também seja usada para se referir a líquidos. É o molho de peixe mais romano, sendo este o termo mais utilizado para designar estes molhos, embora isso não signifique que o termo garum tenha desaparecido. Parece que a única diferença está no uso, no processo de produção, de peixes diferentes, geralmente menores. Neste texto, o processo de fabricação do liquamend parece diferenciar-se do garum, sendo o segundo produto do primeiro, embora a passagem seja um tanto confusa.
Ver R. Curtis, cit. pp. 7 e 135. 25 · Hallec, como vemos, é um subproduto do garum, do qual não conhecemos sua forma nos tempos clássicos gregos. A sua avaliação é geralmente pejorativa.
Ver R. Curtis, cit. pp. 7-8 e 14. 26 ·
Sobre o garum da qualidade, ver R. Curtis, cit pp. 135  173. CURTlS, R. Garum e Salsamenta. Produção e Comércio em Matéria Médica. Leiden, I 991.

 

*Sextário é uma medida para líquidos usada pelos romanos. Equivalente a 0,5468 litros. Era dividido em doze partes iguais que eles chamavam de ciatos.

Categorias
Garum Publicações e estudos

El garum de Pompeia

El garum de Pompeya y Herculano (2008-2012)

Síntesis de la primera campaña del proyecto hispano-italiano

D. Bernal Universidad de Cádiz D. Cottica
A. Zaccaria Università Ca’ Foscari di Venezia

We present in this paper the project named “From Fishing to Garum at Pompeii and Hercolaneum. Exploitation of marine resources in the Vesubian area”, carried out by the University of Cádiz (south Spain) and the University Ca’ Foscari of Venice (Italy) from 2008 to 2012. The lack of knowledge on this topic in Campania in the last decades is shown by modern scholars who have to use literature dating back to the seven-ties in the 20th century. The three main aims of the project are: gathering all evidences on ancient fishing in these campanian cities, trying to reconstruct ancient fishing gear and the spcies fished and eaten daily (by the compilation and study of fishing equipment –hooks, weights, etc.-, archaeozoological data –fish bones and marine shells- & pictorial evidence –mosaics, etc.-); secondly, studying all data related to fishprocessing, such as regional garum amphorae and related vessels as the well known Scaurus’ urcei, as well as analysing their paleo-contents, and the buildings inside the city related to those activities, such as the House of A. Umbricius Scau-rus (VII, Insula Occidentalis, 12-15) and the so called “Garum Shop” (I, 12, 8). At last a medium-term synthesis on the ma-ritime economy of Pompeii and Hercolaneum should be pre-sented. All activities developed during the first archaeologi-cal season in 2008 are presented, showing the first results of the project and other complementary activities such as the collaboration in the Venetian Regio V project (archaeological trench named Saggio 3 placed in V, 4, 3) and the making of a documentary on methodology of the archaeological research.

Antecedentes. De la pesca y la industria en ámbito campano
El entorno vesubiano es un ambiente especialmente sensible y bien atendido por la investigación arqueológica, que desde el siglo XIX se convirtió en epicentro de la investigación internacional, por el excepcional estado de conservación de sus evidencias. Dicha tónica científica se ha mantenido de manera prácticamente constante hasta la actualidad, gozando en la última década de una especial vitalidad, como denotan los dos Congresos Internacionales en los cuales se han dado a conocer las principales novedades de la investigación (Guzzo y Guidobaldi, 2005 y 2007). No obstante, las tendencias “historiográficas”, como se puede documentar a vuelaplu-ma en los dos volúmenes citados, han focalizado la atención en los principales temas por los cuales estas ciudades del entorno campano son excepcionales, sobre todo su topogra-fía y urbanismo, la pintura/musivaria y aspectos diversos de tipo socio-económico y de la vida cotidiana. Adicionalmente, los proyectos internacionales en curso de desarrollo tienden a centrarse en uno o varios inmuebles de la ciudad de Pompeya (normalmente una “casa” o una insula completa), procediendo a su contextualización e interpretación histórica, ya que son múltiples los ambientes excavados de antiguo necesitados de una revisión científica en profundidad.

Figs. 1A y 1B Casa de A. Umbricius Scaurus según Curtis (1991, 93, fig. 5), con los conocidos mosaicos del atrio, actualmente en las dependencias de la Soprintendenza (nº inv. SAP 15190).

A pesar del elevado nivel de conocimientos sobre múltiples aspectos de Pompeya y Herculano, hay otras parcelas de Historia Económica que se encuentran aún en estado embrionario. Tal es el caso de la Historia Marítima del golfo napolitano, de su vinculación con el mar y de la problemática de la implicación de estas comunidades en las actividades haliéuticas. En este contexto encontramos mínimas referencias a estudios centrados específicamente en la pesca en la Antigüedad, habiéndose centrado los trabajos precedentes en la valoración general de los registros ictiológicos y malacológicos conservados de las antiguas excavaciones y su conexión con la información iconográfica, procedente básicamente de la pintura y de los mosaicos, como se puede comprobar en los trabajos más recientes sobre el yacimiento (Genovese, Cocca, Russo, 2001; Reese, 2002 a y 2002 b; Carannante, Chilardi, Della Vecchia, 2009). En múltiples estudios sobre la ciudad campana y su entorno se han dado a conocer piezas relacionadas con la pesca y la explotación de recursos del mar —anzuelos o restos de fauna marina normalmente—, como en la monografía Cibi e sapori a Pompei e dintorni (AA.VV., 2005, fichas 89-91, 96-100, 102, 120, 121), si bien los mismos se han tratado siempre de manera aislada y puntual. Respecto a la elaboración de garum y otras conservas de origen piscícola, contamos con numerosos trabajos de R. I. Curtis, realizados especialmente en los años setenta e inicios de los ochenta del siglo pasado (1979 a, b y c; 1984 a y b), aunque matizados con posterioridad en otras síntesis (Curtis, 1988-89; 1991, 90-96). Y evidentemente sin olvidar la aportación de la anforología al conocimiento del comercio de salsas de pescado en Pompeya, procedentes mayoritariamente de Hispania (Manacorda, 1977), y el excepcional corpus de inscripciones pintadas —tituli picti— recuperadas en las antiguas excavaciones (Schöne, 1871; Mau, 1909), que junto al volu-men del C. I. L. de Roma siguen constituyendo las colecciones epigráficas más nutridas para la caracterización del garum y de las diversas variedades de salsas de pescado confeccionadas y consumidas en el Mare Nostrum. Tampoco debemos olvidar los trabajos en torno a A. Umbricius Scaurus, uno de los comerciantes conserveros más conocidos de la Antigüedad precisamente gracias a los mosaicos que ornamentaban el atrio de su casa sita en el civico 15 de la insula Occidentalis (Fig. 1A), en los cuales se representaron urcei con inscripcio-nes alusivas al liquamen y a la “flor del garum de escómbrido” (Fig. 1B) elaborado según una “receta” singular —ex officina scauri—, sobre lo cual han corrido ríos de tinta (Etienne y Mayet, 1991; Curtis, 1991), ya que no existen ejemplos simi-lares en todo el Mundo Antiguo. A pesar de la cantidad de información disponible, los estudios más recientes denotan la escasez de evidencias empíricas sobre la industria conservera local/regional (Bernal, 2007), y la constante recurrencia a tópicos en la interpretación de la economía de las ciudades campanas en los análisis de las industrias haliéuticas de la Italia romana (Marzanno, 2007). En este contexto, se iniciaron una serie de colaboraciones científicas en el año 2007 entre la Università Ca’ Foscari de Venecia (en adelante, UNIVE) y la Universidad de Cádiz (en adelante, UCA), plasmadas en la colaboración de esta última en el estudio de las ánforas del proyecto “Impianto Elettrico”, un singular proyecto de catalogación patrimonial liderado por los colegas venecianos de las primeras excavaciones estratigráficas realizadas en Pompeya en los años ochenta del siglo pasado (Cottica y Curti, 2007). Dicha colaboración internacional ha generado unos vínculos estables de investigación, que se han concretado recientemente en la firma de un Convenio de Colaboración rubricado por los Rectores de ambas instituciones para los próximos seis años, con el objetivo de desarrollar “Excavaciones arqueológicas e investigaciones interdisciplinares en Pompeya y en el área vesubiana”.

En este contexto de colaboración se sitúa el proyecto que presentamos a continuación, que aúna a un equipo de investigación español (integrado en el Grupo HUM-440 del IV Plan Andaluz de Investigación de la Junta de Andalucía) especializado en arqueología marítima; y un equipo italiano con muchos años de experiencia en Pompeya, responsable actualmente de varios proyectos centrados en el estudio de las transformaciones del paisaje urbano y del ambiente económico en la Regio V y en la Regio VI (Zaccaria Ruggiu, 2006; Zaccaria y Maratini, 2007). Una de las especificidades de este proyecto hispano-italiano es el intercambio de docentes y de estudiantes —a través del Programa Erasmus, activado entre ambas universidades desde el año 2008— y de la transferen-cia tecnológica y el intercambio de experiencias. El equipo de investigación español constituye uno de los más consolidados en España en Arqueología de la Pesca y en la problemática de la industria pesquero-conservera en el Mundo Antiguo, con más de una década de trabajos y estudios histórico-arqueoló-gicos en torno a esta temática (recientemente Bernal, 2006 y 2009, ed.; Lagóstena, Bernal y Arévalo, 2007, eds.), con directa implicación en la dirección de las excavaciones excavaciones arqueológicas y en los estudios de algunos de los yacimientos pesquero-conserveros mejor conocidos de Hispania, como es el caso de las factorías de salazones de Baelo-Claudia (Arévalo y Bernal, 2007, eds.), el barrio conservero urbano de Iulia Traducta (Algeciras), los alfares y factorías salazoneras de Villa Victoria/Carteia (San Roque) en la orilla norte del Estrecho de Gibraltar; o las cetariae de Septem Fratres (Ceuta) y algunos yacimientos marroquíes como Metrouna en la Mauretania Tingitana. Las perspectivas de análisis y de comparación de los modelos económicos potencialmente aplica-bles al área campana son notables a través del proyecto de investigación planteado. 

Un singular proyecto italo-español. Planteamiento y objetivos

El formato de colaboración elegido ha sido un proyecto de investigación bilateral, que aúne investigadores de ambas instituciones, y con un plazo de ejecución quinquenal, iniciado en el año 2008. La temática, “Pesca y garum en Pompeya y Herculano. La explotación de recursos del mar en ámbito vesubiano”, trata de desarrollar tres objetivos generales: — Recopilación y estudio arqueológico de todas las evidencias sobre la pesca en Pompeya y Herculano, con el objetivo de realizar una aproximación histórico-arqueológica precisa sobre las técnicas de pesca y los productos obtenidos del mar. — Recopilación y estudio arqueológico de todas las evidencias sobre la elaboración de conservas de pescado (Garum, salsamenta y otros derivados) en ambas ciudades, con el objeto de rastrear la repercusión de los mismos sobre la paleodieta y el comercio de dichos productos piscícolas en el Imperio por parte de las ciudades vesubianas. — Realizar una síntesis a medio plazo sobre la economía marítima de Pompeya y Herculano y de todos los aspectos relacionados con la explotación de los recursos marinos por ambas ciudades campanas. Para acometer los objetivos anteriormente esbozados y una vez obtenido el pertinente permiso de la Soprintendenza Archeologica di Pompei (en adelante, SAP) se plantean las si-guientes actividades científicas, vinculadas a cada uno.

Objetivo 1 (Pesca)
1.- Inventario y estudio del instrumental pesquero (básicamente anzuelos, pesas de red de plomo/cerámica/piedra, agujas para la reparación de redes y cualquier otro instrumental asociado, incluidos restos de redes).

2.- Inventario y estudio arqueozoológico de los restos de fauna marina existentes (ictiológicos, malacológicos y de otra naturaleza —corales, etc…—).

3.- Inventario y estudio de los restos muebles e inmuebles con iconografía marina, como complemento al estudio de la fauna (mosaicos, pinturas, etc…).

4.- Inventario de las piscinas utilizadas en los ambientes domésticos para el mantenimiento y posible engorde del pescado, es decir para tareas de acuicultura. Contamos con casi una decena de ejemplos recogidos recientemente, incluyendo algunas piscinas con oquedades para permitir guarecerse a los peces, como la del jardín de la casa VIII, 2, 14 (según Reese, 2002 a, 274-275 y figura 225).

Objetivo 2 (Salazones y salsas de pescado)

1.- Inventario y estudio de las ánforas y otros elementos cerámicos o de otra naturaleza (vítreos o metálicos) utilizados para envasar las salsas de origen local campano. Básicamente las denominadas ánforas del tipo Dr. 21/22, recientemente sistematizadas (Botte, 2007, 2008, 2009 a y b), los urcei del grupo de Umbricius Scaurus y otros con restos de preparados piscícolas —dolia o vasijas diversas, algunas con conservas en su interior— (AA.VV., 2005, 87 y 92).

2.- Inventario y estudio de los ambientes pompeyanos relacionados con el procesado/venta de pescado y con los responsables de la comercialización. Al menos, contamos apriorísticamente con dos ejemplos, que son la Casa de A. Umbricius Scaurus (VII, Insula Occidentalis, 12-15) y la denominada “Tienda del Garum (I, 12, 8), esta última de especial interés.

El tercer objetivo se desarrollará a medio plazo, cuando se ultime el proyecto y una vez que se disponga de los resultados científicos del mismo. En cuanto a la metodología de investigación arqueológica, y además de las estrategias tradicionales en el estudio de materiales arqueológicos muebles —el dibujo, la documentación gráfica y la toma de muestras—, está prevista la realización de estudios arqueométricos, especialmente en los que se refiere a la caracterización de restos físicos de paleocon-tenidos (como es el caso de los estudios arqueozoológicos, como por ejemplo de los restos de conserva de peces en un ánfora precisamente de la Tienda del Garum, ambiente 13; AA. VV., 2005, 87), así como analíticas orgánicas en envases relacionados potencialmente con conservas de origen piscícola, caso de los conocidos urcei de Umbricius Scaurus (AA.VV., 2005, 88, ficha 100) o los dolios utilizados aparen-temente para las conservas. El estudio de los ambientes inmuebles, adaptado a las exigencias habituales de la arqueología moderna, incluirá la topografía detallada de los ambientes, el estudio paramental y arqueo-arquitectónico y, en caso necesario, sondeos estratigráficos para la datación de los ambientes, todo ello bajo autorización expresa de la SAP. Ello ha conllevado la conformación de un equipo permanente conformado por arqueólogos, arqueozoólogos —ictiólogos y malacólogos—, arqueobotánicos, químicos.

La campaña del año 2008. Actividades y resultados preliminares

La campaña del año 2008 ha contado con la financiación por parte española del Ministerio de Cultura, a través del programa de Proyectos Arqueológicos en el Exterior, así como con la colaboración de la Fundación Pouroulis (Contrato OT2007/ 130 de la Universidad de Cádiz); asimismo a través de diversos proyectos PRINN financiados por el gobierno italiano.

Las actividades se han desarrollado entre mediados de junio y mediados de julio del año 2008, habiendo trabajado conjuntamente los investigadores italo-españoles. El equipo de trabajo ha estado coordinado por los tres codirectores—Dr. D. Bernal, Profesor Titular de Arqueología del Departamento de Historia, Geografía y Filosofía de la UCA y las Dras. D. Cottica y A. Zaccaria, Profesoras de Arqueología del Departamento de Ciencias de la Antigüedad y del Próximo Oriente de la UNIVE— Además de la colaboración puntual de otros investigadores y alumnos, han formado parte del equipo permanente las doctorandas italianas C. Acqua y E. Cappelletto, de Venecia. Por parte de la UCA han partici-pado la Dra. A. Arévalo, Profesora Titular de Arqueología, y los doctorandos y Becarios de Investigación de esta institución M. Bustamante, J. J. Díaz, J. Lagóstena y A. M. Sáez, así como los licenciados M. Lara y J. Vargas. Han participado asimismo investigadores de otras instituciones españolas, concretamente J. Bermejo, doctorando y Becario de Investigación de la Universidad de Huelva, F. Villada Paredes, Arqueólogo Municipal de la Ciudad Autónoma de Ceuta, R. Jiménez-Camino, Arqueólogo Municipal de la ciudad de Algeciras (Cádiz), L. Lorenzo, Gerente de Figlina, Gabinete de Arqueología, Desarrollo y Servicios del Patrimonio Cultural S. L. y A. Pouroulis, por parte de la Fundación Pouroulis. Agradecemos muy especialmente a P. G. Guzzo, Superintendente de la SAP de Pompeya, y a M. P. Guidobaldi, responsable de Herculano, su amabilidad y predisposición para el avance del proyecto. Asimismo, en Pompeya, a A. D’Ambrosio y al restante personal de la SAP por su eficaz gestión y ayuda en todo momento, muy especialmente a G. Di Martino y al Sr. Cesarano por su permanente disponibilidad, así como a los conserjes y responsables de la tutela de los bienes muebles e inmuebles. En Herculano, la amabilidad del Sr. Sirano ha permitido que el trabajo fuese muy cordial y agradable y, adicionalmente, tremendamente operativo.

Indicar, por último, que las actividades realizadas han constituido una primera toma de contacto con las instituciones gestoras del patrimonio y, especialmente, con los diferentes departamentos, laboratorios, almacenes y dependencias en las cuales se articula la SAP. Como se verá a continuación sucintamente, dicha atomización ha complicado el proceso de rastreo documental, por lo que buena parte de las actividades iniciadas en la primera anualidad deberán ser continuadas en futuras campañas del proyecto.

Las actividades realizadas pueden ser divididas en dos grandes grupos. De una parte, una serie de actuaciones vinculadas con la obtención de documentación sobre la industria pesquero-conservera en ámbito vesubiano, que han permitido una toma de contacto con los dos yacimientos objeto de estudio (Pompeya y Herculano) y con su problemática científica y el volumen de documentación disponible. De todo ello trataremos de dar cuenta sucintamente en las páginas que siguen. Sí queremos indicar que esta primera campaña ha constituido un acercamiento preliminar, habiendo testado la potencialidad de las líneas de trabajo previstas en el proyecto de investigación aprobado por la SAP, y, especialmente, la correcta valoración de las líneas de investigación y actuaciones a desarrollar en el futuro. Sí se ha podido valorar in situ tanto la viabilidad del proyecto como el interés científico del mismo, por lo que se ha decidido llevar a buen término la programación planteada inicialmente, que es quinquenal (2008-2012). Por otro lado, y de manera complementaria, la parte española del equipo ha desarrollado una colaboración en el proyecto Regio V de la Universidad de Venecia, materializada en la ejecución de una actividad arqueológica puntual —sondeo estratigráfico— en una de las insulae objeto de estudio por el equipo italiano, con el objetivo de generar un documental didáctico sobre metodología de investigación arqueológica, como veremos más adelante.

Actividades arqueológicas en Pompeya

El material arqueológico mueble de Pompeya está depositado en diversas dependencias aisladas, así como la documentación administrativa relativa a las excavaciones arqueológicas y la bibliografía publicada relativa a temas campanos. De ahí que se hayan tenido que arbitrar diversos grupos de trabajo paralelos que han desarrollado su actividad tanto en las dependencias administrativas de la SAP en Pompeya (Biblioteca y Archivo) como en los Laboratorios (Ciencias Aplicadas), en los almacenes (Casa de Bacco y Graneros del Foro) y en algunos de los inmuebles del propio yacimiento (Tienda del Garum y Casa de Umbricius Scaurus). Ha sido necesario incluso desplazarse a almacenes e instalaciones situadas fuera del propio yacimiento, como sucede con el Antiquarium de Boscoreale. De ahí que logísticamente la obtención de la información haya sido más compleja de lo habitual y su homogeneización será difícil, al encontrarse la misma dispersa, no sistematizada y con diver-so gradiente de accesibilidad. A continuación presentamos un balance sucinto de cada una de las actividades desarrolladas.

En relación a la documentación en la Biblioteca de la SAP, la ingente actividad científica en esta ciudad vesubiana desde el s. XVIII ha generado un caudal informativo copiosísimo. Una buena parte del mismo no está inserto en los canales de distribución científicos debido en parte a su antigüedad, como sucede con trabajos como el de Helbig (1868), que necesitan de una atenta lectura y escrutinio de cara a la obtención de datos sobre la explotación de recursos marinos. En otras ocasiones la publicación de las Notizie degli Scavi o de informaciones diversas en foros de difusión local/regional han provocado su desconocimiento por parte de la comunidad científica internacional. A esta tarea se han dedicado tres investigadores en turnos rotativos, que han realizado un vaciado sistemático de la Biblioteca de Pompeya, con interesantes resultados, pues en ocasiones constituyen las únicas referencias disponibles sobre hallazgos de instrumental pesquero, ánforas de transporte o iconografía marina que no se conocen por otro tipo de fuentes. Esta actividad ha sido iniciada, si bien la amplitud de la información editada requiere futuros acercamientos en detalle a esta problemática. Se ha procedido a realizar una primera Base de Datos exhaustiva de títulos bibliográficos de interés para el proyecto, más allá de los monográficos sobre la pesca o las conservas de Pompeya/Herculano ya conocidos previamente, escaneando/fotografiando el material más significativo, al tratarse en muchos casos de obras de difícil acceso. Las múltiples referencias obtenidas son de gran interés para la reconstrucción de los ambientes objeto de estudio como la “Tienda del Garum” y, en otras ocasiones, claves para la identificación de la procedencia topográfica de mucho material mueble, actualmente descontextualizado, conservado en los almacenes de la SAP. Se ha llevado a cabo un Diario de Trabajo con el control de todo el proceso de documentación, procediendo a la ejecución de visitas de campo puntuales destinadas a verificaciones diversas. Algunos de los trabajos consultados han sido de gran interés en relación al inicio de la línea de rastreo iconográfico, tratando de sistematizar todo el instrumental o la musivaria/pintura con temas marinos y/o pesqueros, como sucede con el conocido trabajo de Della Corte (1955). Por último, se ha iniciado el vaciado documental de los expedientes informatizados de la SAP, con interesantes resultados. La valoración del escrutinio bibliográfico ha sido altamente satisfactoria, habiendo permitido una primera aproximación a las temáticas objeto de estudio y habiendo aportado mucha información para contextualizar materiales arqueológicos vinculados con la pesca desconocidos previamente y, en algunos casos, no localizados actualmente en los inventarios de la SAP. En los Archivos de la SAP se han acometido labores análogas. Dispersos por varias instituciones, básicamente en la zona de oficias del yacimiento y en el interior de los “Uficci Scavi” se ha procedido a la revisión del material documental de diversa naturaleza, especialmente los libros de inventario y/o diarios de excavación inéditos y manuscritos (Fig. 2). Algunos de los diarios de excavación se encuentran informatizados y transcritos, mientras que en otras ocasiones la con-sulta de los mismos es manual, siendo un proceso lento y muy detallado. El vaciado sistemático de algunos de los libros de inventario ha proporcionado información de primera ma-no, como sucede con los diversos taxones de fauna marina —especialmente malacológicos— y restos de instrumental pesquero referidos en el Libro 4 del Anticuario Pompeiano (Vetrina 14, pp. 186-199, nº inventarios 1349-1519). Otro de los resultados interesantes del trabajo en los archivos ha sido la documentación de multitud de material gráfico y fotográfico de las antiguas excavaciones acometidas en los ambientes objeto de atención por parte del proyecto. Un buen ejemplo es el de la “Tienda del Garum”, inmueble del cual se ha podido rescatar parte del material fotográfico de las antiguas excavaciones en los años sesenta del siglo pasado así como de diversas intervenciones posteriores de la SAP en este ambiente (Fig. 3), que permiten contextualizar los hallazgos de ánforas y dolia en su interior. 

Fig. 2 Detalle del proceso de revisión y transcripción de la documentación original de los diarios de excavación (Casa di Bacco, Pompeya).

Fig. 3 Fotografía del Ambiente 9 de la “Tienda del Garum” (I, XII, 8), con los dolia y ánforas in situ (Archivo de la SAP).

Especialmente interesantes son una serie de bocetos, realizados por M. Oliva, cuyo estudio en curso permitirá en su momento la reconstrucción del ambiente arqueológico inmediatamente tras la finalización de las excavaciones en este inmueble por A. Maiuri (Fig. 4).

Se han realizado los contactos pertinentes con la Directora del Laboratorio de Ciencias Aplicadas de la SAP, Dra. A. M. Ciarallo, de cara a iniciar vías de colaboración. Además de una serie de visitas de cara al conocimiento de la colección de biofactos, se iniciaron los contactos con diver-sos colegas arqueozoólogos y biólogos de Nápoles para futuros trabajos conjuntos. Especialmente significativa es la colección de malacofauna procedente de las antiguas excavaciones (Fig. 5), en parte accesible desde la red, si bien las referencias topográficas y contextuales de una buena parte de los ejemplares son mínimas o inexistentes.

Asimismo, se iniciaron los estudios de localización, inventario y estudio preliminar del material arqueológico depositado en los almacenes de Pompeya, De una parte, se comenzaron los trabajos en la denominada “Casa di Bacco”, donde actualmente se encuentra la Dirección de las Excavaciones y otras dependencias administrativas, así como los ficheros con la información del material mueble inventariado preliminar mente. En primer lugar se ha procedido al vaciado selectivo de las fichas de inventario (“schede”), tratando de aislar ma-teriales objeto de interés por las descripciones temáticas y/o las ilustraciones. Especial interés se ha demostrado hacia el utillaje de pesca, las ánforas de producción local/regional, los restos de fauna o los elementos musivos o de otra naturale-za depositados en estas dependencias —como los conocidos mosaicos de la casa de A. Umbricius Scaurus— Debido a las características de los depósitos/almacenes, en los cuales el material custodiado es el especialmente relevante/selecto, los resultados positivos han sido los relacionados con materiales metálicos, destacando especialmente los anzuelos, las agujas de reparar redes/lanzaderas, las pesas plúmbeas, algunas relacionables con redes/artefactos pesqueros (Fig. 6).

Debido a la ingente cantidad de materiales y especialmente a la dificultad de acceso a los mismos, se decidió proceder a una primera selección de cara a su estudio, que ascendió a unos 50 ejemplares entre anzuelos y lanzaderas, procedentes en su mayor parte del ámbito periurbano (Pago Marittimo). Por su parte, en los almacenes conocidos como “Granai del Foro” se realizó un escrutinio de las procedencias del material mueble procedente de la “Tienda del Garum”, pues contábamos con información oral y gráfica del inventariado de parte de las ánforas de estas dependencias en los años noventa del siglo pasado. Especialmente interesante fue la documentación de parte del material de la “pila” de ánforas procedentes del Ambiente 13 de la “Tienda del Garum”, cuyo proceso de reubicación en los ambientes de procedencia pudo ser iniciado. Como ya se ha indicado anteriormente, se realizó el vaciado del Antiquarium de Boscoreale, un Museo de Sitio en el entorno periurbano de Pompeya en el cual la exposición permanente gira en torno a las relaciones hombre-medio, documentándose diversas evidencias relacionadas con los temas marinos. De una parte una interesante colección malacológica y en menor medida ictiológica, que ha sido debidamente inventariada y estudiada por nuestro equipo. Además de ello, se han estudiado aparejos de pesca broncíneos procedentes de diversas localizaciones y, especialmente, se han muestreado algunas ánforas que aún conservaban restos de sus paleocontenidos originales, concretamente el tercio inferior de una Dr. 21/22 (Fig. 7) y un ánfora oriental, cuya importancia es capital, ya que no superan la cifra de 50 las ánforas con este tipo de evidencias procedentes del Mediterráneo. Estos restos están actualmente en proceso de caracterización arqueozoológica por parte de los colegas C. G. Rodríguez Santana y R. Marlasca. De excepcional interés ha sido la localización de 13 fragmentos de una posible red de pesca, procedentes de la “Casa dell’Albergo” de Herculano, ya que son escasísimos los restos físicos de redes romanas conservadas, que no llegan a una decena en ámbito mediterráneo, cuyo muestreo de cara a la determinación del tipo de fibra utilizada ha sido realizado.

Fig. 4 Boceto a plumilla del Ambiente 13 de la “Tienda del Garum” (I, XII, 8), con una acumulación de ánforas mayoritariamente vinarias in situ, ac-tualmente en los almacenes de la Soprintendenza (Archivo de la SAP).

Fig. 5 Selección de malacofauna conservada en el Laboratorio de Ciencias Aplicadas de Pompeya.

De todos los ambientes pompeyanos, el más significativo para el proyecto es la conocida como “Garum Shop” o “Bottega del Garum” (Figs. 3 y 8), ya que su relación con la industria conservera es evidente según confirma el hallazgo en su interior de diversos dolia y algunas ánforas que aún preservaban restos de sus paleocontenidos originales. En este inmueble se realizaron durante la campaña del año 2008 una serie de actividades, consistentes básicamente en la localización en los archivos de la SAP de toda la información relativa a las excavaciones en este inmueble, transformada en ambiente industrial con posterioridad, posiblemente en época neroniana; en el inicio del estudio del material mueble conservado actualmente en su interior. Se trata de los restos en posición primaria —ánforas y especialmente dolios— como restos muebles de pequeñas dimensiones —fundamentalmente pondera— almacenados en diversos ambientes de la casa; y, por último, en la búsqueda y estudio en almacenes y otras dependencias de la SAP de materiales procedentes de este inmueble, desplazados con posterioridad. El resultado ha sido muy esperanzador, ya que la cantidad de documentación existente permitirá en el futuro reposicionar buena parte de los objetos en su ambiente, restituyendo la situación inmediatamente posterior a las excavaciones de Maiuri, y aportando un caudal de información que permitirá en su momento superar las apreciaciones contenidas en los estudios realizados en los años setenta (Curtis, 1979 a). De especial interés ha sido el muestreo de los siete dolios conservados en la tienda de cara a futuros estudios arqueozoológicos y pali-nológicos, estos últimos a cargo de las Dras. B. Ruiz Zapata y M. J. Gil de la Universidad de Alcalá de Henares.

Se ha procedido asimismo a la valoración in situ de la po-tencialidad de la casa de Aulus Umbricius Scaurus (VII, Insula Occidentales, 12-15), que apriorísticamente constituía unos de los ambientes arquitectónicos de mayor interés, dada la notable literatura editada y el conocido pavimento de su atrium con los urcei y las recetas alusivas a las conservas de pescado. No obstante, tras los trabajos de prospección visual en la misma, totalmente excavada, se ha decidido no focalizar la atención a esta cuestión, ya que constituye únicamente la casa de un rico comerciante o negotiator salsamentarius, en la cual la información existente sobre la industria conservera es mínima. No obstante, sí se considera conveniente para el futuro la necesidad de profundizar en el conocimiento de los ambientes cercanos (Casa del Marinaio e inmuebles adyacentes), procurando verificar la existencia de un posible barrio portuario en esta zona en torno a Porta Marina y las Termas Suburbanas.

Fig. 6 Instrumental pesquero de Pompeya conservado en la “Casa di Bacco”.

Fig. 7 Tercio inferior de un ánfora Dr. 21/22 con paleocontenido piscícola in situ, muestreada durante la campaña del año 2008 (Antiquarium de Bos-coreale).

Por último, una de las tareas prácticamente culminada du-rante el año 2008 ha sido el estudio de las ánforas de las primeras excavaciones estratigráficas en el foro de Pompeya, realizadas en 1980-1981, con motivo de la instalación de la acometida eléctrica en la ciudad, a cargo de P. Arthur. El ya mencionado proyecto de catalogación y estudio de todas las clases cerámicas de estas excavaciones a cargo de la UNIVE y la Universidad de Mattera incluye como primera entrega el volumen dedicado a los envases de transporte, el cual será editado en los próximos meses. En el marco del proyecto se ha procedido a la caracterización de residuos orgánicos adheridos a las paredes de las ánforas, a cargo de A. Pecci, de la Universidad de Siena, así como al estudio arqueométrico de las pastas cerámicas de los talleres del Círculo del Estrecho de los cuales podrían proceder algunas de las series anfóricas púnico-gaditanas detectadas en estas excavaciones arqueológicas.

Fig. 8 Planimetría esquemática de la “Tienda del Garum” según Curtis (1991, 94, fig. 6).

Actividades arqueológicas en Herculano

El proceso de documentación y estudio en Herculano ha sido similar al acometido en Pompeya, incluyendo una concatenación de actividades consecutivas (estudio bibliográfico; vaciado de archivos; inventario y estudio en almacenes….), por lo que en general las mismas consideraciones metodológicas aplicadas en el caso de Pompeya son válidas para esta otra ciudad vesubiana. Sí es cierto que los trabajos no han sido tan complejos como en Pompeya, debido a la centralización de los almacenes y dependencias administrativas en este caso. La cantidad de datos bibliográficos recabados y las informaciones procedentes de los Giornali dei Nuovi Scavi di Ercolano han sido notables, documentando como la zona más interesante de todas la parte baja de la ciudad en contacto con la línea de costa, en la cual se recuperaron restos de una embarcación y restos óseos de una treintena de individuos, algunos de ellos posibles pescadores. Se realizó un inventario preliminar de un conjunto aproximado de 500 piezas de interés, incluyendo especialmente pesas —buena parte de telares—(233 ejemplares), anillos plúmbeos (117), restos malacológi-cos (77), anzuelos (55), urcei cerámicos (31), ánforas (19), lanzaderas (18) y en menor medida arpones, agujas o elementos con representaciones iconográficas de tipo marino. De especial utilidad ha sido la consulta de la base de datos y de los archivos gráficos existentes en Herculano, con 4435 registros inventariados en las fechas de consulta. Se ha podido iniciar el estudio arqueológico de parte del material conservado, consistente básicamente en lanzaderas, anzuelos, pesas de red plúmbeas y algunos urcei completos, catalogación preliminar que deberá ser continuada en sucesivas fases del proyecto. De especial interés ha sido la localización de un palangre o “coffa”, conocida en ámbito vesubiano (Pappalar-do, 1990, 202, Fig. 5 A) pero cuya trascendencia en ámbito científico había sido nula. Se trata por el momento del único palangre conocido en todo el Mediterráneo, correspondiente con una cesta circular con tapadera, en cuyo interior se han documentado multitud de anzuelos broncíneos y restos físicos de las fibras que los unían (Fig. 9).

A través del estudio radiológico se ha confirmado la existencia de multitud de anzuelos de pequeñas/medianas dimensiones, que se encon-traban fijados al cabo madre y plegados en el interior de la cesta en el momento de la erupción. Debido a su interés se han muestreado todas las fibras y los restos orgánicos existentes, además de haber procedido al dibujo, pesado y descrip-ción de esta singular arte de pesca, en proceso de estudio actualmente.

Documental “Aprendiendo a excavar en Pompeya”

De manera complementaria al proyecto, se consideró de interés realizar un audiovisual sobre metodología de investigación arqueológica, dada la práctica inexistencia de este tipo de productos multimedia en el mercado actual, al menos documentales bien estructurados desde el punto de vista académico y científico. Su ejecución permitiría disponer de un recurso audiovisual en material arqueológica para ser utilizado por instituciones universitarias, máxime en unos momentos en los cuales el Espacio Europeo de Educación Superior requiere la continua y progresiva implantación de este tipo de recursos auxiliados por las TIC (campus virtual, etc.). Para ello se diseñó un guión tratando de valorar las principales facetas del trabajo de campo —excavación— y de las diversas fases del proceso de investigación arqueológica, desde el planteamiento de la hipótesis a la edición de los resultados. Se aprovechó la ejecución de un sondeo estratigráfico en la Regio V—del que hablaremos sucintamente a continuación— al tratarse de una actividad nueva, ya que no se había excavado en la zona con antelación. Se contó para ello con la empresa BIG THINGS-Colores Virtuales, debido a su dilatada experiencia en temas de museografía y a su intenso contacto con el gremio arqueológico en los últimos años. Un grupo de rodaje de cinco técnicos estuvo con el equipo arqueológico durante dos semanas. Actualmente se dispone de varias horas de filmaciones de materiales arqueológicos diversos, habiendo implicado a diversos técnicos de la SAP para todas las actividades, desde el Superintendente hasta los diversos laboratorios (Restaura-ción, Archivo, Ciencias Aplicadas, etc…) así como a todos los especialistas que colaboraron durante el proceso de investiga-ción arqueológica (sedimentóloga, vulcanólogo, etc…) y, evi-dentemente, a todos los miembros del equipo de investigación hispano-italiano, a cada uno de los cuales se le adjudicó un contenido específico a desarrollar. El trabajo de rodaje ha sido complejo desde el punto de vista logístico, y más aún lo está siendo la producción del documental, que aspira a ser trilingüe (español, italiano e inglés). Se realizó un tráiler del mismo, que fue presentado en octubre de 2008 en la UCA y en noviembre en la Escuela Española de Historia y Arqueología en Roma. Actualmente está en proceso de montaje, estando previsto disponer de la versión definitiva en un futuro cercano.

Fig. 9 Palangre de Herculano en el interior de una cesta carbonizada, con múltiples anzuelos y de los cabos de unión entre ellos.

Fig. 10 Vista cenital del Saggio 3 realizado en el marco de la colaboración en el proyecto Regio V (V, 4, 3), con el sistema de drenaje del viridarium (izda.) y las fosas de vertidos (dcha.).

Colaboración en el proyecto Regio V. Resultados del Saggio 3 (V, 4 , 3)

Como se ha comentado en la introducción, se ha ejecutado una intervención arqueológica de excavación en el Civi-co 3 de la Insula 4 de la Regio V, como una colaboración de la UCA en un proyecto dirigido por la UNIVE, centrado en el estudio topográfico-urbanístico y en la valoración de las transformaciones en estos inmuebles pompeyanos en clave diacrónica. Adicionalmente, esta excavación arqueológica ha permitido generar un recurso audiovisual con fines docentes para tratar de explicar de manera didáctica la metodología de investigación arqueológica, potenciando la recurrencia a cola-boraciones multidisciplinares. El sondeo estratigráfico se ha ejecutado en la parte trasera de la casa, ámbito utilizado como huerto/viridarium en los últimos momentos de vida de la vivienda.

Se han definido cinco Fases Históricas muy bien determinadas por los horizontes estratigráficos excavados (Bernal et alii, 2008). Tras momentos geológicos (Fase I), documentados por varios ni-veles de génesis volcánica y otro de matriz arcillosa —asociado a una posible inundación del río Sarno— se detectaron varios paleosuelos de tierra con numerosos restos orgánicos vinculados a áreas de huerto o campos para cultivos. Las evidencias de poblamiento más antiguas (Fase II) se corresponden con materiales cerámicos a mano y elementos de bucchero nero en posición secundaria en estratos posteriores, que denotan una ocupación de esta zona septentrional de Pompeya entre los ss. VI-III a. C., sin que sea por el momen-to posible avanzar más datos ante la ausencia de estructuras o áreas de ocupación bien definidas. La Fase III, fechada entre la segunda mitad del s. II a. C. y finales de dicha centuria o inicios de la siguiente es la mejor documentada, y a ella se asocian diversas actividades: desde la ejecución de una fosa de más de 2,5 mts. de profundidad en el geológico para la extracción de materia prima, a la construcción de la vivienda y del sistema de drenaje de la misma, al tiempo que se utilizó la parte trasera de la casa como área de vertido, como evidencian las múltiples fosas excavadas (Fig. 10), algunas de ellas con restos de malacofauna resultado del consumo de recursos marinos en época tardosamnítica. En época posterior la parte trasera de la vivienda fue utilizada como hortus/jardín, ya en el s. I a. C., y así permaneció hasta la fecha de la erupción (Fase IV). De estos últimos momentos han sido excavados y localizados diversos huecos de raíces, así como un parterre que confirma el uso de la zona para la plantación de vegetación, árboles y arbustos que fueron carbonizados en el 79 d. C., como ha podido ser confirmado por la localización de las oquedades totalmente colmatadas por lapilli volcánicos. Actualmente se encuentra en fase de estudio el estudio arqueobotánico de estas evidencias a cargo de A. Staracce, de la Universidad de Lecce. De época contemporánea (Fase V) se han localizado evidencias relacionadas con la excavación de esta insula en las primeras décadas del s. XX así como indicios de un sondeo estratigráfico realizado en el jardín en la segun-da mitad del s. XX, no referenciado en la documentación de la SAP, y restos muebles de las restauraciones acontecidas en estos inmuebles —especialmente en la colindante casa de Lucrecio Frontón— en la segunda mitad del s. XX (Bernal et alii, 2008). Los resultados de la excavación arqueológica han sido muy satisfactorios, y serán publicados conjuntamente con los resultados del proyecto Regio V de la UNIVE, actualmente en fase de redacción.

Difusión y diseminación del proyecto

Durante el mes de octubre del año 2008 se han realizado una serie de actividades para fortalecer los lazos institucionales entre las dos universidades implicadas en el proyecto, ya que el mismo constituye una acción bilateral entre ambas instituciones en Italia. Para ello se realizó un Acto Protocolario oficial en el Rectorado de la UCA en Cádiz para proceder a la firma del Convenio de Colaboración específico entre ambas instituciones, al cual asistieron el Rector de la UCA, Excmo. Sr. D. Diego Sales Márquez y la Excma. Sra. Da. Elide Pita-rello, Prorettore Vicario de la UNIVE, además del Decano de la Facultad de Filosofía y Letras de la UCA y los codirectores del proyecto.

Aprovechando la presencia de las Drs. Cottica y Zaccaria con motivo de dicho evento, se organizó una Jornada de Presentación del proyecto “Pesca y Garum en Pompeya y Herculano”, así como de los resultados científicos de la campaña del año 2008. Todo ello en un acto público en el Salón de Grados de la Facultad de Filosofía y Letras de la UCA, en el cual tuvieron lugar varias presentaciones científicas por parte de los codirectores del proyecto y, al final, la proyección del tráiler del documental. Con una nutrida asistencia, el evento tuvo una notable repercusión en la comunidad universitaria y en el colectivo de investigadores sobre estas temáticas de Historia Económica, algunos de los cuales se trasladaron monográficamente a Cádiz para el evento, que fue oportunamente difundido por los medios de comunicación.

Asimismo, se han realizado algunos avances del proyecto de investigación en diversos foros, españoles e italianos. Inicialmente se presentaron los resultados preliminares tanto en la reunión Excavaciones Españolas en Italia, Diez años de investigación (EEHAR, 18-19 de noviembre de 2008) como en el nº 3 del Boletín Noticias de la Escuela Española de Historia y Arqueología en Roma (Bernal, Cottica y Zaccaria, 2008). Y en ámbito regional se ha incluido una síntesis del proyecto y de su problemática en el nº 55 de la revista Andalucía Investiga, editada por la Consejería de Innovación, Ciencia y Empresa de la Junta de Andalucía. Asimismo, se ha remitido una reseña al nº 6 de Caetaria. Revista del Museo Municipal de Algeciras, de próxima edición. En Italia se publicó una noticia similar en el volumen denominado VI Giornata di Studio. Misioni Archeologiche e Progetti di Recerca e Scavo que tuvo lugar en la Facultad de Filosofía y Letras de la Universidad de Venecia (Cottica, 2008). Con estas actividades, noticias preliminares y con la difusión on line (www.circulodelestrecho.es) se considera bien difundido el proyecto de investigación, en-contrándose el equipo actualmente ultimando diversos traba-jos de investigación específicos para foros científicos especializados.

Valoración y perspectivas de futuro 

Durante el año 2008 se ha realizado el rodaje y complementación del equipo de investigación hispano-italiano, que con anterioridad no había tenido la ocasión de colaborar conjuntamente en trabajos de campo más que en ocasiones puntuales. Las numerosas actividades realizadas han confirmado la viabilidad del proyecto y la compenetración del equipo, que actualmente se encuentra totalmente engranado y con un óptimo clima de trabajo. Se han podido cubrir con creces las expectativas planteadas, ya que ha sido posible un primer contacto con la realidad pompeyana-herculanense, lo que se ha traducido en un conocimiento de primera mano de las fuentes documentales disponibles y del grado de accesibilidad de las mismas, además de las fundamentales cuestiones logísticas. Para la segunda campaña de trabajo de campo se tratará de profundizar en una serie de aspectos que a continuación resumimos: — Estudio iconográfico. Continuar y dedicar amplio esfuerzo a la compilación del corpus iconográfico relacionado con temáticas marinas. — Estudio de las potenciales evidencias de acuicultura. Iniciar el estudio de las cubetas, piscinas y otras estructuras negativas potencialmente relacionadas con el mantenimiento del pescado vivo y/o su engorde. — Documentación de materiales muebles en Pompeya y Herculano. Sendos equipos destinados a continuar las tareas de localización, inventariado y estudio arqueológico del material mueble relacionado con la industria pesquero-conservera en dichas ciudades. — Inicio del estudio arqueológico integral de la “Bottega del Garum” (I, XII, 8), que se ha revelado como el ambiente vesubiano de mayor interés para el proyecto, por el momento. En dicho inmueble las prioridades planteadas son las siguientes:

a- Documentación de la acumulación anfórica del patio trasero (Ambiente 13), incluyendo su desmontado, muestreo para analíticas orgánicas, documentación gráfica, restauración y remontaje. Asimismo, intervención en las áreas adyacentes, para valorar la potencialidad de la cubierta sedimentaria y los restos aún en posición primaria.
b- Limpieza a techo de muro y estudio de las estructuras emergentes del Primo Cortile (Ambiente 9) y muestreo de las canalizaciones.
c- Continuación de los estudios arqueo-arquitectónicos (finalización de la planimetría y ejecución de secciones y alzados).
d- Analíticas geoquímicas de pavimentos/estructuras, de cara a la determinación de la atribución funcional de los espacios.
Concluir, por último, indicando que entre las prioridades del proyecto, al emanar de instituciones universitarias, se encuentra la vertiente docente, por lo que la formación se convierte en un elemento clave del mismo. De ahí que hayan sido integrados como miembros del equipo permanente diversos doctorandos y estudiantes españoles e italianos, que han colaborado eficazmente en los trabajos de investigación y han tenido el privilegio de iniciarse en tareas de investigación en este marco geográfico inigualable.

Download original PDF

El garum de Pompeya y Herculano (2008-2012).
Categorias
Garum Publicações e estudos

Roman Fish Sauce

Roman Fish Sauce: Fish Bones Residues and the Practicalities of Supply

SALLY GRAINGER
Timberua Glen road. Grayshott Hindhead. Surrey GU266NB, UK sallygrain@aol.com
(Received 2 November 2012; Revised 14 May 2013; Accepted 22 May 2013)

ABSTRACT: In this paper I will report on the results of experiments, conducted from 2009 through to 2011, to manufacture Roman fish sauce, using the ancient recipes. More specifical- ly, it will consider the nature of the fish sauce residue, known as allec, observe its formation and assess its qualities. The paper concludes that many shipwrecks currently identified as having transported amphorae that contained a salted fish product made from mackerel may in fact be shipping a semi processed fish sauce which will go on to produce a quality liquamen type sauce at its destination. This paper offers a new interpretation of the archaeological remains found in ancient transport amphorae and provides new insights into the commerce of processed fish products in the Roman Mediterranean.

RESUMEN: En este trabajo se exponen los resultados de experimentos realizados entre 2009 y 2011 para manufacturar salsas de pescado romano siguiendo las recetas antiguas. En concreto, se considerará la naturaleza del residuo de salsa de pescado conocido como allec, y se detalla- rán su génesis y sus características. El trabajo concluye que muchos pecios, actualmente rese- ñados como portadores de ánforas que contenían una salazón de caballas, podrían de hecho haber contenido una salsa de pescado a medio procesar que habría servido de base para produ- cir una salsa de calidad tipo liquamen en destino. Este trabajo ofrece por tanto una nueva inter- pretación de los restos arqueológicos de peces recuperados en antiguas ánforas de transporte al tiempo que proporciona nuevas perspectivas en torno al comercio de productos procesados de pescado en el Mediterráneo romano.

INTRODUCTION

In this paper I report on the results of experiments, conducted from 2009 through to 2011, to manufacture Roman fish sauce, using the ancient recipes. More specifically this study examines the nature of the fish sauce residue, known as allec, observes its formation and assesses its qualities. Currently, our ability to recognize evidence of fish sauce through its residues in the archaeological record is limited by a lack of basic empirical knowledge of the products themselves. Van Neer & Ervynck (2002: 208) consider that fish sauce can only be identified where «fish bones are present» which is clearly a limiting factor for fishbone specialists interested in finding fish sauce in the archaeological record. The fish sauce associated with these residues of bone is perceived to be of lower status, while the fish sauce of quality is understood to be a clear free-flowing liquid and therefore largely invisible in the archaeological record (Desse-Berset & Desse, 2000: 75). In archaeology, we also continue to consider garum as a luxury fish sauce, and refer to classical archaeologists such as Curtis who necessarily use ancient «elite» perspectives from Rome to define the sauces (Corcoran, 1962; Curtis, 1991, 2009). The archaeological evidence for fish sauce, however, provides the sub-elite and even lower status perspective as the residues we find are largely identified as either the bulk commonplace sauce or the bony fish paste which is considered a slave ration. It has been difficult to reconcile and inte- grate the two worlds, the elite perspectives derived from literature and the lower status perspective from the archaeological record, to form a coherent picture of the ancient trade in fish sauce (Van Neer & Ervynck, 2002: 208). This paper offers a close study of the preparation of various fish sauces along with their residues in order to offer a new interpretation of the archaeological remains found in ancient transport amphorae and to understand more clearly Roman commerce of processed fish products1.

My approach has been multi disciplinary exam- ining and analyzing information from a variety of sources: the archaeological record for processing sites, the amphorae trade and the fish bone studies from ship wrecks and urban deposits, as well as ancient and modern literature pertaining to fish sauce production and use. My backgrounds are ideally suited to this study as I am a trained chef, have an ancient history degree, a published Roman food historian with a specialty in the Apicius recipe text where fish sauce is a commonplace ingredient, and I am trained in archaeology, having earned a MA in this discipline (Dalby & Grainger, 1996; Grainger, 2006; Grocock & Grainger, 2006). Thus I was able to integrate all the available evidence for fish sauce, both ancient and modern, in order to attempt to answer some of the more perplexing questions about this product and how it was traded.

1 My research forms part of a MA dissertation on fish sauce conducted at Reading University.

FISH SAUCE: THE BASICS

Both ancient and modern fish sauce is a liquid derived from the maceration and liquefaction of whole fish with salt. The process is known as enzyme hydrolysis. The enzymes are present in the viscera in large quantities, particularly the liver and spleen, and it is their action that converts the solid protein in the muscle tissue into amino acids and peptides dissolvable in the water (Mciver et al., 1982: 1017; Curtis, 2009: 712). The «sauce» is effectively the water contained within the fish, enriched with protein, as well as additional brine which takes on the same characteristics. The protein causes the fluid to be stained in various shades of yellow to brown. The sauces are often considered fermented, but, strictly speaking, fermentation requires bacterial action in relatively low salt conditions which are not mentioned in the ancient recipes (Owens & Mendoza, 1985: 273). There are various methods employed by modern South East Asian manufacturers which we find mirrored in the ancient recipes. The small Clupeidae and Sparidae commonly used are either, on a small scale, contained in sealed vessels, or, on a large scale, covered in concrete-lined tanks, which expose the product to the heat of the sun and some evaporation. Sometimes the fish are compressed in sealed barrels, which allow the fluid to drain from the bottom of the vessel while the residue remains intact. This compressed residue is then re-brined, often many times to extract all the potential nutrients before the residue is finally discarded or used for fertilizer, in contrast to ancient fish sauce residues which are used as another food source. Modern fish sauce is also produced in levels of salt considered excessive, 25-40% by weight. These levels of salt, which are acceptable in South East Asia, actually reduce enzyme activity and there- fore the potential nutritional value of the sauces (Crisan & Sands, 1975: 106; Lopetcharat, 2001: 65-68).

Ancient recipes for fish sauce survive in late Imperial Greek and Latin texts, though they are considered problematic for many reasons. The key text, the manuscript of the Geoponica is from Greek-speaking Byzantium and has been consid- ered too far removed in time from the manufacture of fish sauce envisioned in the western Mediterranean of the 1st century AD to be considered accurate (Comis & Re, 2009: 35). It is rarely suffi- ciently acknowledged, however, that fish sauces were Greek in origin in terms of the textual evidence, and their origins geographically were obscure 2. The cuisine we think of as Roman was originally devised and initially recorded in Greek texts during the 3rd and 2nd centuries BC. It subsequently spread and became an international Mediterranean cuisine rather than simply «Roman». Nevertheless, there remained key differences between the two culinary cultures, while, at the same time, a complex linguistic culinary crossover developed3. In fact, it is recognized in classical studies that the knowledge associated with all practical preparations was predominantly of Greek origin and found in veterinary, medicinal and culinary literature. The Romans in the western Mediterranean did not value practical skills and considered the labour associated with preparing fish sauce as demeaning, and, therefore, frequent- ly relied on the skills of Greek practitioners (Cicero de off. 1.150; Adams, 1995: 1-209; Dalby, 1996: 179; Grant, 2000: 3). The Geoponica was a farming manual preserved in a 10th century AD manuscript but containing material dated to the 6th century AD. It has recently been re-evaluated and correctly recognized as a manual preserving knowledge from the agricultural tradition of the entire Roman period rather than from the later periods and as such would, in fact, provide a reli- able account of fish sauce manufacture (Dalby, 2011: 13).

2 The process itself has either been attributed to Greeks via colonies in the Black Sea or a Phoenico-Punic one in Spain (Trakadas, 2004: 47).

3 The language of the kitchen was Greek in the same way as French dominated the professional kitchen of 19th/20th century. Cooking as a skill was dominated by Greek speaking/under- standing Romans who might be bilingual in the kitchen but not elsewhere and many terms were simply transliterated and a «culinary syntheses» emerged (Dalby,1996: 179).

There are three recipes that survive in the literature: two in the Geoponica, and one attributed to Gargilius Martialis, a 3rd century AD Latin writer. This text, however, is considered a medieval gloss and is not included in the recent Les belle Lettres series. It is also clear that a number of ingredients listed in the recipe were unavailable in Roman times, and, as a result, it is far less reliable in illustrating classical Roman practices (Curtis, 1984: 148; Maire, 2002). The texts are sited in full in the appendix. The recipes suggest that two basic types of sauce existed, though many different species of fish and different methods were used.

1 A mixture of small whole fish of the Clupeidae and Sparidae families considered small enough with the addition of extra viscera from other fish and salt added, allowing the mixture to liquefy in the sun until pickled. Liquid is then taken when the sauce flows through a basket and can be ladled out (Geo- ponica). This is a liquamen in Latin and garon in Greek4.

2 A mixture of somewhat larger fish, dominated by Scombridae as well as Clupeidae and Sparidae. These are cut up with salt and also the residue from previous fish sauce production known as allec 5 added. Apparently, no additional viscera was needed. Extra liquid (wine) could be used. This is pickled for 2-3 months (Geoponica). This is also liquamen in Latin and garon in Greek.

3 A similar variety of fish but the whole process is made in a sealed vessel and on a smaller scale (Gargilius Martialis). This is liquamen.

4 A quick and clearly domestic method where whole fish are boiled in brine until all flavour and nutrients are transferred to the liquid. The mixture is then fully strained (Geoponi- ca). This is also liquamen in Latin and garon in Greek.

5  A luxury sauce made with viscera and blood from tuna (though clearly other fish, such as mackerel, were used) and salt. This is allowed to ferment for two months and then removed by piercing the vessel and the sauce flows out from below (Geoponica). This is garum in Latin and either garon haimation (bloody) or melan (black) in Greek (Galen: Kuhn, 1965: 637)6.

6 A fish brine derived from the salting of cleaned fish. This is also a type of fish sauce seasoning and was considered cheaper or more commonplace (Ausonius Epis.21). As a fish brine, it actually seems to have been val- ued too (Olsen & Sens, 2000: 159). This is muria in Latin and halma/yris in Greek. Some modern scholars also considered it a form of garum 7.

The recipes suggest that there were many different ways to make fish sauce. In fact, from a literary study, which will be published elsewhere, it is clear that there were multiple qualities of fish sauce and defining them in terms of expensive or cheap is too simple; each variety could exist in varying qualities. It is clear that the perception of the quality of the product consumed depended on so many factors: taste; the use(s) of the sauce as different sauces do seem to have different roles within the cuisine; choice; income; and the consumer’s social position and where he viewed him- self/ herself within the social order. The sauce considered an expensive garum made from just blood and viscera will not be further discussed here.

4 The term is later transliterated into garum and the distinction between the two terms depends on the apparent early use of garum and the apparent later Latin usage of liquamen (Ettienne, 2006: 6; Curtis, 2009: 713). It is clear, however, that liquamen had a distinct and separate meaning from garum in the 1st century AD which I believe was maintained into the late empire (Grainger, 2013 forthcoming).

5 Curtis (1984) believes this usage of allec refers to its other meaning as a generic term for small fish of the Clupeidae and Sparidae families. As anchovy is specifically named in this recipe, such a definition seems to me unfounded.

6 It is my belief that garos and garum are not in fact equivalent (liquamen is equivalent to garos, garos melan/haimation is equivalent to garum. For a detailed discussion of this theory see Grainger (2013 forthcoming). For other references to «bloody» and «black» garos see papyri: P. Anst. inv. no 44; Aetius 3.83.

7 I have elsewhere published that I doubt that these elite ref- erences to muria (Martial Epigrams 13.103) being a form of blood/viscera sauce, with reference to the use of tuna viscera in the Geoponica, are correct. It is unlikely that tuna would make a whole-fish sauce but rather a blood/viscera sauce or a brine as a secondary product from salted fish (Grainger 2010: 25; Grainger, 2013, forthcoming). But see Corcoran (1963: 206) and Studer (1994: 195) for a different view.

THE ARCHAEOLOGICAL EVIDENCE FOR FISH SAUCE: THE FISH BONE REMAINS

The apparent residues of an ancient fish sauce have been found throughout the Roman Mediterranean, northern Europe and Roman Britain in the form of large amounts of discarded small-fish bones. The most important sites are listed in Table 1. The bones were dominated by poorly preserved small Clupeidae and Sparidae, 5-20 cm in length (Van Neer & Ervynck, 2002: 208). These residues were often inside or near the discarded amphorae, at ports or trading sites in the Mediterranean where the sauces were processed or sold. They were also identified inside the cetaria at processing sites in Southern Spain, North Africa and Portugal. These bone residues are generally interpreted as a form of allec, i.e., the fish sauce residue described in the Geoponica after the desirable sauce had been taken (Dalby, 2011: 349, l. 7). This was also considered a marketable product in its own right, i.e. a bony fish paste not unlike a gentlemen’s relish or pissalat with a potential market among the poor and slaves (Delaval & Poignant, 2007: 59-66). It has been pointed out by Van Neer & Ervynck (2002: 208) that it seems economically irrational to widely transport a residue which was perceived to be of low quality. The fish bone residues found at Masada that have been identified as allec by Cotton et al. (1996: 231) were derived from very small sardines (3-5 cm in length) from the Western Mediterranean, probably Spain, and, according to a passage in Pliny which will be discussed below, were identified as a luxury product traded into Palestine. These tiny bones may have been con- sumed along with the paste but I doubt such a product could have been considered elite or even remotely desirable. It is also important to note that the Geoponica actually states that the residue «makes allec» not that the residue is allec, which implies the bones were not an integral part of this product. Other examples of allec were derived from much more substantial Clupeidae and Spari- dae bones. Ultimately one has to imagine the bones being removed from the paste by the con- sumer as and when required which is not a simple procedure. Of course, had this in fact been the case, the bones would not be found in one discrete place, but rather would be distributed all over the archaeological record and be unrecognizable. It is only because the discarded bones have been found in large quantities that we can recognize them as some sort of fish sauce residue. It is not really clear what process was involved in discarding the sauce represented by the bones in or near amphorae. It has been suggested that spoilage of the sauce caused these events but this does not seem to be an adequate explanation for all the evi- dence (Hamilton-Dyer, 2001: 4).

Urban sites
• Saltsberg Clupeidae and Sparidae 4-12 cm (Lepsikaar, 1986)
• Masada Clupeidae 4-5 cm (Cotton et al., 1996)
• Cerro del Mar, Málaga multiple samples including Clupeidae and Sparidae 10-20 cm (Driesch, 1980) • Olbia 1 Clupeidae and Sparidae 15-20 cm (Bruschi & Wilkins, 1996; Dellusi & Wilkins, 2000)
• Olbia 2 Clupeidae and Sparidae 5-10 cm (Bruschi & Wilkins, 1996; Dellusi & Wilkins, 2000)
• London Peninsula house Sprattus sprattus and Clupea harengus – 8 cm (Bateman & Locker, 1982)
• York, Dorchester Sprattus sprattus and Clupea harengus 7-10 (Hamilton-Dyer, 2008)
• Tienen Clupeidae 5 cm (Van Neer et al., 2005)
• Setubal Clupeidae and Sparidae 8-19 cm (Desse-Berset & Desse, 2000)
Ship wrecks
• Randello c.300AD, Almagro 50, sardine 10-17 cm (Wheeler & Locker, 1984)

TABLE 1
Fish sauce residues considered allec from urban and shipwreck sites.

The ancient literature on allec is very confusing and therefore needs to be re-examined. Pliny the Elder is the text most often cited:

«Allec is the sediment of garum, the dregs neither strained nor whole. It has, however, begun to be made separately from tiny fish, otherwise of no use. The Romans call it apua, the Greeks aphye, because this tiny fish is bred out of rain. …….. Then allex became a luxury and its various kinds have come to be innumerable…… Thus allex has come to be made from oysters, sea urchins, sea anemones, and mullet’s liver, and salt to be cor- rupted in numberless ways so as to suit all palates».

Pliny the Elder HN. 31.96

The passage is neutral about the value of allec made from «apua» and the luxury tag is only really associated with the bone-free fish pastes made from sea food such as sea urchins and oysters. The evidence from amphorae tituli picti and elite literary references also make it clear that, in fact, the best fish sauces was made specifically from mackerel. We may assume that the best allec would have been derived from this meaty fish too. Curtis (1991: 195) records one tituli picti designating the allec from mackerel.
The artisanal fish paste known as pissalat made in the region of France between Nice and Marseille was made from anchovies of various sizes. The bones were not removed from those tiny anchovies used to make pissalat in Antibes, Figure 1; «Born of rain» seems particularly apt (Delaval & Poignant, 2007: 62). I had a conversation with an artisanal pissalat maker at a Nice market who told me that, if the sardines are any bigger, the bones are sieved out. It seems clear that the reference by Pliny to allec becoming a luxury was not concerned with fish sauce or its residue at all. Rather, this allec that was a smooth fish paste did not generate a sauce. The nutrients were retained in the paste, it did not hydrolyze into a liquid, and the bones were sieved out while the fish were soft but not dissolved. It appears that the most commonplace and non-elite fish sauce that we know was traded so widely was in fact represented by bones from the Clupeidae and Sparidae family in a 5-20 cm size range, as noted by Desse-Berset & Desse (2000: 91), and which, in fact, we find associated with amphorae across the Roman Empire and at processing sites.

The evidence for the best fish sauce made exclusively from mackerel has not been easy to find. There is, however, extensive evidence from imperial Roman shipwrecks for the transporting of mackerel stored in amphorae that, though appearing to be designed for a liquid fish sauce, have been identified as transporting a salted Spanish mackerel. The shipwreck sites are listed in Table 2. The identification of the product as salted fish has been largely due to the comparatively large size of the Spanish mackerel and other Clupeidae and Sparidae when compared to those associated withallec, and to the extremely high quality of its preservation (Desse-Berset & Desse, 2000: 91). The theory has been that a fish sauce product would result in fragmentary bone, and this, in fact, does seem to be the case in some of the land-based evidence for allec. All the shipwreck bone evidence, however, is quite unique in being so well-preserved, and this may be due to the specific anti-bacterial environmental conditions of the sea.

FIGURE 1 Sardine used to make pissalat which are aptly described as «born of rain» by Pliny (HN 61.95; Delaval & Poignant, 2007: 62).

page6image37990592

Sud Perduto II. Dressel 7/9, 1st Century AD, Scomber japonicus 40-48 cm (Parker, 1992: 1121; Desse- Berset, 1993: 343, Desse-Berset & Desse, 2000: 76-79)
Cape Bear III (Port Vendres) Dressel 12, Scomber japonicus 28-40 cm (Parker, 1992: 171; Desse-Berset & Desse, 2000: 80)
Port Vendres II Dressel 7, Scomber japonicus size unknown (Colls et al., 1977: 40-43; Parker, 1992: 331; García Vargas, 1998; Desse-Berset & Desse, 2000: 81)
St Gervaise III, Beltran 2b, Trachurus trachurus 40-50 cm (Parker, 1992: 373; Desse-Berset & Desse, 2000: 81)
Anse Gerbal (Port Vendres 1) c.325 AD, Almagro 50/51 Sardina pilchardus 22-25 cm (Parker, 1992: 874; Desse-Berset & Desse, 2000: 92)
Elba II (Chiessi), mid 1st century AD, Scomber japonicus 30 cm (Bruschi & Wilkins, 1996: 167; Dellusi & Wilkins, 2000)
Grado , 2nd century AD, Scomber japonicus 30 cm and Sardina pilchardus size unknown (Auriemma, 2000: 31-49; Dellusi & Wilkins, 2000: 53-65).
Cala Reale al Asinara, 4/5th century AD, Almagro 51, Sardina pilchardus size unknown (Dellusi & Wilkins, 2000; Desse-Berset & Desse, 2000).

TABLE 2 Ship wreck evidence currently considered salted fish.

Only one Roman shipwreck has been tentatively identified as carrying a fish sauce allec and that is Randello (see Table 1; Wheeler & Locker, 1984). This is due to the large number of fishes represented relative to the size of the amphora, and their very small size. There are two key shipwreck sites that require discussion. Grado, a 2nd century AD wreck in the northern Adriatic is exceptional in having large quantities of well-preserved mackerel and sardine bones in numerous different types of large African amphorae as well as small but empty amphorae with a tituli picti stating the product as a liq(uamen) Flos. The bones are currently identified as a salted fish (Auriemma, 2000: 31-49; Dellusu & Wilkens, 2000: 53-65). The 1st century AD wreck at Cape Bear III at Port Vendres contained Dressel 12 amphorae, and the mackerel apparently transported in them were up to 40 cm in length. I do not think it is possible for mackerel this large to be put inside such an amphora even in pieces: it would have been impossible to get them in or get them out as can be seen from their shape (Desse-Berset & Desse, 2000: 79-81).

The Dressel 12 amphorae (Figure 2) are clearly a liquid container and it is my contention that these shipwrecks as well as many others transporting mackerel (or uniform Clupeidae and Sparidae of a similar nature) were actually carrying a form of mackerel allec.
I was unsure for what economic purpose this served until my experiments demonstrated the logic behind this practice.

http://archaeologydataservice.ac.uk/archives/ view/amphora_ahrb_2005/drawings.cfm?id=67&CFID=2827207&CFTOKEN=41216567.

FIGURE 2 Dressel 12 amphora.

THE EXPERIMENTS

Over the last three years, I made 10 different sauces, sticking closely to the basic recipes but adjusting the variables each time in order to determine the perfect conditions required to maximise speed of liquefaction as well as nutritional and culinary quality in the bulk process indicated by the large cetaria (salting tanks) found in Southern Spain and North Africa. I processed my fish in a green house in fish tanks which allowed me to duplicate Mediterranean temperatures quite closely. Most of the data I used to determine these ideal conditions were based on an early observational study which was both complex and time-consuming to relate in detail here. The variables were as follows:

SALT LEVELS: These are stated to be 15% or 7 parts fish to 1 part salt in the Geoponica. The Gargilius recipe is estimated at 3:1 which is much closer to modern fish sauce salt levels and has also been demonstrated to reduce nutritional yield (Klomklao et al., 2006: 443).

PRESENCE OR ABSENCE OF ADDITIONAL VISCERA: In one recipe, smaller fish were pickled with extra viscera, while the other two made no mention of additional viscera. As a bulk catch of Clupeidae and Sparidae could not sensibly be individually processed, this may suggest that the extra viscera was designed to aid the liquefaction process where the viscera cavity was not exposed.

PRESENCE OR ABSENCE OF ADDITIONAL LIQUID: One Geoponica recipe calls for wine at a ratio of 1 fish to 2 wine. This was assumed to be a later stage in production, i.e. the oenogarum sauces mentioned in recipes (Grainger, 2007: 106) and also excessive. The other two recipes, however, made no mention of extra liquid.

FISH VARIETY AND SIZE: I used sprat (5-10 cm) caught and frozen on board ship, sardine (8-24 cm) caught the night before in Scottish waters and mackerel (25-35 cm) caught and salted by myself in the Solent near Portsmouth.

TEMPERATURE: The air temperature of the coastal regions around Cádiz and Gibraltar during the summer range from 15-35°C with an average midday temperature in June, July and August of 30°C. These temperatures were mirrored inside the green house over the duration of the experiments. The liquid temperature of the sauce during the hottest period of the day never reached above 20°C.

CLOSED OR OPEN VESSEL: If the vessel or salting tank was open to the sun, as suggested in the Geoponica, then evaporation will eventually result in a gradual reduction in volume. Either the
sauce was taken before this can happen or extra liquid was added.

OPEN OR CLOSED ABDOMINAL CAVITY: Small fish were left whole. From the Gargilius recipe, it appears that larger fish were cut into pieces, thus exposing the viscera. The Geoponica does not stipulate cutting but implies pieces by the instruction to kneed the fish with salt.

COOKING OR NOT: One of the suggested ways to make fish sauce was to boil the fish in brine and strain the liquor. The text made it clear that this was certainly a separate domestic and small-scale process and that fermentation and cooking were not combined in the bulk process. Modern fish sauce production considers that excessive heat destroys the enzymes that hydrolyse the protein (Geoponica 20.46; Klomklao et al., 2006: 444).

LENGTH OF PROCESSING TIME: The recipes in the Geoponica suggested 2-3 months for the whole fish sauce and 2 months for the blood and viscera sauce. A further Geoponica recipe did not stipulate a time limit, and the Gargilius Martialis recipe appeared to suggest just a few weeks.

SUMMARY OF RESULTS AFTER 3-YEAR OBSERVATION

The exposed and/or extra viscera initially maximized the brine yield. Without one or the other of these and ideally both, the yield of natural water from the fish was too small in volume to dissolve the salt, resulting in a crunchy fish mash. Similar findings were reported by Commis & Re (2009).

As I conjectured, the brine that was generated steadily evaporated, and the sauce yield was limited in the thick gray paste that formed. I lost up to 15% of volume over the first 2 weeks in the first sardine and sprat sauces. I found that when sufficient digesting enzyme activity was present (exposed and/or additional viscera), the skin begun to disappear in the liquid and the muscle tissue appeared to «explode in slow motion» within a few days, i.e. the tissue softened and separated into small particles which floated free within the liquid. This was what formed the dense paste. These particles could rapidly saturate the limited liquid that was present, and, when this happened no further disintegration could take place. It was the smallest fish that dissolved first, while the majority of larger sardine and mackerel pieces remained undissolved, most likely due to the lack of sufficient liquid for the process to take place. The ratio of extra liquid suggested in the Geoponica, (wine but brine was more likely) was 1 fish: 2 liquid. This seemed likely to dilute the sauce too much, and so early experiments used a reversal of this ratio, i.e. 2 fish: 1 brine in sauces with and without additional viscera. The process of disintegration restarted in this new liquid and the thick grey paste became an emulsion. Initially, the dark clear sauce emerged on the top of the tank, while the particles sank and merged with the remaining fish pieces. But as the process of stirring continued, this was reversed, and the particles rose to the surface causing the desirable sauce to be trapped underneath. It is con- jectured that the liquid had become enriched in protein as the density was increased, forcing the particles to float over the heavier liquid. At this point evaporation ceased.

The sauce made from sardines (8-24 cm), without the additional viscera but with 2 fish: 1 extra brine, generated a copious emulsion after three months of processing. At least 40% of the sardine in the 15-24 cm size range, however, remained structurally intact though the viscera cavity was eroded as can be seen in Figure 3.

FIGURE 3

Sardines over 15 cm after 3 months of fermentation with their cavity eroded but the majority of muscle tissue intact. This sauce had sufficient liquid but did not contain extra viscera and therefore did not have enough enzyme activity to dissolve the larger fish.

It was possible to re-brine this volume of remaining fish flesh and generate a second sauce which was by no means of second quality. In order to determine whether extra viscerae or more brine or both were necessary to ensure more of the fish were dissolved, an experiment was developed using a batch of mackerel sauce made with the fish cut into 3 pieces and with additional viscera at 10% and the original ratio of brine at 1 part fish to 2 parts brine.

This recipe resulted in a dramatic liquefaction. It took from one week to ten days to liquefy and disarticulate up to 8 kg of mackerel. This was clearly too fast, and, as it was accompanied by fairly rapid spoilage of the sauce in the following months, it was determined that this ratio of extra liquid resulted in a weak and unstable sauce. It also seemed likely that the manufacturer would not want to dilute the sauce in the early stages any more than necessary, particularly as a concentrated fish sauce would be more economical to transport. Further experiments using more viscera and a liquid ratio of 2:1 continued to leave 25-30% of the fish flesh un-liquefied. See Figure 4 for the bony allec from this mackerel sauce.

It seemed likely that the enzymes could not liquefy any more fish in these conditions. A ratio of 2 parts fish to 1 part brine with 10% extra viscera proved the most effective in producing a sauce efficiently liquefied with maximum nutrition while leaving sufficient remaining fish to generate a good second sauce. One may imagine that it would be highly profitable for fish sauce manufacturers to generate two equal sauces in terms of nutrition and taste from one batch of fish.

FIGURE 4

A residue (allec) of unliquefied mackerel, having been cut into pieces and processed with sufficient extra viscera and extra liquid to generate a saturated emulsion after 2 months fermentation.

page10image38631488

THE SAUCE ITSELF AND ITS NATURE

In ideal conditions of high enzyme activity (provided by the extra viscera, sufficient liquid, and heat), the cartilage is also digested by the enzyme action, and this results in complete disar- ticulation of the smaller fish skeletons (5-10 cm). In these ideal conditions, many of the larger pieces or whole fish still did not fully liquefy in the increased volume of fluid. All the fish pieces and disarticulated bone initially remain suspended if small and then fell to the bottom throughout the majority of the process. With an extended processing time (over 2 months), however, the sauce became so rich in protein that the density of the sauce increased. The bones and even large pieces of undissolved fish rose through the thick layer of fish particles to the surface. Prior to this while the bones were still largely at the bottom, the tank was full of a thick emulsion which could be easily removed with minimal bone contamination. This emulsion constituted the unfiltered sauce. I have been able to demonstrate through laboratory test- ing that the nutritional value of the final sauce was greatly improved by storage in this unfiltered state. After discussing this product with Robert Curtis, he agreed that this unfiltered sauce could well be identified with the tituli picti «flos». When these identifying labels signify flos flos or floris, it is possible that a filtered sauce, i.e a sauce derived from the flos («flower of the flower»), was intended, though we can also see from tituli picti that other ways to signify a filtered sauce were possi- ble [CIL 4.7110: liquamen optimum saccatum «the best filtered fish sauce»; Curtis (1991: 195), Grainger (2010: 69)]. Had this product been put directly into an amphora, it would continue to set- tle out with the desirable sauce in the base spike while the paste forms a plug near the top. Figure 5 shows a mackerel flos liquamen after it has settled.

Currently, I am experimenting with the possibility that this emulsion was diluted at this stage (with reference to common tituli picti for lymphatum) to reduce the specific gravity and cause the bone-free allec to settle into the spike and free up the sauce so it can be accessed. This would then constitute the bone-free allec valued as a fish paste.

WHAT HAPPENED TO THE BONES

When larger fish such as mackerel (20-40 cm) are used, I estimate that as much as 40% of the fish can remain undissolved and clearly constitute a potential second sauce. When smaller and very small fish (5-10 cm) are used such as Sprattus sprattus, the majority of the flesh is dissolved and the bones disarticulate, but the layer of bone is thick and rich in allec and able to generate a second sauce of lesser quality if diluted. In both scenarios, re-brining could occur either in situ or, as I would like to suggest, once the allec has been put into other amphorae. This would free up the processing tank for another batch of fish while they are in abundance during the summer months and allow the second sauces to be generated in transit.

The small-scale recipes recommended using a basket to filter the sauce of bone when it was removed. On a large scale, this seems both unwieldy and hard to envision. Without a bone filter, as the emulsion was removed, more of the thick sauce will be contaminated by the bone. In fact, it is likely the process of removal of the sauce did not stop, i.e. as the bone was revealed, it sim- ply went into other amphorae. In this way, early amphorae used for the flos product would have small amounts of bone, while later ones, probably of a different shape, contained larger amounts. In each case, it was the liquid fish sauce that was the final product. The bones were transported because they still retained flesh or were in a thick paste and could not be easily removed if disarticulated. We have been looking for a rational economic reason why what appears to be a very bony fish sauce residue was shipped so widely. We believe we now have a logical reason. Rather than the bony allec being a fish paste of limited value, it was simply a semi-processed fish sauce waiting further processing. In transit, the sauce developed its protein levels, and, at the port, market, or place of use, the new flos emulsion would be poured off the bones remaining in the amphora. It is very likely that many of the urban sites with evidence of allec will undoubtedly represent this discarded bone (see Table 2).

One of the defining characters of the fish sauces» residues found on land, first identified by Desse-Berset & Desse (2000: 91), was the quality of the preservation. The bones were often fragmentary, even described as fish bone flour. This damage was judged to be caused by the fermentation process and decomposition. Also, it was assumed that, as cooking is considered to be part of the process, this would have also damaged the bone (Desse-Berset & Desse, 2000: 93). It is important to note that there was no apparent dam- age to the bones caused by the fermentation process (Figure 6 shows mackerel opercula after a successful fermentation).

There was also no evidence of digestion in the form of acid etching. As already noted, cooking of a fish sauce appeared to be a separate and domestic process that was unlikely to have been used in conjunction with fermentation, and modern fish sauce techniques confirm this (Klomklao et al., 2006: 444). It is therefore possible to demonstrate that a shipment of mackerel allec subsequently ship-wrecked in the Mediterranean only a few weeks after processing would contain substantial amounts of flesh on articulated skeletons. In these circumstances, it would be impossible to distinguish between a salted fish product and one intended to be a fish sauce, using the current criteria identified by Desse-Berset & Desse (2000: 93). It seems like- ly that the defining factor in a case like Cape bear III would be the shape and size of the amphorae. In this case, the Dressel 12 amphorae, with their narrow elongated body and narrow neck, would clearly suggest semi-liquid rather than solid pieces. The Grado wreck is also of great significance. Many of the sardines remained articulated, and organic matter was present which suggest the ship may have gone down very shortly after departing. We can now see that the empty amphorae labelled as liquamen flos may have held the first sauce while the fish bones, placed in whatever amphorae were available, represented the second sauce being generated in transit.

FIGURE 5
The sauce in the form of an emulsion removed from fermented sardine, demonstrating the particles of muscle tissue in the liquid. We may considered this a «flos liquamen».

FIGURE 6
Mackerel opercula from an efficient mackerel liquamen demonstrating little damage or acid erosion.

page13image38740608

CONCLUSIONS

It has been possible to demonstrate that the residue of ancient fish sauce known as allec probably existed in two forms: the bone, and semi-digested fish mash which constituted a fish sauce concentrate being generated in transit and a runny bone free fish paste. The latter was likely found in the spike of fish sauce amphorae and was probably consumed as a relish or even re-brined to generate the genuine second-quality sauces that we find on amphora tituli picti. I believe it can also be demonstrated that, when whole fish sauce was manufactured, a «second sauce» from the same batch of fish may also have been shipped alongside the first sauce, and this constituted the allec currently identified as a separate bony fish paste. Both products may have needed further processing by traders and merchants before being ready for sale. The fish bone evidence associated with shipwrecks and discarded amphorae from urban sites needs re-evaluating in light of these findings. It may be possible, when finding in the future new shipwrecks, to compare the shape of amphorae with the fish bone evidence inside the vessels and determine just what was being shipped. Many of the fish bones currently considered a salted fish product were shipped in the Dressel 7-14 forms which amphorae specialists consider a fish sauce vessel rather than a salted fish vessel. One may imagine that liquids and solids would ideally be shipped in vessels designed for this purpose as Opait (2007: 117) has pointed out. The choice of vessel would clearly depend on circumstances and availability, and the re-use of amphorae make the whole issue very much more complex. The fact of re-use may render any firm conclusions about the products inside impossible. These preliminary conclusions have opened up the issue of the trade in fish across the Mediterranean. In turn, they may have profound consequences not only for our interpretation of the fish bone evidence associated with fish sauce but also much wider implications for our interpretation of the ancient economy and more particularly the relationship between Spain and Italy in terms of the trade in fish and other products.

APPENDIX 1

The Geoponica 46. Making gara

The so-called liquamen is made thus. Fish entrails are put in a container and salted; and little fish, especially sand-smelt or small red mullet or mendole or anchovy, or any small enough, are all similarly salted; and left to pickle in the sun, stirring frequently. When the heat has pickled them, the garos is got from them thus: a deep close woven basket is inserted into the centre of the vessel containing these fish, and the garos flows into the basket. This, then, is how the liquamen is obtained by filtering through the basket; the residue makes alix.

The Bithynians make it thus. Take preferably small or large mendole, or, if none, anchovy or scad or mackerel, or also alix, and a mixture of all these, and put them into a baker’s bowl of the kind in which dough is kneaded; to one modios of fish knead in 6 Italian pints of salt so that it is well mixed with the fish, and leaving it overnight put it in an earthenware vessel and leave it uncovered in the sun for 2 or 3 months, occasionally stirring with a stick, then take [the fluid?], cover and store. Some add 2 pints of old wine to each pint of fish.

If you want to use the garon at once, that is, not by ageing in the sun but by cooking, make it thus. Into pure brine, which you have tested by floating an egg in it (if it sinks, the brine is not salty enough) in a new bowl, put the fish; add oregano; place over a sufficient fire, until it boils, that is, until it begins to reduce a little. Some also add grape syrup. Then cool and filter it; filter a second and a third time until it runs clear; cover and store. A rather high quality garos, called haimation, is made thus. Take tunny entrails with the gills, fluid and blood, sprinkle with sufficient salt, leave in a vessel for two months at the most; then pierce the jar, and the garos called haimation flows out.

Translation: Andrew Dalby (2011), The Geoponica Prospect Books.

(Pseudo) Gargilius Martialis, Medicinae ex holeribus et pomis 62.

A confection of liquamen which is called oenogarum.
Naturally oily fishes are caught/ taken, such as are salmon and eels and shad and sardines or herrings, and an arrangement of the following kind is made of them along with dried fragrant herbs with salt/ they are put together with fragrant died herbs and salt in this way. A good, sturdy vessel. well pitched, with a capacity of three or four modii, is got ready, and dried herbs with a good fragrance are taken – these can be garden or field herbs – namely dill, coriander, fennel, celery, sicareia, sclareia?, rue, mint, sisymbrium (?wild thyme), lovage, pennyroyal, oregano, bettony, argemonia, and the first layer is spread out at the bottom of the vessel using these. Then the second layer is laid down using fish –whole if they are small, cut in pieces if they are larger – over this is added the third layer of salt two fingers deep, and the vessel is to be filled right to the top in this, with succes- sive triple layers of herbs, fish and salt. It should then be closed up with a lid fitted and put aside as it is for seven days.

When the seven days are over, the mixture should be stirred right to the bottom, using a wooden paddle shaped like an oar, twice or three times every day. When this process is complete, the liquor which flows out of this mixture is collected. And in this way liquamen or oenogarum is made from it. Two sextarii of this liquor are taken and are mixed with half a sextarius of wine, then single bundles of (each of) four herbs – viz. dill, coriander, savoury and sclareia. A (one) little handful of fenugreek seed is also thrown in, and of the aromatics thirty or forty grains of pepper, three pennies of costum by weight, the same of cinnamon, the same of clove, and when pounded up finely these are mixed with the same liquor.

Then this mixture should be cooked in an iron or a bronze pan until it reduced to a sextarius in volume. But before it is cooked half a pound of purified honey ought to be added to it. When it has been cooked it ought to be strained through a bag like a medicine until it is clear – it needs to be boiling when it is poured into the bag. When clarified and cooled it is kept in a well-pitched vessel in order to give flavour to opsonia.

Translation Dr C. Grocock

Categorias
Garum

SALTED FISH INDUSTRY IN ROMAN LUSITANIA

SALTED FISH INDUSTRY IN ROMAN LUSITANIA: TRADE MEMORIES BETWEEN OCEANUS AND MARE NOSTRUM

HERITAGES AND MEMORIES FROM THE SEA
1. UNCOVERING HERITAGES AND MEMORIES
SÓNIA BOMBICO - msbombico@uevora - University of Évora

 ABSTRACT 

Initiated by Augustus, Rome’s Atlantic policy seems to have been consolidated in the age of Claudius, with the acknowledgement of the economic potential offered by the Atlantic region. It is in this context that we must understand the development of the salted-fish industry in Lusitania. In the same geographical contexts, and in close relationship with fish-processing factories, are known about 20 pottery centres producing amphorae, located in the regions of Peniche, Sado and Tejo valleys, and the coasts of Alentejo and Algarve. This production extended in time beyond the end of the Western Roman Empire and up to the end of the 5th and 6th centuries, according to the archaeological data of some amphora kilns and fish-processing sites. The identification of Lusitanian amphorae in distant consuming centres and several shipwrecks in the Mediterranean basin confirm the long-distance commerce and the total integration of this “peripheral” region into the trade routes of the Roman Empire. 

THE “CONQUEST” OF THE ATLANTIC FACADE

The inclusion of the Lusitania Province and the northwestern Iberian Peninsula into the Roman Empire allowed for the existence of regular long-distance contacts with other provinces and especially with the Mediterranean. The spreading out of Rome’s power to Britannia and Germania Inferior – a process completed in the middle of the 1st century AD – inevitably provided the Roman Empire with a wide Atlantic coastal area. 

The trade networks established along the Atlantic facades of the Iberian Peninsula supplied not only the cities but also, and above all, the fixed military camps located in the northwestern Iberian Peninsula. The archaeological data suggests a preferred relationship with the Baetica province and the port of Gades, where the supply of corn, wine and olive oil was controlled by the state (Remensal Rodriguéz 1986, 111; Morillo Cerdán and Salido Domínguez 2010, 148). Those military supply networks can also be related to the more recently established routes towards Britannia and Germania Inferior (Fernández Ochoa and Morillo Cerdán 2010, 115; García Vargas 2010, 65). 

Actually, despite some sailing difficulties, the Atlantic route constituted the best choice considering the distance/cost relationship (Carreras Monfort 2000; Blot, M.L. 2003; Fabião 2009a, 53). However, international studies have valued the importance of the Gallic isthmus and the Rhone and Rhine routes, underlining the supposed Hispanic peripheral condition and depreciating the Atlantic route (Carreras Monfort 2000, Fabião 2009 a). 

The lack of shipwreck records on the Atlantic coast from Cadiz to La Coruna in the work of Parker (1992), coupled with a somewhat non-contextualised analysis of Ora Maritima (ca. 4th century), has contributed to an increased skepticism regarding the Atlantic navigation of the Romans. Cadiz, described by Strabo (ca. 1st century) with enthusiasm, lay in ruins three centuries later, according to Avienus (Mantas 2000). 

Nevertheless, in the last decades, archaeological underwater discoveries in maritime and fluvial contexts (Bombico 2012, Cardoso 2013, Blot and Bombico 2014) along the Atlantic facade have contributed to a better understanding and characterisation of settlements and sea routes. 

Initiated by Augustus, Rome’s Atlantic policy seems to have been consolidated in the age of Claudius, with the acknowledgement of the economic potential offered by the Atlantic region (Mantas 2002–2003, 459; Fabião 2005, 84). In fact, between the middle of the 1st century BC and the 1st century AD, the quantity of archaeological evidence 

indicative of Roman presence in the western Iberian Peninsula grows exponentially, confirming data found in classical literature sources (Pomponius Mela, Pliny, Strabo and Avienus). Thus, Pliny wrote that “the cities worthy of mention on the coast, beginning from the Tagus, are that of Olisipo, famous for its mares, which conceive from the west wind; Salacia, which is surnamed the Imperial City; Merobriga; and then the Sacred Promontory, with the other known by the name of Cuneus, and the towns of Ossonoba, Balsa, and Myrtili”.1 

1 Cf. Pliny, Nat. Hist., 435.21. 

The complexity of the Atlantic environment makes it particularly difficult to recognise ancient port facilities and calls for a reflection on the concept of harbour space. In fact, these vestiges are not always materialized in specific harbour equipment. Sometimes, it could be that, as described by Strabo regarding the Tiber River, ships were unloaded through the use of smaller vessels (Blot, M.L. 2003, 22). 

The historical and archaeological data collected in the last decades suggest the following scenario: 

– the existence of a significant exploitation of marine resources (mainly fish products) correlated with amphora kilns; 

– an interest for estuaries and the influence they had on the development of Lusitania’s maritime cities; 

– the proliferation of archaeological records related to transport and circulation of goods by sea along the Atlantic coastline (such as the pattern of distribution of some amphorae and terra sigillata); and lastly, 

– the identification of archaeological remains of ancient navigation (lead anchor stocks, shipwrecks and lighthouses). 

The main Roman viae in Lusitania seem to arise, on the one hand, from the necessity to link maritime cities among each other, and, on the other hand, from the necessity to connect them to the fluvial routes that penetrated the territory (Mantas 2002–2003). This means that roads combined maritime routes and oceanic termini with inner termini (Blot, M.L. 2003). These elements suggest an ancient economy based on both agriculture and fishing to which sea trade was added. The development of salt exploitation, linked to fishing activities, allowed for the production of salted fish, one of the most important industries in Roman Lusitania (Edmondson 1987, Fabião 2009b). 

Jaime Cortesão was the first Portuguese author to suggest the existence of an “Atlantic settlement process” in Roman times (Fabião 2009a). Later studies have further analysed that topic (Edmondson 1987, Mantas 1990, Blot, M.L. 2003). It is interesting to note that the cases of the Sado and the Tagus rivers seem to confirm Jaime Cortesão’s supposition and, indeed, there are indications of coastal settlement (or coastal settlement increase) in Roman times (Fabião 2009a). It is in this context that we must understand the development of the fish products industry in Lusitania.

FISH PRODUCTS AND AMPHORAE FROM ROMAN LUSITANIA

The ancient Lusitanian maritime installations were made up by a set of harbours, the so-called “harbour complexes” (Blot, M.L. 1998, 154; Mantas 2000; Blot, M.L. 2003), integrated into the same navigable geographical reality, such as an estuary. In the same geographical contexts, and in close relationship with fish-processing factories, are known at least 18 pottery centres producing amphorae, located in the regions of Peniche, Sado and Tejo valleys, and the coasts of Alentejo and Algarve (Mayet 2001, Fabião 2004). In perfect geographic relationship with the kilns, and dependent on fishing and the extraction of salt, were developed the fish-salting workshops (Fabião 2009b) (Figures 1 and 2). 

Although the classical authors do not mention this kind of production in Lusitania, the importance of the salted fish industry is evident given the extensive structural remains of cetariae distributed along the southern and western coasts of the province, indicating a significant production volume (Fabião and Guerra 1993, 999; Étienne and Mayet 1993–94, 218). Moreover, with 25 identified fish-salting workshops, Tróia was one of the largest production centres in the Roman world (Vaz Pinto, Magalhães and Brum 2014, 156). 

The oldest evidence of a fish products industry and its containers dates from the beginnings of the Principate and is generally associated with ovoid amphorae from the Julio-Claudian period, particularly with the workshops of Abul and Pinheiro (Sado valley), and Morraçal da Ajuda (Peniche) (Fabião 2004, Fabião and Morais 2007, Fabião 2008). 

Between the middle of the 1st and the end of the 2nd centuries AD the Dressel 14 amphora dominated the production in Lusitanian kilns. During the 2nd century begins the production of a new type of amphora in the pottery centres of Sado and Tagus, the Lusitana 3. This type, characterised by its flat bottom that seems to be inspired by the Gauloise 4 type, has been typically associated with the transportation of wine. 

Between the end of the 2nd century and the beginnings of the 3rd century, profound changes in the production of fish products in Lusitania took place, changes that occurred at the level of organisation of fish processing units and the pottery workshops, and which made themselves felt in the import records of Lusitanian amphorae in the port of Ostia (Panella and Rizzo 2014), the city of Rome (Panella et al. 2010, Rizzo 2012) and progressively in the majority of Western Mediterranean sites. 

This transition period is marked by the abandonment of some produc tion units and by the restructuring or subdivision of the salting tanks. This discontinuity in the Lusitanian production is comparable to the occurred within the “Círculo del Estrecho” (Villaverde Vega 1990, Lagosténa Barrios 2001, Bernal Casasola 2008) and arises in correlation with the global set of economic and political changes that occurred in the Roman world between the end of the 2nd century and the beginnings of the 3rd century. 

In the course of the 3rd century we are witnessing a resumption of exploration and exportation, which reaches its peak during the 4th century. While the major centres at the rivers Sado and Tagus continue in operation, new centres emerge, especially in the Algarve (Fabião 2009b, 576). This new phase of production is characterised by a diversification of amphorae types 2 (Figure 3).

2 More information on forms, typologies and the characteristics of the materials can be obtained through the References cited below and http://amphorae.icac.cat/tipol/geo/map (Amphorae Ex Hispania). 

 

Between the 3rd and the 5th centuries AD, Almagro 51c replaced the Dressel 14 as the dominant form, and throughout this period three successive versions of this form were known. At the centres of the rivers Tagus and Sado, the Almagro 51c, Almagro 50 and Keay XVI forms were produced, as well as the Keay 78 form, at the Sado, and the flat-bottomed Lusitana 9, from the Tagus estuary. In the course of the 4th century appears the Almagro 51 A&B (Mayet 2001, Fabião 2004 and 2008). The Sado 3 form appears in the late 4th century or in the 5th century and its production is documented in the pottery workshop of Pinheiro (Mayet and Silva 1998 apud Fabião 2008, 742). The Beltrán 72 form, long considered as a production of the Algarve, was subsequently excluded from the Lusitanian productions by most authors and assigned to the late productions of the Cadiz Bay area (Fabião 2004, 397). However, current archaeological studies continue to refer to forms of this type with Lusitanian fabrics, which leaves the question open to discussion (Garcia Vargas 2007, 343; Bombico et al. 2014). 

The fish products industry continued, beyond the fall of the Roman Empire, up to the 6th century, according to the archaeological data of some amphora kilns and fish-processing sites (Fabião 2008, 740 and 743; Fabião 2009c). 

The data available for the study of the distribution of Lusitanian products are, for the most part, confined to the study of fish amphorae. This fact leads us to consider fish as the main food product produced and exported by the province, relegating the possible wine export to a secondary position. Unfortunately, the epigraphic tradition (stamps) is hardly present in the Lusitanian productions (Fabião and Guerra 2004) and the only titulus pictus known is the LIQ (uamen) in a Dressel 14 parva from the Arles-Rhône 3 area (Quillon 2011, 108). 

Some fish bone remains from processing tanks in Lusitania and Mediterranean shipwrecks, as well as the diversity of the amphorae forms, indicate that the province had produced and exported both salted fish (salsamenta) and fish sauces (garum, hallex, liquamen, muria, etc.), thus turning the rich sea life of the Atlantic waters into an economic advantage. 

On the basis of faunal remains, a clear pattern emerges in the spectrum of species used in the preparation of fish products in Roman times. The fish sauces were produced mainly from clupeiform fishes: sardines all itlaics, sardinella (Sardinella sp.) and, to a lesser extent, anchovies (Engraulis encrasicolus). Sea breams (Sparidae) were also regularly used, albeit usually in smaller proportions. For salsamenta, the Spanish mackerel (Scomber japonicus) was preferred, although the use of scad (Trachurus sp.) is also documented (Van Neer et al. 2010, 162). 

Figure 1 – Pottery centres: 1‑Morraçal da Ajuda; 2‑Garrocheira; 3‑Porto dos Cacos; 4‑Quinta do Rouxinol; 5‑Zambujalinho; 6‑Largo da Misericórdia; 7‑Quinta da Alegria; 8‑Pinheiro; 9‑Xarrosinha; 10‑Abul; 11‑Bugio; 12‑Barrosinha; 13‑Martinhal; 14‑Quinta do Lago; 15‑S. João da Venda; 16‑Torre de Aires; 17‑Manta Rota; 18‑S. Bartolomeu de Castro Marim. (Fabião 2004, 389) 

Figure 2 – Fish-salting workshops: 1‑Peniche (?); 2‑Cascais; 3‑Tagus estuary: Casa do Governador da Torre de Belém, Baixa de Lisboa, Porto Brandão and Cacilhas; Sado estuary: 4‑Creiro; 5‑Rasca; 6‑Comenda, Setubal and Tróia; 7‑Sines; 8‑Ilha do Pessegueiro; 9‑Beliche; 10‑Ilhéu da Baleeira (?); 11‑Salema; 12‑Boca do Rio; 13‑Burgau; 14‑Senhora da Luz; 15-Lagos and Meia Praia. 16 – Vau; 17 – Portimões; 18 – Baralha 2; 19 – Ferragudo; 20‑Armação de Pêra; 21‑Cerro da Vila; 22‑Quarteira; 23‑Loulé Velho; 24‑Quinta do Lago; 25‑Faro; 26‑Olhão; 27‑Quinta de Marim; 28‑Torre de Aires; 29‑Quinta do Muro and 30‑Cacela. (Fabião 2009b, 565)

Figure 3 – Lusitanian amphorae types: a) Dressel 14, b) Lusitana 3, c) Almagro 51c, d) Lusitana 9, e) Keay XVI, f) Almagro 50, g) Keay 78/Sado 1, h) Almagro 51 A&B and i) Sado 3

The archaeological evidences, from mid-1st century BC, reveal a major utilisation of Spanish mackerel in the Baetican production (Desse- Berset and Desse 2000; García Vargas 2006, 41). On the other hand, fish bones of sardines have been found in several Lusitanian amphorae from shipwrecks (Fabião and Guerra 1993, 1005–1006; Desse-Berset and Desse 2000) (Table 1). In addition, sardine (Sardina pilchardus) was the principal component of the contents found in the tanks from Lusitanian factories: “Casa do Governador”, Rua dos Correeiros, “Mandarim Chinês”, factories I and II of Tróia, Quinta do Marim (Olhão) and Travessa do Freire Gaspar (Setúbal). All the analysed fish remains came from a later phase in the use of fish vats, between the 3rd and the 5th centuries (Desse-Berset and Desse 2000, Assis and Amaro 2006, Gabriel et al. 2009). Thus, it seems that, at least in Late Antiquity, sardine was a most important element in the manufacturing of fish products in Lusitania. 

Nevertheless, the identification of processed fish remains is a complicated task, and there are still discrepancies between the archaeozoological evidence and the one provided by epigraphic and literary sources (Van Neer et al. 2010, 162). 

UNDERWATER MEMORIES FROM MARE NOSTRUM: SHIPWRECKS AND TRADE ROUTES

As an event that occurs at a single point in time, the shipwreck presents a very narrow chronological spectrum. Isochrony is one of the main characteristics of the goods transported by a ship and found among a shipwrecked cargo (Blot, J.-Y. 1998, 118). It is an exceptional archaeological context. “Each underwater shipwreck site that has been excavated and published provides a snapshot of the trade of its time, as we may deduce that all objects being transported were contemporary; if not produced in the same year, they were at least sold at the same time” (Mayet 1998, 83). 

Amphorae play an important role in the study of maritime trade, as they are containers specifically designed for maritime transport (Carreras Monfort 2000, 32). The importance of the amphorae found in the marine environment is linked to their context and conservation state. When conserved as a whole, which happens in many cases, it is possible to define their shape, size and capacity. They often preserve stamps and tituli picti that provide us with relevant information regarding origins, contents and trading processes. On the other hand, they allow us to infer navigation and maritime traffic routes that can be defined not only by the shipwreck location but also, and mainly, by the combination, in the same load, of archaeological materials of different origins. That is to say that, in some cases, the arrangement of different goods on board of a wrecked ship provides insight into the route of its final voyage, or the use of entrepôts (Parker 1992b, 89). 

Table 1 – Faunal remains in Lusitanian amphorae 

Note: In the shipwrecks of Catalans (Marseilles) and Sud-Lavezzi 1 have been identified remains of Spanish mackerel (Scomber japonicus) associated to the Almagro 51 A&B/Keay XIX amphora type, probably from a South-Hispanic fabric, non-Lusitanian.

The data included in this paper is part of a wider research project that is currently under way within the scope of the doctoral thesis of the author. The data presented here represents only a small sample of the data available for analysis, which corresponds to more than 40 shipwreck sites. Based on the published data (Edmonson 1987, Lopes and Mayet 1990, Parker 1992a, Étienne and Mayet 1993–94, Fabião 1996 and 1997), we are trying to update the inventory of shipwreck sites containing Lusitanian amphorae. In the late 1990s, Carlos Fabião presented an updated inventory with a total of 33 shipwreck sites that contained “Lusitanian type” amphorae (Fabião 1997), a much greater number of sites than the previous inventory from F. Mayet, which recorded 17 shipwrecks (Lopes and Mayet 1990, Étienne and Mayet 1993–94). More recently, Andrew Philip Souter, based solely on the above-mentioned published data, reintroduced a distribution of Mediterranean shipwrecks that contained Lusitanian amphorae (Souter 2012, 156). However, in the last 17 years, a set of new underwater archaeological works allowed for the adding of new shipwreck sites to the inventory (Bombico et al. 2014 and Bombico, in press). 

For this paper, only a small number of sites have been selected. They seem to correspond to different models of commerce and transport that fall largely within the east-west routes departing from the Iberian Peninsula towards Rome. The global analysis of the available data suggests a much more complex set of routes that include the Central and Eastern Mediterranean, but we will not address this here. 

Shipwrecks constitute a primary source for studies on the circulation of goods; however, they pose limitations. Shipwrecks have been described as closed deposits, and yet there may be elements of disturbance or contamination, especially in port contexts or ship graveyards, such as some sites in the Strait of Bonifacio. In some cases, mistaken topography and insufficient information about the material found or the site itself cause serious problems for the archaeological interpretation (Parker 1981, 332). 

The set of shipwrecks traditionally associated with the presence of “Lusitanian type” amphorae is, overall, a set of ill-characterised underwater sites. Those are, for the most part, sites where occasional surface sampling (with poor location records and lacking scientific rigour) took place, where a systematic archaeological intervention has never been carried out, and where results have been published in an incomplete way. The big challenge here would be to clarify these data, which, ideally, would entail the re-examination of all the amphorae that have been identified in all of the shipwreck contexts. Such challenge, however, will not be totally met within the scope of the aforesaid doctoral thesis, mainly for reasons that have to do with the time available to perform the investigation, and the ample geographical dispersion of the finds, and of the collections. On the other hand, much of the material recovered during the 1960s, the 1970s and the 1980s cannot be located. 

But perhaps the biggest problem in analysing these data is the recognition of Lusitanian fabrics. Their identification has proved problematic, mainly because of developments in the archaeological research of Hispanic pottery workshops. Today, we know that “Lusitanian type” amphorae (amongst which are the forms of wider distribution Dressel 14, and the Almagro 50 and 51 series) were also produced in other parts of southern Hispania (Bernal Casasola 1998, Bernal and García Vargas 2008, Fabião 2008). In order to clarify their origin it is necessary to reassess, in the light of the new data, the ceramic assemblages that were published in particular up until the 1990s and the inventories held in museums. On the other hand, it remains difficult to identify Lusitanian productions amongst the vast set of published data, as it is very common to find generic classifications of origin, such as “South-Hispanic” or simply “from the Iberian Peninsula”. 

It should also be taken into account that fish products were, in some cases, a secondary cargo that could have been part of a subsidiary and free trade system whose volumes did not come close to the ones of the redistribution of wheat, olive oil, wine, metals or marble, promoted by the state, and bound for the two great markets of the Roman world: Rome and the military camps (Tchernia 2011). In addition, the underwater archaeology data have emphasised the presumed complementary role of the diffusion of Lusitanian productions in relation to other regions, namely Baetica (Mantas 1990, 170 and 191; Lopes and Mayet 1990, 299 and 300). 

The set of shipwrecks with amphorae of Lusitanian production on board is quite heterogeneous. There are cases in which Lusitanian amphorae constitute the main cargo and cases in which they are secondary or supplementary cargo. There are also some examples in which their small quantity seems to indicate that they would have been part of the crew’s belongings. However, in any case, their presence allows us to establish chronologies and understand routes (direct, redistribution, long distance, cabotage, etc.). And in some cases, the remains of the hull may indicate the size and capacity of the vessel. 

The heterogeneity of the shipwrecks allowed us to conjecture a few different models of circulation and transportation. We have sought to build a comprehensive image of the diversity of existing cases over, i.e., from the middle of the 1st century AD to the end of the 5th century AD. Similarly to what has been recently done by Giulia Boetto (2012, 156), we have selected a heterogeneous sample of wrecks and applied hypothetical models of “commercial routes” to them (Figure 4).

The transportation of Lusitanian fish products must have occurred by way of a homogenous shipment that is loaded at the same time in a major port – located near the area of production of the cargo – and then sent through a direct route to another major port. This model is likely to have been used for transport between, for example, the port of Olisipo and Gades or Olisipo and Carthago Nova, and less likely to have been used in very long distance routes, such as the ones between Olisipo and Rome, although the shipwreck of Cala Reale A, in northern Sardinia, with a predominantly Lusitanian cargo, may suggest such model. Yet, it is very likely that a significant part of Lusitanian fish products may have been exported via negotiatores based in the port of Gades (Lopes and Mayet 1990, 300; Étienne and Mayet 1993–94, 216; Mantas 1998, 208 and 213). 

 

Figure 4 – Shipwrecks containing Lusitanian amphorae and discussed in the text: 

1st/2nd century: 1‑San Antonio Abad; 2‑Cap Bénat 1; 3‑Punta Sardegna A; 4‑Escombreras 4; 5‑Tiboulen-de-Maire 

3rd century: 6-Cabrera I; 7-Cabrera III; 8-Punta Ala A; 9-Porticcio A 

4th/5th century: 10-Cala Reale A; 11-Sud-Lavezzi 1; 12-Fontanamare A/Gonnesa Sito A; 13-Punta Vecchia 1; 14-Sancti Petri; 15-Scauri 

Therefore, we believe that shipwrecks with predominantly Lusitanian cargos can correspond to a model which is somewhat different from the one previously described and would originate from a South-Hispanic port, such as Gades or Carthago Nova – i.e., a homogenous shipment that is loaded at the same time in a major port – far away from the area of production of the majority of the goods – and sent through a direct route to another major port. The wrecks of San Antonio Abad/Grum de Sal (Ibiza), Cap Bénat 1 (Var, France) or Punta Sardegna A (Strait of Bonifacio), all with a homogeneous main cargo of Lusitanian Dressel 14 amphorae, which are datable from the second half of the 1st century to the middle of the 2nd century AD, fit into this type of route parting from the south of the Iberian Peninsula and heading to one of the larger ports of the south of Gaul or to the ports of Rome. 

In the summers of 1962 and 1963, archaeological campaigns were carried out at the shipwreck site of San Antonio Abad (Ibiza). Several amphorae belonging to the Dressel 14 type (Figure 5), containing a fish-based product, were retrieved, as well as some opercula (Vilar-Sancho and Mañá 1964 and 1965), the remains corresponding to a vessel with no less than 25 meters in length (Vilar Sancho and Mañá 1964, 187). Later, during the 1980s and 1990s, the site was again subject to archaeological works, and the ceramic materials were stored in the deposit of the Museo Arqueológico de Ibiza y Formentera. 

The shipwreck site known as Cap Bénat 1 had its first intervention in 1971. With the exception of two different fragments, a flat-bottomed amphora and a PE 25 from Ibiza, the total of the materials observed and retrieved belonged to the same amphora type. The formal description and the drawings allow us to identify the amphorae as being Dressel 14 (Figure 6), and the description of the fabric indicates a probable Lusitanian production (Calmes 1973, 142). There were also three opercula retrieved (Calmes 1973, 137–140). The majority of the retrieved pieces are presently in the Dépôt de Saint-Raphael (Fréjus); however, we were able to examine a rim fragment and a spike of Dressel 14 of Lusitanian fabric in the Depôt archéologique régional d’Aix les Milles. 

Figure 5 – Dressel 14 amphorae from San Antonio Abad shipwreck. (Vilar Sancho and Mañá 1965, Lamina XLVII) 

Figure 6 – Dressel 14 amphorae and opercula from Cap Bénat 1 shipwreck. (Calmes 1973, 143)

The site of Punta Sardegna A is located in the Maddalena Archipelago, in the southern part of the Strait of Bonifacio. This place has recently undergone underwater archaeological works carried out by the Università di Sassari, under the supervision of professor Pier Giorgio Spanu. Based on the work performed on the site, we can assume that the shipwreck was a vessel carrying mostly Lusitanian amphorae of fish products from the Dressel 14 type. But also a spike of Dressel 7-11, a handle of Dressel 20 from Baetica, a spike of Dressel 2-4 Italic and two opercula were recovered from the site (Porqueddu 2013, 86–90, 114–115; Porqueddu, Giarrusso and Spanu, in press). 

Until the mid-2nd century AD, archaeological records also present cases in which Lusitanian Dressel 14 amphorae were a secondary cargo, a residual cargo, or simply objects that belonged to the crew. We have chosen two examples: Escombreras 4 and Tiboulen-de-Maire. 

The site of Escombreras 4 is located on the coast of Carthago Nova. It is presumed to be the shipwreck of a merchant ship coming from Baetica with a main cargo of Haltern 70, Dressel 8 and 9, and some Beltrán IIB and Lusitanian Dressel 14, from the second half of the 1st century AD (Pinedo Reyes and Alonso Campoy 2004, 131–133). A specimen of these amphorae, which we were able to observe, is deposited in the MNAS (Arqua-Cartagena) (ESC-I/17.17/2/10354). 

The site of Tiboulen-de-Maire is located near a small island, to the south of Marseille. The site has undergone two underwater archaeological campaigns carried out by DRASSM (Département des recherches archéologiques subaquatiques et sous-marines) in 1977 and 1978. Since 1999, survey and excavations have been undertaken yearly at the site. It is a presumed shipwreck with a main cargo of Baetic olive oil amphorae Dressel 20 (70%), and a heterogeneous secondary cargo including: fish sauce amphorae types Beltrán IIA and IIB (14%), and Dressel 14 (2%); wine containers Gauloise 4 (4%), Dressel 28 (3%) and Dressel 2-4 from Tarraconensis (3%), two Forlimpopoli amphorae; a North African amphora and a Dressel 7-11 (Djaoui 2011, 625). The cargo materials establish a chronology between AD 130 and AD 150, and the archaeological works of the last decade allowed for the study of the remains of the hull (Ximénès and Moerman 2006). More recent campaigns, undertaken mostly after 2005, have confirmed that more than 80% of the transported goods were from Baetica, particularly olive oil. We can assume that there was a home port located in that region, with a hypothetical use of a redistribution port, such as Narbonne or Marseille (Ximénès 2007, 10; Djaoui 2011, 629). At the Dépôt archéologique régional d’Aix les Milles there is a top part of a Dressel 14 of Lusitanian fabric, retrieved from this shipwreck. 

The two following cases outline the maritime exports of Lusitanian fish products throughout the 3rd century AD. These were shipments of different product ranges, loaded at the same time at a main redistributing port and most likely headed for another main port. Lusitanian amphorae shared cargo space on board of the ships with Baetican and North African containers. This presents a peculiar scenario, since, within this chronology, there are no shipwrecks in which Lusitanian amphorae were the main cargo. This may be connected to the above mentioned period of transition, documented through the levels of archaeological finds related to the fish processing factories and amphora kilns in Lusitania. 

The shipwreck of Cabrera I was surveyed between 1978 and 1979 and is located at about 60 meters from Cabrera III. According to records from the time of the survey, it was possible to identify several amphorae of types Almagro 50 and 51C, Béltran 72, and Africana II variants B and D. This cargo is identical to the one of Cabrera III, which dates the shipwreck to AD 300–325 (Guerrero Ayuso and Colls 1982; Bost et al. 1992, 13; Parker 1992a, 80). 

The site of Cabrera III was also surveyed in 1979, having been later excavated in 1985 and 1986. The shipwreck was dated to the year AD 257, based on the treasure of coins aboard the ship. According to naval architecture data, this was a ship of about 35 meters in length. The cargo was stacked in two layers and was composed of Baetic olive oil amphorae Dressel 20 and Tejarillo I, Africana II variants B and C, Almagro 50 and 51C from Lusitania and a small number of Beltrán 68 and Beltrán 72. The cargo also included ARS types A and C (Guerrero Ayuso and Colls 1982; Bost et al. 1992; Parker 1992a, 81). The specimens from the types Almagro 50 and 51c, exhibited in the Museo de Cabrera, have Lusitanian fabrics. 

The archaeological works carried out at these sites led to the conclusion that, on the basis of the disposition of the containers, all had been shipped at the same time. So, considering the apparent Iberian provenience of much of the cargo and the location of the wreck in the Balearic Islands, it seems that the ship was in route from the Iberian Peninsula to Italy, with Gades as its most probable port of departure, and Ostia/ Portus as its likely destination (Bost et al. 1992, 200–202). 

The 3rd century reveals yet another interesting shipwreck context: the site of Porticcio A, located on the west coast of Corsica. This shipwreck contains a very heterogeneous cargo, probably loaded at the same time at a main redistributing port and transported along a redistribution route to a secondary port. The location of the shipwreck and the characteristics of its cargo suggest that this was a cargo that had been ordered. The site was discovered in 1990 and was subjected to archaeological works from 2001 onwards. The quite heterogeneous cargo includes amphorae form the eastern and western Mediterranean, ARS type C, common ware and African cooking ware, some mortaria, one lamp, over 100 glass objects and several fragments of marble statues (Alfonsi 2008a and 2010). The shipment of amphorae is mostly Kapitan II, with a smaller amount of Africana II and Kapitan I. The great variety of amphorae types also includes a smaller presence of the following types: Africana I, Forlimpopoli, Agora M254, Almagro 51C, Almagro 50, Dressel 20, Dressel 23, Agora F65/66, Crétoise 2, Dressel 30, Dressel 28, Beltrán 72, Amphore Égyptienne, Empoli, Tripolitana, Peacock & Williams 60 and Zemer 57, besides other unclassified types. The re-examination of the materials of the deposit of Sartène confirmed the presence of three rims and of a spike of Almagro 51C of Lusitanian fabric. Amongst the marble pieces, fragments belonging to two monumental statues stand out: a bust representing the Emperor Philip the Arab, who reigned between AD 244 and AD 249, and another one likely belonging to his wife, Empress Marcia Otacilia Severa (Alfonsi 2007, 93; 2008a and 2008b). Remains of the hull of the ship were also identified (Alfonsi 2003, 79 and 2006, 94). The two coins that were discovered, one from Philip I and another from Philip II, provide a terminus post quem of AD 248–9 for the shipwreck (Alfonsi 2006, 91). In this specific case, the Lusitanian amphorae are residual in a very heterogeneous cargo. Considering the description of the cargo, the most likely origin of this vessel was the port of Carthage. Michel Bonifay (2007, 257) compares this shipwreck to the one of Ognina Sud 1, dating to the first half of the 3rd century, in which a shipment of eastern Kapitan I and II amphorae completes a shipment of mostly Africana I. According to the author, these two shipwrecks suggest that the joint commercialisation of African and eastern types could have been done from the North African ports. 

During Late Antiquity, the number of shipwrecks containing Lusitanian amphorae is quite larger. This supports the archaeological data from Lusitania, which reveal a considerable increase in the production of fish products throughout the 4th century, and at the outset of the 5th century (Fabião 2009b, 571). Between the end of the 3rd century and the beginning of the 5th century, a quite varied set of shipwrecks sustains the evidence of distinct cargo typologies and of different circulation scenarios, likely contemporaneous. However, the main commerce routes that led from southern Baetica to Ostia and Portus via coastal Tarraconensis and southern Narbonensis were generally kept, as were the variants that used a process of island hopping (Balearic Islands, Corsica and Sardinia) on routes that led towards Italy via the Strait of Bonifacio. 

Figure 7 – Amphorae from Cala Reale A shipwreck. From the left to the right: Almagro 51&B, Sado 3, Beltrán 72 and Almagro 51C (Gasperetti 2012, fig.8)

Figure 8 – Amphorae from Fontanamare A shipwreck: Almagro 51C and Keay 78 (Dell’Amico et al. 2001-2002) 

Figure 9 – Almagro 51C from Punta Vecchia 1 shipwreck. Photo: Sónia Bombico

We will analyse three distinct types of cargo. Firstly, the Cala Reale A shipwreck (Strait of Bonifacio), in which the Lusitanian amphorae were, apparently, a homogeneous main cargo. (Figure 7). After its discovery, in 1995, the site has undergone various underwater archaeological campaigns. From what was published, we are able to confirm the existence of amphorae belonging to types Almagro 51 A&B, Almagro 51C, Beltrán 72 and Sado 3 (Spanu 1997, 111 and 112). Some of the amphorae still contained in situ their original cork stoppers and also some traces of fish-based products (Spanu 1997, 112). In addition to the amphorae, the archaeological works allowed for the recovery of two North African lamps, of African cooking ware, of a pitcher, of a considerable number of vitreous paste tessellae, and of two coins, one dated from the year 173 and one from the reign of the Emperor Valens (364–7). The set of materials that were retrieved allows us to establish a chronology for the shipwreck between the late 4th century and the middle of the 5th century. The total quantification revealed a cargo of around 2,000 amphorae. No remains of the vessel were identified during the whole excavation process. This vessel was likely bound for the port of Ostia and sank while approaching Turris Libisonis, possibly due to stormy weather or to touching bottom in rocky shoals (Gasperetti 2012, 301–303). During our visit to the Antiquarium Turritano and to the Centro di restauro e conservazione dei beni culturali di Sassari we were able to confirm that the totality of the above-mentioned forms was of Lusitanian origin. 

Also located on the Strait of Bonifacio, the shipwreck of Sud-Lavezzi 1, discovered in 1975, suggests a model in which the Lusitanian amphorae are the main cargo, along with other Hispanic products – Baetican in this case. Parts of the remains of the hull and some iron anchors were still preserved. The cargo, estimated at 450 amphorae, was arranged in two overlapping layers. Liou (1982, 437–444) studied this cargo, comprised of: 194 Almagro 51 A&B amphorae of varied profiles and capacities; 113 flat-bottomed amphorae of different sizes; 83 cylinder-shaped body amphorae from type Almagro 50 [or Keay 78]; some small amphorae of type Beltrán 72; 6 Almagro 51C and 3 Dressel 23. The splitting of the finds between the company Comex and the DRASSM resulted in the loss of some of the assets, aggravated later by the theft of the materials stored in the DRASSM deposit in Bonifacio. Liou suggests a time frame for the shipwreck somewhere between the 4th century and the middle of the 5th century (Massy 2013, 132–134). A small number of pieces are presently stored in the deposits of Milles and Sartène, allowing us to re-examine 13 specimens. We were able to identify the following Lusitanian fabrics: 3 Beltrán 72, 3 Almagro 51 A&B, and 2 Keay 78. 

The third model corresponds to a main cargo of Lusitanian fish products with North African products, Africana II variants B and D, and ARS types C and D. Two examples will be highlighted. 

The site of Fontanamare A/Gonnesa Sito A was excavated for the first time in 1972; however, the material that was retrieved remained unpublished until the late 1990s (Dell’Amico et al. 2001–2002). Three types of amphorae were documented on this site: Almagro 51C (the most abundant), Almagro 50 and/or Keay 78 (Figure 8) and Africana II variant D. Between 1997 and 1999, survey work took place on the site (Salvi and Sanna 2000). At least one third of the cargo appears to have been ARS, in this case the more typical forms of type C (second half of the 3rd century) and the more ancient forms of type D (beginnings of the 4th century AD). This site also revealed another set of interesting archaeological remains, among them: two amphorae cork stoppers; two lamp fragments and some common ware, probably belonging to the crew; tubuli and tegulae; metal pieces; and also some remains of the ship itself. Lastly, it is also worth mentioning that an important set of coins was found, with a chronological scope from AD 260 (Gallienus) to AD 294 (Maximianus), thus establishing the terminus post quem of the shipwreck (Dell’Amico et al. 2001–2002, 23, 45, 46, 52, 71, 83, 86, 87 and 127). The joint analysis of the recovered materials indicates that the shipwreck occurred within the first few decades of the 4th century AD. 

Dell’Amico and Pallarés suggest several hypotheses regarding the port where the ship that sank at Fontanamare was loaded. The first one presents the possibility that the loading took place in one of the redistribution ports on the southern coast of Spain. These were ports to which North African products converged via the so called “Phoenician Route”, a route that moved from east to west along the North African coast (Dell’Amico et al. 2001–2002, 142). This hypothetical scenario is similar to the one suggested for the shipwreck of Cabrera III (Bost et al. 1992, 200 and 201). Another hypothesis is that Carthage was the ship’s port of origin (Dell’Amico et al. 2001–2002, 144). In this case, the ship would have been moving in the opposite direction, meaning that Lusitanian products were being brought into the port of Carthage through routes established along the North African coast. 

From the site of Punta Vecchia 1 (Cap Corse), numerous amphorae fragments were recovered between 2004 and 2007, amounting to a total of 65 pieces. Amphora tops (rims, necks and handles) and spikes of Almagro 51C of two different sizes (67%) (Figure 9), one handle that could be of the Keay 78 form, possibly a spike of Almagro 51 A&B, another possible spike of Beltrán 72, and fragments of amphorae of Africana II, variants D and B (17%). The materials that were recovered point to the shipwreck having occurred between the late 3rd century and mid-4th century AD, with a predominately Lusitanian cargo. Small remains of wood were also identified during the works (Leroy de La Brière and Meysen 2004; Leroy de La Brière 2006, 87; Leroy de La Brière and Meysen 2007a, 88 and 89; Leroy de La Brière 2007b and Massy 2013, 110–114). The re-examination of the materials, performed in November of 2013 at the Depôt de Bastia (DRASSM), confirmed that the totality of the fragments of Almagro 51C were of Lusitanian fabric. 

This shipwreck, along with the Punta Ala A one (Dell’Amico and Pallarés 2006), confirms the circulation of Lusitanian amphorae on the circuits of the Tyrrhenian Sea and of the Ligurian Sea. Travelling along this route, ships would leave Rome, frequently with return cargos or cargos for redistribution, and when reaching the Strait of Bonifacio, would head north along the coast of Tuscany. Sailing through the Strait of Bonifacio from east to west was hindered significantly by the winds blowing from the west, so that travelling between Ostia and Gallia was done mostly through Cap Corse (Arnaud 2005, 165). A set of underwater archaeological data also documents that ships sailed in the opposite direction, along the northern coast of Corsica and of Cap Corse. This suggests an alternative route for the passing of the Strait of Bonifacio, not only for the vessels coming from Gallia, but also from the Iberian Peninsula (Arnaud 2012, 136–138). This might have been the case of the ship sunk in Punta Vecchia 1. 

The continued export of Lusitanian fish products during the 5th century, already substantiated by the Cala Reale A shipwreck, is also reliably documented in two other contexts: Sancti Petri (Bay of Cadiz) and Scauri (Island of Pantelleria) (Alonso Villalobos et al. 1994, Baldassari 2009a and 2009b). In spite of the evidence – revealed by these two sites – regarding the continuity of the exports of Lusitanian salting fish preparations during the 5th century, underwater archaeology has not yet been able to provide direct proof of its circulation after the fall of the Western Roman Empire. 

The shipwreck sites used to illustrate the different scenarios of the circulation of Lusitanian amphorae allow us to develop some hypotheses regarding navigation routes. Using as reference the work of Pascal Arnaud (2005) – Les routes de la navegation antique, Itinéraires en Mediterranée – a work that contains, in our opinion, all of the relevant information gathered in the last decades, added to by the analysis of the works of Antiquity geographers such as Strabo and Pliny, we can now present the major sailing routes departing from the Iberian Peninsula with courses set for the ports of Rome (Figure 10). 

Figure 10 – Ancient sailing routes.

CONCLUSION

The shipwreck sites selected and described in this paper depict the circulation of Lusitanian fish products throughout the main navigation routes along the Western Mediterranean. As we pointed out, the transportation models are highly diversified, being perfectly adjusted to the major tendencies in trade and to the economic transformations that, throughout the years, took place within the Roman Empire. Between the early part of the 1st century and mid-2nd century AD, Lusitanian amphorae mostly circulated alongside Hispanic food products from Baetica and Tarraconensis, namely olive oil (Dressel 20), wine (Dressel 2-4, Haltern 70 and Dressel 28), fish sauce (Dressel 7-11, Beltrán IIA and IIB, Dressel 14A and 17), as well as ingots of lead or copper. From mid-3rd century AD, it becomes quite frequent for Lusitanian amphorae to be found alongside with North African products, transported in Africana II amphorae, variants B, C and D, used for the transportation of various fish goods (Bonifay 2004). This is further supported by their discovery on the Cabrera III shipwreck where fish remains were still visible (Slim et al. 2007, 40). This reflects the economic changes that, during the Late Antiquity period (Rice 2011, 85), transformed the African provinces into the great suppliers of food products destined for Rome. Shipwrecks, such as Cabrera III, may be considered as the logical outcome of the institutionally established supply chain to the Empire’s capital, based mostly on olive oil. The Lusitanian salted fish preparations were therefore an additional cargo, stored in the vacant space on board of the ships, thus allowing for the establishment of a free trade. Nevertheless, as we demonstrated, a wide set of alternative scenarios may have to be considered, especially regarding the Late Antiquity period. 

Shipwrecks are only some of the pieces of the complex puzzle that is the distribution process of Lusitanian amphorae throughout the Mediterranean. Recreating a global scenario is a difficult task and will necessarily have to include the archaeological data from land contexts of the main maritime cities, coastal enclaves, ports and mooring places. In so far as this research is concerned, it has revealed the presence of Lusitanian amphorae in numerous archaeological contexts throughout the Western Mediterranean (Bombico et al. 2014 and Bombico, in press). 

Download full PDF

Salted Fish Industry in Roman Lusitania: Trade Memories between Oceanus and Mare Nostrum - Sónia Bombico
Categorias
Dieta Atlântica Publicações e estudos

The Atlantic Diet – Origin and features

The Atlantic Diet – Origin and features

Manuela Vaz Velho and Rita Pinheiro and Ana Sofia Rodrigues

Abstract
Despite globalization there still are food patterns which are clearly dierentiated from one region to another in Europe and elsewhere. In this study the Atlantic Diet is considered as the traditional diet in Portugal and Galicia, a region in northwest Spain.
This paper aims to contribute to a better understanding of the Atlantic Diet food pattern in order to fully exploit the potential of this Atlantic gastronomical heritage.
The background of the Atlantic Diet concept, the characterization of Atlantic Diet foods and a compilation of scientic ndings related to the consumption of these foods are covered.
A brief description of the Mediterranean Diet, the primitive pattern and the updated Mediterranean pyramid are also included in order to aid understanding of the globalization of this previously local health food pattern.
Final remarks and suggestions for further studies are made.
Keywords: Atlantic Diet; Food patterns

1 Introduction

The Atlantic Diet concept originated some years ago when the Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC), University of Santiago de Compostela, Spanish Nutrition Foundation (FEN) and Galician Association for the study of the Atlantic Diet (ASGAEDA) joined forces with the objective of placing the Atlantic Diet as a worldwide reference for a healthy diet. As a result of discussions between scientists from the Spanish and Portuguese Atlantic regions, the European Center for the Atlantic Diet (CEDA) was founded in 2003 in Portugal. Subsequently the\Atlantic Diet Foundation” was created in 2007 in Galicia, Spain by the University of Santiago de Compostela.

In 2006 these institutions and organizations committed to the Atlantic Diet signed the \Baione Declaration on the Atlantic Diet” with the aim of developing a strategy for the promotion and maintenance of the Atlantic Diet at dierent levels, and having the following objectives:
. The promotion of the Atlantic Diet as a source of health and pleasure;
. The promotion of research, development and innovation on the Atlantic Diet, with respect to health in the area of sheries, aquaculture, agriculture, livestock, viticulture and natural resources;
. The involvement of the food industry, tourism and catering sectors to develop and apply the main elements of the Atlantic Diet within principal and supplementary foods, through both traditional and innovative cooking preparations and supply for consumption at home and outside it;
. The involvement of the educational sector at various levels to educate consumers about the cultural heritage of the Atlantic Diet;
. Ensure that public and private institutions recognize the values of the Atlantic diet, lifestyle and the accompanying environmental commitments, and are committed to their protection and promotion as a functional diet;
. Assess the potential environmental impact in its broadest sense (urbanization, transportation, environmental pollution, etc.) of maintaining the values of the Atlantic Diet.
For the above purposes, two International congresses, one seminar and three international meetings, specically dedicated to the Atlantic Diet, were organized.
The 1st International Congress on the Atlantic Diet, organized by CEDA, took place in Viana do Castelo, Portugal from 17 to 19 July, 2003.
Two years later a seminar entitled: \Atlantic Diet, Benets for your Health and Well-Being” took place in Santiago de Compostela, Spain from 29 to 30 April, 2004. The 2nd International Congress on the Atlantic Diet, organized by University of Santiago de Compostela, took place in Baiona, Spain, from 16 to 18 November, 2006.
Three international meetings, organized by the Fundacion Española de la Nutricion (2003, 2005 and 2008) were also focused on the Atlantic Diet.
Furthermore, in many other scientic and technical events, not restricted to the Atlantic Diet, the subject of the Atlantic Diet was also incorporated, for example:
The XVII Congresso de Gastronomia do Minho and V Congresso Luso-Galaico, with a Session II \A Dieta Atlântica na Euro região Galiza-Norte de Portugal”, took place in Vila Nova de Cerveira, Portugal, 26-29 April 2007; The 1st International Congress of Gastronomy and Wines Portugal, with a session III \The gastronomy and wines in Europe – Atlantic Diet”, took place in Matosinhos, Portugal, 24-26 November 2011; and the Atlantic Stakeholder Platform Conference, with its Session A4 \Atlantic Tourism – Atlantic Diet: Why include food from the sea in your diet”, took place in Porto, Portugal, 20 January 2015.

2 Atlantic Diet Features 

Since 2000 there have been many attempts to establish the Atlantic Diet features. At the creation of the European Center for Atlantic Diet (CEDA), the Instituto Politecnico de Viana do Castelo ordered a study to compile general features of the Atlantic Diet. In this first study (Leslie, 2000) the author chose countries which were representative of three regions of Europe, with dierent types of climates, geographic environments and lifestyles: Atlantic, Mediterranean and Central European countries. The countries considered were as follows:

. Atlantic region: Portugal, Spain, France, Ireland, United Kingdom, Belgium, Netherlands, Denmark, Norway and Iceland. The results concerning Spain and France have to be taken with caution as they also belong to Mediterranean countries;
. Mediterranean countries: Italy and Greece;
. Central European countries: Germany, Czech Republic, Poland, Austria and  Switzerland.
The precise characterization of the Atlantic Diet was not the objective of this study but rather to provide an overview of the diferent dietary intake patterns found in the European Atlantic countries. This covered eating habits, the main ingredients used and the typical dishes found in
each country (Table 1), as well as a comparison between diets in Central, Mediterranean and the Atlantic regions of Europe which allowed the identification of some general features of the Atlantic Diet.
The strategic plan for the European Center for Atlantic Diet (CEDA) was developed by Sociedade Portuguesa de Inovação, S.A. (SPI, 2001). Based on the 1999 version of the nutrition database of the Food and Agriculture Organization of the United Nations, a few features were compiled that were still valid in 2011 and are therefore presented in this chapter.
The consumption of seafood (including sh) is higher in the Atlantic countries than in the Central European countries. Countries close to the sea consume more sea products than landlocked countries because of the easy availability of fish.

For the two Mediterranean countries, their consumption of fish is more or less the same as in Denmark, Netherlands, Belgium, United Kingdom and France. The northern and southern Atlantic countries differentiate themselves from all the other countries by their very high consumption of fish, although Iceland has a sh consumption significantly higher than other Atlantic countries. The limited agricultural production in Iceland, due to its soil and climate characteristics (Johannesson, 2010) together with the easy availability of fish might justify this high consumption of fish products. After Iceland (annual per capita sh supply of 90 kg), comes the southern and northern countries of the Atlantic: Portugal, Norway, Spain, France and Denmark with 56.8, 53.4, 42.4 and 34.6 kg, respectively (FAOSTAT Food balances, 2011). The data refers to per capita sh supply and not per capita sh consumption as the former includes losses through distribution and food preparation.
It can be observed that the countries in the center of Europe have the largest diference in the consumption of meat and sh; they eat much more meat than fish. Their physical environment is more favorable to the breeding of livestock than to access to fish.
A second observation is that the Atlantic countries in the central region of the Atlantic Corridor (Spain, France, United Kingdom, Belgium, Netherlands and Denmark) have more or less the same meat/sh ratio than the countries representing the Mediterranean countries. The three extremities of Atlantic European countries (Portugal, Norway and Iceland) have a different ratio from the other countries. For Iceland, as mentioned before, sh is more important in the diet than meat. Concerning Portugal and Norway, fish is almost eaten in the same quantity as meat.
There is a large difference in the consumption of potatoes and vegetables between Mediterranean and Atlantic countries. In Atlantic countries, people eat in general more potatoes and fewer vegetables than in Mediterranean countries. This follows the assumption that potatoes are one of the characteristics of an Atlantic Diet. Comparing the Central region of Europe and the Atlantic region, the difference is not so marked.
Nevertheless, it can be noticed that southern Atlantic countries are larger consumers of vegetables than Central regions. There is a gradient`South North’ for the consumption of vegetables: countries that are located in the South region eat more vegetables than in the North. The natural conditions, due to the sunnier climate of the southern Atlantic countries, favor the cultivation of vegetables.
There are no major differences in the consumption of milk among the three regions: Atlantic, Mediterranean and Central region of Europe but Norway can be distinguished by its higher consumption of milk. This fact is not a surprise upon considering the nutritional characteristics of this product and the European Agricultural Policies.
Europe has an excess of milk production and its consumption has been promoted throughout the European Union. Types of milk, other than cow milk, can be more specific to some regions; however the consumption of other types of milk is very low when compared with cow milk.
The European Atlantic region includes Portugal, some regions of Spain, some regions of France, Ireland, United Kingdom, Belgium, Netherlands, Denmark, Norway and Iceland, which is not an EU country. However, geographical location is not enough to determine a common food pattern as diet is influenced by many other factors,  including income, culture, religion and lifestyle. In the last century, the globalization of diets, sometimes for health reasons, sometimes for its convenience, and other factors, such as world wars, resulted in dramatic changes to the consumption of traditional foods in European Atlantic regions. There is evidence of the impact of the First World War on food consumption and nutrition in Britain (Gazeley & Newell, 2013). In Portugal and Galicia, traditional foods, many of which have a Celtic influence (for example, broths with meat and cabbage) are still eaten every week at home and can be found in the majority of restaurants. Whereas the Irish colcannon and the Welsh cawl traditional dishes, with meat and cabbage, are only consumed on festive days or more recently in a few new traditional restaurants. Scientists from Galicia and Portugal, at the time of formation of CEDA in 2003, considered that the Atlantic Diet food pattern is still “alive” in those regions and the Atlantic Diet was defined as the traditional diet of Portugal and Galicia.
A relevant book entitled “La Dieta Atlantica, el pescado y las algas – Su importancia en el neurodesarrollo y la funcion cerebral” parenciteTojo2009 was edited by the University of Santiago de Compostela in 2009. The authors compiled anthropological and historical information about the nutritional characteristics of diets from prehistory to recent days, together with information about food patterns in the Northwest of Spain and in the Spanish Mediterranean border regions, which enabled comparisons to be made. They defended the role of the Atlantic Diet as a health counterpoint to the recent Western Diet.
The type of foods associated with the traditional Atlantic Diet of Galicia identified by Tojo and Leis (2009) are as follows:
High intake of seasonal foods, locally fresh and minimally processed; High intake of vegetables, fruits, potatoes, bread and cereals, chestnut, whole nuts, legumes and honey; Use of olive oil for seasoning and olive oil and pork lard to cook; High consumption of sh, mollusks and crustaceans; Moderate consumption of milk and cheese; Moderate consumption of meat (cow and pork); Moderate consumption of eggs; Moderate consumption of wine usually with meals; Consumption of sauces with a healthy fat prole; Moderate consumption of simple sugars, desserts based on cereals, dried fruits and eggs; High intake of mineral water, with a healthy mineral prole; Cooking methods mainly by boiling, stewing, roasting and grilling. Authors stated these foods will ensure an abundant intake of complex sugars and beer; an abundant intake of PUFAs (LCPUFAs omega-3 with a good ratio of omega6/omega3, oleic acid and linoleic CLA; adequate vitamin and mineral intake; and abundant intake of functional food components (such as antioxidants, sterols,  avonoids, carotenoids, lycopene and indols).
The Atlantic Diet pyramid built by Tojo and Leis (2009) (Figure 1) is placed in all refectories of the University of Santiago de Compostela. The types of food and cooking methods used for everyday student meals at the University of Santiago de Compostela are based on it (Tojo, 2008). No major differences were found in Portuguese and Galician food patterns in 2000 by Leslie (2000) but a feature of the Portuguese diet should be emphasized – the daily intake of vegetable soup with Brassica species and the presence of rice in most of the meals already mentioned in Table 1. It is important to mention that under the designation “Vegetables” of FAOSTAT food balances (2011), tomatoes and onions are discriminated but the remaining vegetables are placed together as an item named “Other vegetables” of which Portugal presents the higher supply of 113.9 kg per capita compared to the other Atlantic countries. However, it can be assumed that Brassica species (cabbage) constitute a significant proportion of this supply as it is the second most consumed vegetable after potatoes in Portugal (Gevers et al., 1998). The consumption of dierent vegetables in 13 European countries for 1998 is shown in Table 2.
It is curious, despite the international reknown of Spanish paella or Italian risotto, that Portugal has a higher rice supply per capita in Europe- 16.3 kg/year whereas Spain and Italy have 9.4 and 5.2 kg/per capita/year respectively.
The European average rice supply is only 4.9 kg per capita/year (FAOSTAT food balances, 2011). In Portugal, rice and potatoes are consumed daily within main meals. The most traditional food dish throughout Portugal is Cozido a Portuguesa, similar to Galician Cozido and containing various meats, boiled potatoes and cabbage, but is also accompanied with rice. Another very traditional dish is Feijoada a Portuguesa, a pork meat stew with beans, which is also accompanied with rice and furthermore, in the north of Portugal this dish also contains cabbage. Finally, the best known Portuguese dish that is present in all Portuguese houses on Christmas Eve, the Bacalhau Cozido com todos, contains boiled dry salted cod with potatoes and cabbage, and fresh garlic and olive oil to season it.

3 Atlantic Diet and Health

The term diet refers to a person’s pattern of eating and drinking. Diet is influenced by many factors, including income, culture, religion, geographic location, and lifestyle.
Most of the so-called western countries have dietary guidelines. One of the most reported is the USA Dietary Guidelines, first published in 1980, and reviewed, updated and released by U.S. Department of Health and Human Services (HHS) and the U.S. Department of Agriculture (USDA) every five years. These Dietary Guidelines contain the latest, science-based nutritional and dietary guidance for the general public. They are the foundation for federal nutrition education and promotion programs, as well as the basis for the federal food assistance programs. The Scientific Report of the 2015 Dietary Guidelines Advisory Committee (Advisory Report) was submitted to the Secretaries of the U.S. Department of Health and Human Services (HHS) and the U.S. Department of Agriculture (USDA) in February 2015 and underwent a Public Consultation Period until May 8 http://www.health.gov/dietaryguidelines/2015-scientic-report/ accessed on 2 April 2015).
A balanced diet contains food from several food groups and supplies the body with the energy and essential nutrients it needs (United States Department of Agriculture (USDA) Center for Nutrition Policy and Promotion (http://fnic.nal.usda.gov/dietary-guidance), accessed on 31 March 2015).
The European Food Safety Authority (EFSA) provides up-to-date and comprehensive scientific advice to support EU policy makers in their decision making process in the field of nutrition for the setting of diet-related public health targets and the development of consumer information and educational programmes on healthy diets.
In March 2010, EFSA’s Panel on Dietetic Products, Nutrition and Allergies established dietary reference values for the intake of carbohydrates, dietary fibre, fats and water http://www.efsa.europa.eu/en/topics/topic/drv.htm accessed on 1 April 2015).
Epidemiological, experimental and clinical trial evidence have demonstrated over the last 50 years a relationship between diet, nutrients and blood lipid levels (Van Horn et al., 2008).
Nowadays, foods consumed worldwide include ice cream, candy, pastries, potato chips or other salted and fatty snacks (Haber, 1997). These fast food and other processed convenience foods, together with more meat and other animal products, fewer fresh fruits and vegetables, are considered to be responsible for burgeoning rates of heart disease, obesity, diabetes, and other chronic diseases.
One of the key concerns of nutritionists is to establish relationships between the type of diet consumed by the population and the existence of non-transmissible chronic diseases. Nutritional interventions that have been applied worldwide are multiple and involve different aspects that contribute to improved food and nutrition patterns worldwide (Rand, Windham, Wyse, & Young, 1987; Araya, 1997). Arising from a meeting of representatives of the Federation of European Nutrition Foundation no identication of bad or good food should be indicated to consumers in a regular balanced diet (La Place, 2004). A daily diet is not only food but also taste and pleasure.
Epidemiological studies point out that about 75% of human cancers are related to extrinsic factors, the most important smoking and diet (Fahey & Talalay, 1995). Prevention of cancer by naturally occurring substances in foods is an area of growing interest to the scientific community.
Several scientific studies have already demonstrated the health benefits of Atlantic Diet food components. In particular, fish consumption and other seafood, vegetables, low alcohol content beverages, and the Atlantic Diet’s preventive value in heart disease, metabolic and some cancers. Vitamin B, omega 3 fatty acids and iodine are three components of the Atlantic Diet which may bring health benefit to consumers residing in the Atlantic area.
The association between fish consumption and risk of cardiovascular disease (CVD) has been extensively studied. Epidemiological and clinical trial evidence suggests that omega-3 polyunsaturated fatty acids (PUFAs) might have a significant role in the prevention of coronary heart disease. Dietary sources of omega-3 PUFA include fish oils rich in eicosapentaenoic acid and docosahexaenoic acid along with plants rich in alpha-linolenic acid. Evidence suggests that increased consumption of n-3 FAs from fish or fish oil supplements, but not of alpha-linolenic acid, reduces the rates of all-cause mortality, cardiac and sudden death, and possibly stroke (Wang et al., 2006).
Randomized clinical trials (RCTs) with fish oils (eicosapentaenoic acid and docosahexaenoic acid) and alpha-linolenic acid have demonstrated reductions in risk that compare favorably with those seen in landmark secondary prevention trials with lipid-lowering drugs. The results of prospective cohort studies indicate that consuming fish or fish oil containing the n-3 fatty acids eicosapentaenoic acid (EPA) and docosahexaenoic acid (DHA) is associated with decreased cardiovascular death, whereas consumption of the vegetable oil-derived n-3 fatty acid a-linolenic acid is not as efective. RCTs in the context of secondary prevention also indicate that the consumption of EPA plus DHA is protective at doses <1 g/d. The therapeutic effect appears to be due to suppression of fatal arrhythmias rather than stabilization of atherosclerotic plaques. At doses >3 g/d, EPA plus DHA can improve cardiovascular disease risk factors, including decreasing plasma triacylglycerol’s, blood pressure, platelet aggregation, and inflammation, while improving vascular reactivity.
Mainly on the basis of the results of RCTs, the American Heart Association recommends that everyone eat oily fish twice per week and that those with coronary heart disease eat 1g/d of EPA plus DHA from oily fish or supplements (Breslow, 2006).
There is little doubt that omega-3 long-chain polyunsaturated fatty acids (n-3 LCPUFAs) in fish are the key nutrients responsible for the benefits and are important for CVD prevention. Although fish is valued as a source of these fatty acids, it also provides other nutrients that may have cardioprotective effects. It is likely that the beneficial effects of fish consumption on the risk of CVD are the synergistic effects among nutrients in fish, and the integrative effects of fish consumption may effects the interactions of nutrients and contaminants in fish (He, 2009). Shell fish species such as shrimps are rich in omega-3s and low in mercury (Smith & Guentzel, 2010).
Regular fish consumption before the age of 1 appears to be associated with a reduced risk of allergic disease and sensitization to food and inhalant allergens during the first 4 years of life (Kull, Bergstrom, Lilja, Pershagen, & Wickman, 2006).
A study using unsaturated fat-enriched diets with virgin olive, sun-flower and sh oil enhances hepatic antioxidant defense system; with the virgin olive and fish oil diet providing the best results (Aguilera, Mesa, Ramirez-Tortosa, Quiles, & Gil, 2003).
A nationwide case-control study in Norway with 545 cases of childhood-onset type 1 diabetes and 1668 population control subjects concluded that the use of cod liver oil during the first year of life is associated with lower risk of childhood-onset type 1 diabetes (Stene, Joner, & Norwegian Childhood Diabet Study G., 2003).
Data compiled on the relationship between diet and incidence of certain diseases concluded that a diet rich in fruit and vegetables is strongly associated with a lower risk of contracting degenerative diseases, including cardiovascular disease, brain dysfunction and cataracts, and proliferative diseases such as neoplasms (cancer) (Negri, La Vecchia, Franceschi, D’ Avanzo, & Parazzini, 1991; Steinmetz & Potter, 1991; Block, Patterson, & Subar, 1992; Verhoeven, Godbohm, van Poppel, Verhagen, & van den Brandt, 1996; Gold, T.H., & Ames, 1997; Ames & Gold, 1998).
The health benefits of onion intake, a major food component of the Atlantic Diet, were reported by several authors (Kumari, Mathew, & Augusti, 1995; Goldman, Kopelberg, Debaene, & Schwartz, 1996; Teyssier et al., 2001; Grifths, Trueman, Crowther, Thomas, & Smith, 2002). The annual consumption of onions in Portugal was estimated at 13.8 kg per capita in 2011 (FAOSTAT food balances, 2011) and it is the third most consumed vegetable after potatoes and Brassica species.
Regional varieties of onion from the Northwest of Portugal were studied. Results indicate that the red variety has higher nutritional value (minerals and protein) and higher potential health benefits related to the presence of antioxidant compounds (Rodrigues et al., 2003).
A broad array of healthy properties have been attributed to Brassica species in recent years such as anticarcinogenic, protective actions against cardiovascular diseases and ageing processes, prenatal pathologies and cataracts. These benefits have been related to their high content in health-promoting phytochemicals namely glucosinolates (and their hydrolysis products, isothiocianates), phenolic compounds (hydroxycinnamic acids and  avonoids), carotenoids, vitamins (ascorbic acid (AA), tocopherol, and folic acid) and minerals (Dominguez-Perles, Mena, Garcia-Viguera, & Moreno, 2014).
The low incidence of coronary heart disease associated with moderate consumption of red wine and other alcoholic drinks have been reported (Renaud & Delorgeril, 1992). In a review study, Bertelli (2007) reported that white wine is given less importance than red wine as it contains lower quantities of polyphenols. However, the same study underlined several other epidemiological surveys showing that wine “colour” was not found to have different e effects with respect to coronary artery diseases, modulation of the release of plasma interleukin-6 and platelet function.
Furthermore, both white and red wine improved the LDL/HDL cholesterol ratio and enhanced the LDL clearance rate from blood. Wine, red or white, is drunk at meals in the Atlantic Diet region.
Based on a case control study (n=820) of patients hospitalized with acute myocardial infarction (AMI), adherence to the Southern European Atlantic Diet (SEAD) was associated with lower odds of nonfatal AMI (Oliveira, Lopes, & Rodriguez-Artalejo, 2010). The authors concluded that some but not all food components of the SEAD may contribute to the very low coronary mortality in northern Portugal and Galicia. As far as we know this was the first epidemiological study examining the association between adherence to the Atlantic Diet and the occurrence of non-fatal acute myocardial infarction in Portugal. A cross-sectional study from the same authors and Spanish authors (Guallar-Castillon, Oliveira, Lopes, Lopez-Garcia, & Rodriguez-Artalejo, 2013) was conducted in 2008-2010 among 10,231 individuals representative of the population aged 18 years and older in Spain. Diet was assessed with a validated computerized diet history. SEAD adherence was measured with an index including 9 food components (fresh fish, cod, red meat and pork products, dairy products, legumes and vegetables, vegetable soup, potatoes, whole-grain bread, and wine), which ranged from 0 (lowest adherence) to 9 (highest adherence). This study identified possible mediators of the effect of SEAD on myocardial infarction, because SEAD was found to be associated with a lower concentration of markers of in ammation and with reduced triglycerides, insulin, insulin resistance and systolic blood pressure. Several other studies have pointed out the benefits of food components typical of the Atlantic Diet but not grouped as a meal nor aggregated under the concept of an Atlantic Diet Food pattern.
There is a continuous move from dietary traditions which are local, low in technological input and based on empiricism to diets that are global, high in technological input and science based.
Over the last century societies have the ability to improve their diet based on a better scientific understanding of the health benefits of such diets but innovations are often not achieved due to commercial considerations. This will require that all sectors of the food industry to work towards healthy and economically affordable diets.
In addition, there is a continuing demand by consumers to ascertain that traditional foods are not only healthy but also convenient and easy to prepare (Heinrich & Prieto, 2008).
On current evidence the concept of the `Atlantic Diet’ appears to be as well founded as the concept of the `Mediterranean Diet’, but the major challenge is to dene whether there is a traditional Atlantic Diet as healthy as the Mediterranean Diet when consumed as part of a healthy lifestyle (Lindsay, 2003). This will require urgent action given the rapid changes that are occurring in European dietary habits (Lindsay, 2003). There is a continuous move from dietary traditions which are local, low in technological input and based on empiricism to diets that are global, high in technological input and science based.
Over the last century societies have the ability to improve their diet based on a better scientific understanding of the health benefits of such diets but innovations are often not achieved due to commercial considerations. This will require that all sectors of the food industry to work towards healthy and economically affordable diets.
In addition, there is a continuing demand by consumers to ascertain that traditional foods are not only healthy but also convenient and easy to prepare (Heinrich & Prieto, 2008).
On current evidence the concept of the `Atlantic Diet’ appears to be as well founded as the concept of the `Mediterranean Diet’, but the major challenge is to define whether there is a traditional Atlantic Diet as healthy as the Mediterranean Diet when consumed as part of a healthy lifestyle (Lindsay, 2003). This will require urgent action given the rapid changes that are occurring in European dietary habits (Lindsay, 2003).

5 Concluding remarks and further suggestions

The objective of this paper was not to compare the Atlantic Diet with the Mediterranean Diet. More than 50 years of studies separate both concepts. As mentioned previously a wide variety of fish and shell fish is now placed in the updated Mediterranean Diet Pyramid with advice to eat fish and shell fish at least twice a week. There are no doubts that the residents of the Atlantic Diet region have traditionally a higher intake of fish and shell fish than the Mediterranean countries.
Enjoy meals with others, recently placed in the base of the Mediterranean Diet Pyramid, is a common practice in Portugal and Galicia, where mealtimes are regarded as leisurely affairs to share with family and friends.
Diversity is also a key word. It is not only the type of food but also the frequency of their intake which makes a food component healthy or unhealthy.
As mentioned before, no identification of bad or good food should be indicated to consumers in a regular balanced diet. A daily diet is not only food but also taste and pleasure. A combined balance of those elements, food and taste, is characteristic of the Atlantic Diet. Also, it is well known that food components interact, thus it is important to analyze a whole meal rather than the separate food components.
The Atlantic Diet is considered strategic by the Food-cluster Portugal Foods which has as major objectives: the surveillance and characterization of Atlantic Diet by identification, systematization and validation of products and recipes under the concept – Atlantic Diet – a Portuguese way of being”. The continuing move from dietary traditions traditions which are local to diets that are global, as the Mediterranean Diet now is, requires high technological input and a science base, therefore companies and public and private R & D institutions must join together in efforts to validate and make global another regional healthy diet the Southern European Atlantic Diet or Atlantic Diet.
The previously reported epidemiological studies, showing higher adherence to the Atlantic Diet (Southern European Atlantic Diet) and its inverse association with the occurrence of non-fatal AMI and its association with a lower concentration of coronary disease markers, are a beginning for consolidation of the healthfulness of the Atlantic Diet pattern but more epidemiological and experimental nutrition research is needed to corroborate these findings.

The Atlantic Diet – Origin and features
Manuela Vaz Velho a*, Rita Pinheiro a*, and Ana Sofia Rodrigues b*
a* Escola Superior de Tecnologia e Gestão, Instituto Politecnico de Viana do Castelo, Av. Atlântico, 4900-348 Viana do Castelo, Portugal
b* Escola Superior Agrária, Instituto Politecnico de Viana do Castelo, Refoios, 4990-706 Ponte de Lima, Portugal
*Corresponding author mvazvelho@estg.ipvc.pt
Tel: +351-258819700  Fax: +351-258827636  Received: 6 April 2015;  Published online: 18 April 2016

Categorias
Garum Publicações e estudos

In Search of Garum

In Search of Garum

The “Colatura d’alici” from the Amalfitan Coast

Atti del 4o Convegno Nazionale di Etnoarcheologia, Roma, 17-19 maggio 2006
Proceedings of the 4th Italian Congress of Ethnoarchaeology, Rome, 17-19 May, 2006
Edited by
Francesca Lugli
Alessandra Assunta Stoppiello
Stefano Biagetti
BAR International Series 2235
2011

Published by Archaeopress
Publishers of British Archaeological Reports
Gordon House 276 Banbury Road Oxford OX2 7ED England
bar@archaeopress.com
www.archaeopress.com

In Search of Garum. The “Colatura d’alici” from the Amalfitan Coast

(Campania, Italy): an Heir of the Ancient Mediterranean Fermented Fish Sauces.
Alfredo Carannante, Claudio Giardino, Umberto Savarese

Em Cetara, uma pequena aldeia da Campânia, na costa Amalfitana (Fig. 1), a tradição alimentar de produção de um molho obtido a partir da fermentação de anchovas em conserva (Engraulis encrasicolus) ainda sobrevive. Os molhos de peixe fermentado tiveram uma grande importância na gastronomia e na economia dos antigos povos mediterrânicos.

O objetivo deste trabalho é avaliar se o molho moderno da Campânia pode ser comparado aos produtos antigos e se é derivado dos mesmos. Para este fim, foram analisadas as características comuns dos vários molhos de peixe e as técnicas antigas e modernas de produção foram descritas e comparadas;

No final, reconta-se de forma suncinta a história dos molhos antigos. Foram recolhidas informações sobre molhos de peixe, particulatmente na Campânia, nos locais onde esta tradição antiga é ainda presente.

Fig. 1. Map of the mentioned sites.

O garum e os molhos de peixe fermentado

A designação genérica GARUM é normalmente utilizada para definir uma série de produtos de composição e consistências diversas, como molhos e pastas obtidas através da fermentação em salmoura, através das enzimas, de parte de peixes ou da sua totalidade.

Altamente proteico, o GARUM, aumenta a intensidade do sabor e era muito apreciado no passado. O GARUM podia ser feito apartir de diversos tipos de peixe, anchovas, cavala, atum, moreias e outros tipos de pescado, que determinavam a sua qualidade e o seu preço.

Apicius, o famoso gastrônomo romano, tem as suas receitas, compiladas no livro De Re Coquinaria, temperadas com garum, ao qual ele apelida de liquamen.

O facto do garum ter sido tão apreciado nos tempos antigos deveu-se provavelmente à alta concentração de glutamato monossódico, o sal sódico do ácido glutâmico, um dos aminoácidos não essenciais mais abundantes que ocorrem na natureza, que é encontrado naturalmente em alimentos como tomate e cogumelos.

O glutamato monossódico é utilizado em alimentos com o objetivo de proporcionar o gosto umami, também denominado de quinto gosto básico. (salgado, doce, ácido, amargo, umami)

O glutamato monossódico melhora o sabor dos vegetais e alimentos de origem animal que o contenham em diferentes concentrações. Alguns alimentos onde esse efeito é particularmente melhorado são, por exemplo, queijo, salame, cogumelos e tomates secos.

A comparação com os principais potenciadores de sabor modernos, mostra como é a concentração de glutamato monossódico, particularmente rico em molhos produzidos pela fermentação em salmoura de organismos marinhos, como pasta de anchova, amplamente usado nos países do Mediterrâneo, molho de ostras, muito apreciado na gastronomia chinesa, e diferentes molhos, geralmente preparados a partir de anchovas, sardinhas etc., usados na culinária asiática do sudeste (Nuocnam no Vietnã, Nam-plam na Tailândia)

mg/100g
Anchovy paste 630
Stock cube 498
Oyster sauce 900
Soja sauce 782
Nam plam (fish sauce) 950
Free glutamate in seasonings

Além do glutamato monossódico, o garum continha peptídeos semelhantes aos neuropeptídeos, ácidos graxos polinsaturados (complexo ômega-3), um protetor anti oxidante de membranas celulares) e vitaminas A e E.

Garum é frequentemente imaginado como um molho produzido por meio de putrefação do peixe, portanto inaceitável para um palato moderno.

Para compreender a importância e o sucesso das conservas de peixe nas dietas antigas e modernas e para dissipar preconceitos sobre o seu gosto, devemos mencionar os complexos processos bioquímicos e enzimáticos que os produzem.

Após a morte, o peixe, como todos os outros animais, passa por uma série processos de decadência cujo primeiro passo é a autólise: a degeneração das células e órgãos através de substâncias químicas, processos desencadeados por enzimas intracelulares. A velocidade do processo autolítico aumenta com o aumento da temperatura ambiente, mas podem ser interrompidos se as texturas forem rapidamente congeladas ou desidratadas.

Em consequência da degeneração autolítica dos órgãos do trato gastrointestinal, a flora bacteriana espalha-se pelo resto do cadáver, iniciando um processo chamado putrefação, a segunda fase da decomposição.

A atividade bacteriana produz inicialmente gases como dióxido de enxofre, dióxido de carbono, amônia, metano etc .e continua com a destruição das proteínas musculares e a produção de complexos tóxicos de aminas, como a cadaverina e putrescina.

A verdadeira salga, aquela usada para produzir peixe salgado e carne, produz uma desidratação dos tecidos que bloqueiam a autólise, mas precisa de uma grande quantidade de cloreto de sódio (NaCl). Um ambiente com menos, ainda que alto teor de salinidade – como picles a 10-20% de NaCl – não impede o avanço dos processos autolíticos, mas é o suficiente para impedir o início da putrefação parando o desenvolvimento bacteriano.

Depois de um tempo, o resultado da decomposição em salmoura produz a formação de um liquido perfeitamente comestível, muitas vezes de cor âmbar, muito salgado e cheio de proteínas, iodo e flúor, istadina e vitaminas A e D (lat. garum, liquamen). Obtem-se uma substância pastosa muito salgada (lat. allec) com excelente valor nutricional.

A “colatura d’alici” de Cetara: métodos de produção

Hoje, na vila de Cetara, na costa de Amalfitan, é produzido um molho de peixe que apresenta fortes semelhanças com o  antigo garum: a “colatura d’alici”, cujo nome significa “filtragem de anchovas”.

A colatura é um líquido de cor âmbar obtido de o processo de maceração das anchovas em sal, seguindo um procedimento antigo transmitido de pai para filho pelos pescadores da vila.

O produto primário inicial são as anchovas (Engraulis encrasicolus) pescada com a chamado técnica “cianciòlo” no Golfo de Salerno na primavera, do final de março ao início de julho.

As anchovas, recém-pescadas, são decapitadas e evisceradas (“Scapezzate”) à mão; são então colocadas num recipiente e revestidas (“inzuscate”) com muito sal marinho. Depois de ser mantido de 12 a 24 horas nesta salga chamada “Increscatura” , com o objetivo de remover o sangue.

As anchovas são depois recolhido e colocado num recipiente, dispostas de acordo com a técnica “rabo e cabeça”, em camadas alternadas de sal e peixe. Uma vez terminadas as camadas, o recipiente é coberto com um disco de madeira (o chamado “tompagno”), no qual são colocados pesos, geralmente rochas do mar. Nas primeiras 48 horas, é exercida uma pressão mais forte, aliviando-se depois o peso diminuindo o número e a dimensão das rochas.

Devido à prensagem, o líquido, começa a chegar à superfície, à medida que o “amadurecimento” das anchovas continua. Neste processo tradicional o líquido é eliminado, considerando que este processo é a base da produção da colatura.

O líquido é depois filtrado usando panos de linho especiais, os chamados “cappucci” ou “lambicchi” . O resultado é um destilado límpido de cor âmbar, que pode ser filtrado por várias vezes. No total, o processo dura 2-3 meses. Em algumas famílias, o resultado da filtragem é tradicionalmente mantida em garrafas contendo orégãos.

Segundo alguns estudiosos das tradições locais, a maceração ocorreu originalmente numa espécie de recipiente chamado “terzigno”, obtido reutilizando o terço de um barril.

Além do que está no terzigni, outro tipo de maceração ocorre num vaso de vidrado, que foi e ainda é amplamente utilizado na produção doméstica em pequena escala. Neste caso, o processo segue as mesmas fases, mas a quantidade produzida é bem mais pequena.

Presentemente, embora a produção doméstica em vasos ainda exista, os “terzigni” são geralmente substituídos por recipientes de plástico para alimentos, de acordo com os regulamentos da CE.

Fig. 2. The liquid raw sauce starts coming up to the surface.

Fig. 4. The filtered product is an amber-coloured limpid liquid quite different from the raw soaked sauce.

Fig. 3. The filtering of the “colatura” trough the “lambicco”.

A origem do garum: a era pré-romana

Originalmente realizado com espécies e partes de peixe não bem identificadas, cujo nome grego era garos (de onde veio o nome do molho garon, em grego) , o garum romano foi produzido a partir de diferentes espécies de peixes. Isidore afirma: “Ex infinito genere pisciorum”.

Os géneros mais apreciados foram obtidos de anchova, sardinha etc: o melhor garum, nigrum foi produzido a partir de cavala (Scomber scombrus),  muria foi produzido a partir de atum (Thunnus thynnus), mas também anchovas (Engraulis encrasicolus) que estavam na base de um valioso tipo de garum.

De acordo com alguns autores, o garos grego é identificável com anchovas. Plínio afirma que o garum mais antigo era produzido a partir de um “peixinho pequeno e insignificante” que os gregos chamavam de “aphye” (afiado), que corresponde ao biqueirão.

No entanto, muitas outras espécies, entre as quais moreias, enguias, tainhas, eram usadas para produzir garum, às vezes realizado através da fermentação de diferentes espécies juntas.

Outras vezes, o garum era produzido apenas com entranhas de peixe, como as do atum, misturando algumas entranhas com sangue e a fáscia abdominal gorda, o chamado “Buzzonaglia”. A origem deste garum baseava-se na reciclagem de rejeitos de peixe, como entranhas, partes de sangue e gordura, e peixes menores inteiros, mais difíceis de conservar.

O aparecimento da salmoura de peixe no Mediterrâneo Oriental, anterior à sua propagação no mundo romano, está, portanto, relacionado com a necessidade de manter grandes quantidades de peixes perecíveis para abastecimento durante longas viagens ou para exportação.

Os gregos tinham duas maneiras de preservar os peixes: os tarichos (lat. salsamentum): a desidratação de peixes sem cabeça, eviscerados, peixes desfeitos, por meio de salga e / ou a secagem ao sol ,e o garon (lat. garum): fermentação de peixes em salmoura que, comparados com a salga, permitiam uma menor utilização de sal.

As fábricas mais antigas de garon localizavam-se em Corinto e na ilha de Delos, na Grécia, embora este molho se espalhe mais tarde sobretudo em Cartago e em Roma.

É ainda mais difícil datar a introdução das técnicas de salga de peixe no Mare Nostrum, devido à falta de vestígios arqueológicos no Mediterrâneo Oriental.

O garum pode ter sido introduzido pelos fenícios já nos séculos IX-VIII a.C., talvez importados diretamente do Oriente, ou a partir dos gregos, que poderiam conhecê-lo desde o século VII a.C. , durante suas viagens de abastecimento ao longo da costa do Mar Negro, região muito rica em peixe.

No mundo grego, a mais antiga evidência arqueológica remonta a meados do século V a.C. Pesquisas realizadas na cidade de Corinto encontraram o que deveria ter sido o armazém de produtos alimentares de um comerciante abastado, mais tarde reconvertido para armazenamento de vinho e peixe, apelidado pelos arqueólogos de  “Casa das ânforas púnicas” por causa da grande presença de ânforas fenícias aí encontradas.

Foram encontrados pedaços de peixe, sobretudo pargos (Pagrus pagrus) e atum – cortados em pedaços de cerca de 6 x 4,5 cm, misturado com fragmentos de ânforas; não foi possível, no entanto, determinar se o peixe foi colocado em salmoura ou salgados e se o processo tivesse sido ali realizado.

Foram descobertas em Cádiz, a antiga Gades, fábricas púnicas para o fabrico de peixe referentes ao mesmo período. O fabrico de peixe floresceu na cidade espanhola entre 430 e 325 a.C., para desaparecer após 200 a.C. Esse declínio deveu-se provavelmente às consequências que a segunda guerra púnica tiveram na economia cartaginense.

A presença de centros cujos nomes estiveram ligados à indústria do peixe são significativos: Cetaria, hoje Getares, e Tarichea, hoje Tarifa).

Fig. 5. The “terzigno”: the traditional container for the“colatura” production. A stone is put on the top to press the soaking anchovies.

Fig. 6. The typical varnish pot used for domestic production of the “colatura”

Fig. 7. Small quantities of “colatura” are produced in clay
vessels.

O garum no mundo romano

O mundo romano foi com certeza influenciado pelos dois polos produtivos, gregos e púnicos, e aprendeu tanto as suas técnicas de fabricação como a tipologia de estruturas onde o fabrico ocorria. A procura deste tempero, que se tornou muito apreciado, aumentou entre os Romanos e isso favoreceu o nascimento da produção em escala industrial em diversas áreas do Mediterrâneo, Mar Negro e ao longo das costas ibéricas no Oceano Atlântico e no norte da África.

Esses centros foram estritamente associados às áreas de captura de atum e com a necessidade de preservar uma enorme quantidade de peixe; não é por acaso que, na área do Estreito de Gibraltar, muitos centros, que certamente exploraram a migração do atum, o representavam nas suas moedas.

As estruturas produtivas

O fabrico acontecia geralmente  no próprio local de pesca, em tanques especiais de fermentação revestidos com opus signinum (chamado taricheai em grego ou cetariae em latim).

Eram geralmente quadrados ou retangulares, com bordas arredondadas, o que garantia uma estrutura mais forte e fazia com que circulação da água e limpeza fosse mais fácil; variaram em tamanho de acordo com o uso: os maiores foram utilizados para a salga de peixe, e os menores para produzir garum.

De acordo com a morfologia da costa, os tanque eram construídos na praia, em opus caementicium coberto de louça de barro ou nas colinas em frente à costa, escavadas na rocha; também poderiam ser construídos na cidade, em edifícios especiais destinados a esse tipo de produção.

NOTA: podemos visitar as diferentes tipologias de locais de fabrico em Setúbal, na cidade, na praia do Creiro e em Tróia.

Em regra geral, estas estruturas produziam peixe salgado, garum e allec: de facto, os últimos constituíam produtos secundários da indústria de salga.

Até há algum tempo atrás, antes do relançamento turístico do “Colatura”, o que também aconteceu em Cetara, o interesse primário da indústria era a produção de anchovas, para serem comercializadas no exterior. Já a filtragem foi um subproduto da salga e o seu uso era estritamente local.

Além das fábricas para a fabrico de peixe em salga, existiam tanques para a criação de peixes, que davam uma constante reserva de pescado durante todo o ano, mesmo quando o clima era adverso e se tornava perigoso pescar por barco.

Os tanques de peixes marítimos floresceram desde o final do período republicano (meados do século I a.C.) e desenvolvidos imensamente durante o Império (até o século II d.C.).

Inicialmente espalhado na Campânia e depois em Lácio e na Etrúria, provavelmente funcionaram até o século IV d.C., quando o ataques dos bárbaros tornaram as costas inseguras forçando a abandonar ou a fortalecer as estrutura produtivas na costa.

Técnicas de produção do garum

O fabrico do garum durava dois ou três meses sob o calor do sol, mas podia ser acelerado através de fornos artificiais.

O sal marinho era essencial para o funcionamento das fábricas de produção de garum e era necessária a mesma quantidade de sal e de peixe. Por esse motivo, as fábricas eram geralmente construído perto de salinas.

No século I d.C. , em Columella, (Lúcio Júnio Moderato – escritor romano, reconhecido pelos seus tratados sobre agronomia) no livro De Re Rustica, após descrever a técnica de conservação de carne de porco através do sal, afirma que era semelhante à utilizada para peixe:

“… A carne é então cortada em pedaços de uma libra cada; depois é necessário um pote ou um barril, e é colocada uma camada de sal, espalhada no fundo: os pedaços de carne são depois postos de modo a ficarem muito próximos uns aos outros e é colocado sal em cima de cada camada. Quando se atinge o topo do recipiente, a última parte é totalmente preenchida com sal e o mesmo é tapado e coberto com pesos. Pode-se utilizar esta carne em qualquer altura; é mantida em picles como tal peixe com sal ”.

Neste texto, Columella utiliza a palavra “seria“, que pode ser traduzida como “vaso” ou “barril”; o significado “barril” tem analogia com o uso do “terzigni” na produção da “Colatura“.

Qualidade e variedade do garum no mundo romano

No século I d.C, o garum sociorum, produzido em Espanha a partir da maceração de cavala, era considerado o melhor garum. O seu custo era comparável apenas ao dos melhores perfumes (com mil sestércios, compram-se dois congi, o equivalente a cerca de seis litros)

Marcus Valerius Martialis (Século I d.C.) elogia o luxo do garum produzido desde que o primeiro sangue jorrou da cavala recém cortada, considerado um particularmente luxuoso e apreciado presente.

Uma passagem no livro Satyricon, de Petrónio, escritor romano, mestre na prosa da literatura latina, satirista notável, no capítulo “O Banquete de Trimálquio”, descreve a apresentação de um dos cursos mais célebres no jantar de Trimálquio, uma das personagens do livro, conhecido pela pompa e ostentação dos seus banquetes, nos quais serve pratos exóticos e extravagantes.

Trimálquio disse: “Vamos comer! Este é o melhor dos banquetes”. Quatro escravos […] tiraram a tampa da bandeja colocada na mesa […]. Nos cantos da bandeja, quatro estátuas de Marsias estavam a derramar garum piperatum de pequenas bolsas de couro. ”

Esta passagem mostra como o garum não era apenas um tempero sempre presente na gastronomia da época (e obviamente líquido), mas que era também um símbolo de status exibido durante os banquetes mais luxuosos.

O Edictum de pretiis, (Édito máximo) de Diocleciano (301 d.C.), foi um decreto promulgado a fim de combater o aumento da inflação no Império, estabeleceu um tecto máximo para os custos do garum e separou o liquamen primum, cujo preço chegava a atingir dezesseis denários por sextário (cerca de 3072 sestércios por ânfora), do liquamen secundário, de segunda opção, que não poderia exceder doze denários.

A qualidade do garum derivada não apenas das espécies de pescado e das partes utilizadas, mas também do processo de filtragem.

No final da maceração, o garum era filtrado através de cestas e era obtidas diferentes qualidades:

O flos gari límpido (“flor” do garum) obtido a partir do primeiro líquido filtrado e liquamen gari, líquido menos valioso, por vezes com elementos sólidos, obtido a partir da filtragem dos depósitos mais rudes.

Linquamen, mesmo que originalmente diferente do garum, foi usado genericamente para definir o molho de peixe desde o século III d.C.

Além destas duas qualidades, ainda outra deve ser adicionada: a “flos flos gari”, “nata”, cuja origem e espécies usadas, geralmente cavala ou atum, sempre foram especificados.

A pasta recolhida nos filtros, geralmente contendo espinhas e restos de peixe, foi chamada allec (com as variações de hallec, hallex, allex), palavra que originalmente significava “putrefação” ou “resíduos” e representava o pior produto, frequentemente dado a os escravos.

O allec, no entanto, também poderia derivar da produção das melhores qualidades de garum; Neste caso, o produto resultante da filtragem após a maceração das entranhas, sangue ou pedaços de cavala ou atum, foi considerado valioso e servido temperado com sal e pimenta, vinho e cenoura, para estimular o apetite antes das refeições.

Existiam variações luxuosas de allec, produzidas a partir de ostras, ovas de ouriço-do-mar, anêmonas-do-mar e fígado de tainha.

O melhor garum era obtido sem adicionar outros ingredientes, mas havia várias variedades obtidas com a adição de vinagre (oxygarum), óleo (oleogarum), vinho (oenogarum), água (hydrogarum) e mel (melligarum / mellogarum).

No seu famoso tratado sobre cozinha, Apício, fornece uma receita de oenogarum para temperar tubérculos, composto por especiarias, liquamen, mel, um pouco de óleo, e outra receita de oxygarum usada como molho digestivo, composto por uma mistura de especiarias amassadas com mel e diluída com liquamen e vinagre.

Foram frequentemente adicionadas especiarias aromáticas (potherbs) ao peixe e ao sal.

O Garum e liquamen foram produzidos de forma caseira e industrial.

A produção em massa em tanques, pelo menos na era imperial, é certificado paralelamente ao potes. Gargilius Martialis (Século III dC) no De Medicina et de Virtutae Herbarum fornece uma descrição:

“Deve-se usar peixes, como salmão, enguias, sardinhas e anchovas; A estes peixes deve -se adicionar sal e potherbs como endro, hortelã, coentro, levístico, e tomilho selvagem. Devem-se dispor as ervas numa primeira camada no fundo de uma panela. A seguir coloca-se uma camada de peixe inteiro, se for pequeno, caso contrário, se for peixe maior, cortado em pedaços. Cobre-se com uma camada de sal de aproximadamente dois dedos e a repetição destas três camadas deve ser feira até que o pote esteja cheio.

O pote deve ser fechado e assim ficar por sete dias. Depois é necessário mexer tudo e descansar outros vinte dias. Em seguida, deve ser coado o líquido,  filtrando-o cuidadosamente usando um pano. ”

Esta receita corresponde perfeitamente à utilizada ainda hoje para a produção da

Colatura” num  vertente familiar em Cetara, onde são utilizados vasos cilíndricos especiais para esse objetivo. Ollae cilíndricas de cerâmica comum, uma espécie de potes, muito semelhantes às modernas usados em Cetara, foram encontrados ligadas à produção de garum no oeste Mediterrâneo . Muitos desses recipientes vêm de Cotta (Marrocos); o diâmetro varia entre 22 e 24cm e são datados entre os séculos I B.C. e III A.D.

O seu uso está correlacionado com a produção do garum, talvez para facilitar a concentração do molho através do calor; de facto, os sistemas de transformação através do calor foram descoberto em Cotta.

O “Colatura d’alici”: um valioso garum

A partir das informações apresentadas até agora, é evidente como os processos na base da produção deste molho são semelhantes aos usados ​​hoje para a “Colatura di alici” em Cetara, Itália.

A matéria-prima – as anchovas – é semelhante; segundo Plínio as anchovas estão desde o início presentes na produção de garum; os métodos de produção através da fermentação do peixe em conserva; os recipientes utilizados na produção em escala familiar são semelhantes, assim como alguns dos produtos obtidos.

O garum piperatum que jorra das estauetas Marsii  com “garrafas de couro” na bandeja de Trimálquio é o melhor testemunho escrito de que a melhor qualidade do garum era perfeitamente líquida, como a “Colatura”.

Outro paralelismo importante entre o molho antigo e o produto moderno da região da Campânia pode ser encontrado em Plínio, que diz que o garum mais valioso é

“Aquele que assume a cor do vinho envelhecido ou do mel”: esta é a descrição perfeita da cor âmbar da “Colatura”. Portanto, o “Colatura di alici” de Cetara pode ser definido como um garum muito refinado e em particularmente como um “flos gari”.

No entanto, molhos muito semelhantes aos antigos garum podem ser encontrados no Extremo Oriente, mesmo que não haja  conexão histórica com o antigo molho mediterrânico e que induz a verificar se o produto Cetara continua uma tradição romana ou é uma invenção moderna.

Portanto, será possível reconhecer uma filiação direta entre o “Colatura” e o garum?

Para responder a esta pergunta é necessário examinar a história do garum na Campânia e verificar a continuidade da produção na região.

O garum em Pompéia

Diversas fontes confirmam a existência, nos tempos antigos, de um flos gari feito de anchovas e Plínio sustenta que a origem do próprio garum deve ser pesquisada na conservação desse peixe muito pequeno; é notável que tal é certificado arqueologicamente na própria região de Campania.  Foram encontrados na casa de Marcus Fabius Rufus em Pompéia, no fundo de uma pequena olla, milhares de pequenas espinhas de peixe.

Todos os restos são atribuíveis a Engraulis encrasicolus e a presença de vértebras e de apenas alguns elementos postopercoular, atestam o uso em Pompéia de um garum obtido apartir da imersão de anchovas.

Plínio afirma que Carthagena, Clazomenae, Leptis Magna e Pompéia eram centros de produção de garum tão famoso como Baetica e Mauritânia. Pompéia era, certamente, um dos principais pólos da produção de garum no Mediterrâneo.

Os principais centros de produção do garum na Campânia ainda não foram encontrados, mas certamente estavam na costa. Um dos lugares mais importantes para a venda deste produto, foi localizado em meio urbano, no perímetro de Pompéia, a chamada “loja Garum”.

Descoberta entre o final de 1960 e o início de 1961, está situada no lado oeste do anfiteatro e tem uma pequena entrada perto da Via dell’Abbondanza. Dentro o peristilo (a galeria de colunas que rodeia um edifício ou parte dele) foram encontrados seis dolii que estavam destinados à conservação do garum e continha espinhas de peixe.

No jardim foram encontradas inúmeras ânforas viradas ao contrário, provavelmente destinados ao transporte entrega de garum.

Nas ânforas foram encontrados restos semelhantes aos contidos nos dolii, e no fundo de uma delas havia um funil para transferir o garum. Algumas tinham as iniciais VR (vinum rubrum – vinho tinto) pintadas, para indicar o seu conteúdo inicial.

Como confirmação do papel predominante que Aulus Umbricius Scaurus teve no comércio de garum, calcula-se que cerca de 29% das ânforas e urceis encontrados em Herculano, Pompéia e Boscoreale tiveram seu nome inscrito. Uma magnífica casa encontrada em Pompéia (VII, 15 Ins. Occ., 12-15) que pertenceu a Alvo Umbricius Scaurus, o rico comerciante decorava o átrio com mosaicos representando, nos quatro cantos, os urceis, bilhas de barro típicas do garum, para mostrar que sua riqueza vinha do comércio deste precioso condimento.

figura9colatura

Fig. 9. Plan of the “Garum shop” in Pompeii (from CURTIS 1979, modified).

Fig. 8. Ancient and modern: a Roman clay olla from Cotta (Morocco) used for garum (in the box: from Ponsich, Tarradell 1965), compared to the typical modern clay vessel used in Cetara.

O garum no final da antiguidade clássica e na Idade Média

Nos primeiros séculos da nossa era, a produção e o comércio de garum foram elementos muito importantes para a economia; após o Império Romano cair o cenário econômico no Mediterrâneo mudou. A menor procura, já não globalizada, tornou a indústria de produção em tanques de garum menos rentáveis. Essa situação causou a deterioração em todos os locais das grandes fábricas equipadas com cetárias.

No entanto, a produção em pequena escala continuou em locais diferentes, como pode ser visto em todas as realidades culturais herdeiras dos costumes romanos.

Temos ainda de levar em conta que o garum não era apenas empregado na culinária, mas foi usado para tratar diferentes patologias devido à sua alta concentração de cloreto de sódio e na presença de enzimas proteolíticas que produziam qualidades desinfetantes s comparáveis ​​a um anti inflamatório. Plínio dá uma grande relevância ao uso médico do garum, e sugere a sua utilização como remédio para vários tipos de inflamações.

Aconselha a utilização a pasta de allec para tratar doenças de pele e mordidas de cães, e a usar garum líquido em queimaduras recentes ou para enxaguar a cavidade oral inflamada, ou para curar inflamações intestinais. Também sugere medicamentos à base de garum: como vinagre para curar picadas de insetos, com óleo de linhaça e vinagre para curar picadas de escorpião, e com água morna com mel e hissopo para colocar em olhos inflamados.

Também Columella, em De Re Rustica, menciona o liquamen, administrado através das narinas, como um remédio eficaz contra Pestifera Lebes, doença que leva os cavalos à morte em poucos dias.

Como medicamento ou ainda como integrador de alimentos, pode ser encontrado no sul do Mediterrâneo na Idade Média. O Médico andaluz Ibn-Razīn, no século X, recomenda-o contra varíola.

Na cozinha islâmica medieval, embora presente em muitas receitas de Apicius e na cozinhadesde os tempos romanos, o garum era substituído por um novo produto amplamente mencionado pelos gastrônomos iraquianos desde o início do século IX: o murri.

O murri era muito diferente do garum: consistia num pó de peixe seco ao sol e salgado, diluído em vinho doce com orégão e colocado em fermentação numa ânfora oleada com marmelo e pedaços de cebola. Também existia um tipo de murri produzido a partir de cereais tostados, com um processamento mais rápido.

O uso de garum, como se fazia à moda antiga, sobreviveu no mundo bizantino, que se manteve com fortes ligações com a tradição helênica-romana. As fábricas estavam na Grécia, em Bizâncio e na costa leste de a região do Adriático (Ístria), como sabemos, graças a uma carta escrita por Cassiodoro no século VI.

Em Bizâncio, no século XX, o Geoponica, foi elaborada uma importante coleção de livros sobre agricultura, promovida por Constantino VII Porphyrogennetos (913-959 A.D.)

Neste trabalho é dada uma receita para a produção de garum, “em panela”:

  • Coloque num recipiente as entranhas de peixe e peixe pequeno com sal e deixe-os ao sol misturando-os com frequência.
  • Quando o picles tiver sido obtido, filtre tudo numa cesta, onde permanece a parte sólida, o allec.
  • Quem quiser usar esse garum de imediato, sem o deixar ao sol, pode-o ferver, filtrando cuidadosamente dois ou três vezes, até que o filtro esteja limpo.

O melhor granum é chamado de “haimation” e é feito com entranhas, brânquias, soro e sangue de atum.

A mistura é deixada a fermentar num recipiente, com sal ,por cerca de dois meses. Então a e recipiente é aberto e o garum é estabilizado. ”

Uma prova significativa sobre o uso tardio de garum vem da corte imperial bizantina: o bispo Liutprand Cremona, que serviu Otto I da Saxônia, fundador do Sacro Império Alemão, foi enviado a Constantinopla em 968, sob o reinado de Nikephoros II Phokas (963-969).

O embaixador, descreveu no seu relatório, depreciativamente o mundo bizantino em contraste com o mundo ocidental.  Também criticou os hábitos alimentares daquele local.

Definiu “vergonhoso e indecente” um jantar oferecido pelo Imperador durante o qual a comida foi “embebida em óleo e, ainda mais, mergulhado em um certo líquido de peixe da pior qualidade ”. Outro jantar é definido como “odioso” porque “Cheirava a alho e cebola e embebido em óleo e garum ”.

Embora tenha reclamado sobre a cozinha bizantina, para ele demasiado condimentada, Liutprand pronuncia-se sobre um “cordeiro gordo … generosamente temperado com alho, cebola e alho-porro e embebido em garum “, que é chamado, em grego, garon, que considerou excelente.

O uso de garum, ou de molhos de peixe, foi preservado no Leste também depois dos bizantinos. Pierre Belon (1547-1549), um viajante europeu durante o império otomano, relata:

“Existe um líquido […] que eu verifiquei estar muito na moda na Turquia […]. Todos os dias preparam peixe fresco que vendem já frito […]; molham-no no picles e transformam em garum ”.

É um bom exemplo de como este hábito local em relação à comida do mar foi transmitido aos turcos.

Contudo, a utilização de garum com peixe frito na Turquia tem raízes antigas. Um poeta, provavelmente um monge, que viveu no idade do Comnemi, menciona o garum entre os alimentos servido durante um elegante banquete de dois padres superiores num convento em Constantinopla.

O garum permaneceu na tradição da alta gastronomia medieval também nos países ocidentais.

Liutprand, um rei Longobard (712-744), deu a um seu oficial como salário, um solidus de ouro, um litro de óleo, um litro de garum e duas onças de pimenta.

Também no século VIII, os comerciantes de Comacchio, empreenderam o comércio do garum ao longo do rio Po. Os soberanos Longobard compravam-lhe o produto, no porto fluvial Parmisano. Ainda no século IX, o mosteiro de Bobbio, nos Apeninos Piacentino, comprava o garum no mercado de Gênova, como está registrado nos  arquivos monásticos.

O garum era ainda usado em França; o produto é mencionado num diploma de 29 de abril de 716, emitido pela Abadia de Corbie.

Confirma-se assim que nas idade média o uso de garum sobreviveu na Europa Ocidental, especialmente em âmbito monástico.

O regime beneditino proíbe os monges da Ordem de comer carne vermelha, exceto em caso de doença grave. Permite apenas peixes, ou outros animais aquáticos e aves; os recursos marinhos são portanto, muito importantes na dieta monástica.

A continuidade do uso e a provável produção de garum no âmbito beneditino é certificado no século X por um presente oferecido pelos monges de Santa Maria dos Amalfitanos

Quando visitam Santo Atanásio de Athos ,no mosteiro por ele fundada no Monte Athos. Embora os ortodoxos do mosteiro terem garum na sua despensa, durante o jantar o santo ordenou que trouxessem para a mesa o presente, descrito como “Precioso”.

O garum na região de Amalfi nas idade média

As informações mencionadas são testemunha significativa do uso de garum no principio da Idade Média, no âmbito monástico a leste e oeste e mostra que em Amalfi esse molho era ainda importante e precioso no século X.

Amalfi foi fundada pelos romanos em 553 d.C., tornou-se diocese e castrum bizantino após a vitória de Narsetes sobre os Godos. No altura das lutas entre Bizantinos e Longobards, no século VIII-IX, fazia parte do Ducado de Nápoles e ambos eram dependentes de Constantinopla.

Benevento foi conquistado pelos Longobards em 838 e em Amalfi rebelaram no mesmo ano criando um governo autônomo tendo à cabeça de um Comes. O poder marítimo de Amalfi começou neste tempo e a cidade de mar enriquecia com os seus negócios de navegação, estendendo o seu poder no território entre o Ducado de Nápoles e o Principado de Salerno.

Sérgio I apoiado por Constantinopla foi proclamado Dux em 958. Nesse período, Amalfi estendeu seu controle comercial até o Oriente Próximo chegando a possuir colônias em Constantinopla, Síria, Palestina e em Alexandria. A forte relação entre os monges Beneditinos em Amalfi e os ortodoxos do Monte Athos data do mesmo período.

Entre o século VIII e o século XII, Amalfi teve relações próximas com o mundo bizantino.

Os eventos históricos de Cetara nas idade média são bastante misteriosos. A vila foi um enclave sarraceno durante cerca de um século, desde 879.

No início do século X, Cetara, que delimitavaa fronteira entre a República de Amalfi e os Longobard, Principado de Salerno, teve uma importante função estratégica e foi enganada pelo mosteiro de Santa Maria de Erchie. Cetara era naquele tempo uma aldeia de pescadores da República Marítima de Amalfi e a salga do biqueirão representou uma importante atividade econômica, como atestam fontes medievais. É possível que o mencionado “precioso” garum dos Monges amalfitanos fossem produzidos em Cetara para os religiosos da comunidade de Amalfi.

Em 1092, Cetara passou a estar sob o controle dos poderosos da Abadia da Santíssima Trindade em Cava. A Abadia Beneditina cobrou o dízimo do pescado e adquiriu os direitos de ancoragem determinando uma contração da atividade marinha tradicional em Cetara.

O poder beneditino em Cetara, tanto econômico quanto territorial, tornou-se absoluto após a anexação definitiva do mosteiro de Erchie para a Abadia de Cava em 1128.

O atestado mais antigo da produção de um molho de anchovas fermentadas na costa de Amalfi remonta ao século XII, em que o nome “colatura di alici” aparece em St. Peter na reitoria de Tozcolo em Amalfi pela primeira vez.

Nessa época os monges Amalfitanos possuíam uma frota utilizada sazonalmente para a pesca do biqueirão.

É muito provável que os monges de Amalfi tivessem sido uma das as comunidades monásticas medievais que preservaram a conhecimento sobre a preparação do garum e a tradição do seu uso.

Os contínuos ataques de piratas na costa de Amalfitan tornou incontrolável e obsoleto o antigo sistema de salga em tanques (lat. cetaria), e fosse mais fácil para esse fim reutilizar os barris que já não tinham utilidade para guardar o vinho produzido na Reitoria.

Além disso, a tradição bizantina documentada pelo Geoponica, atesta a recusa do setor industrial da continuidade de produção em tanques, a favor de um sistema mais simples que tinha sido mantido por toda a antiguidade, embora utilizado principalmente para uso doméstico.

O próprio nome Cetara, relacionado com as ainda existentes redes de pesca de atum, pode se tornar mais compreensível considerando que, na antiguidade clássica, todas oas redes dos pescadores de atum estavam associadas a uma área de salga de atum equipada com tanques, cetarias, destinadas à produção de garum. Esta hipótese parece confirmada pela toponímia medieval na qual a vila atual aparece com o nome de Cetaria (como é certificado em alguns documentos 980 e 982).

Os centros medievais de pesca de atum com redes de pesca, tomaram conta dos antigos centros de produção de garum.  É provável que na era romana um centro de captura de peixes, com seus tanques (cetariae) tivesse surgido na área de Cetara.

Geralmente as estruturas para a produção de garum foram fundidas após a queda do Império Romano, embora a pesca em Cetara e as suas tradições alimentares do molho de peixe continuaram.

Portanto, é provável que a tradição de anchovas na Campânia, atestada em Pompéia, tenha sido preservada na península de Sorrento durante a idade média através dos Bizantinos.

A comunidade monástica em Amalfi, de forma a suprir as suas necessidades, teria permitido e ajudado à sobrevivência de uma técnica para preservar peixes que se tornaram, com o tempo, patrimônio da cultura popular da comunidade em Cetara.

É possível dizer que a “colatura di alici” moderna é um verdadeiro “fóssil vivo” de um dos mais importantes produto gastronômico da antiga região do Mediterrâneo.

Este processo de preservação cultural pode ter sido ajudado por um relativo isolamento geográfico das aldeias da península de Sorrento, ainda não facilmente alcançáveis por terra.

Download original PDF

The “Colatura d’alici” from the Amalfitan Coast
Categorias
Espadarte What’s Going On

Barriga de espadarte curada

Barriga de espadarte curada