Autor: canthecan_bfmhxg
Livro útil – Tratado do cosinha – 1894
- Autor do artigo Por canthecan_bfmhxg
- Data do artigo Janeiro 1, 1894
Livro útil - Tratado do cosinha - 1894
TÍTULO: Livro útil – Tratado do cosinha
SUB TÍTULO:
AUTOR: Amélia de Lobão de Macedo Chaves de Oliveira
DATA 1ª EDIÇÃO: 1894
EDITORA: Famalicão, Typographia Minerva
IMPRESSO POR: Famalicão, Typographia Minerva
SELO
DE MAR
collection
TÍTULO: Livro útil – Tratado do cosinha
SUB TÍTULO:
AUTOR: Amélia de Lobão de Macedo Chaves de Oliveira
DATA 2ª EDIÇÃO: desconhecida
EDITORA: Famalicão, Typographia Minerva
IMPRESSO POR: Famalicão, Typographia Minerva
Novíssima Arte de Cozinha – 1889
- Autor do artigo Por canthecan_bfmhxg
- Data do artigo Janeiro 1, 1889
- Sem comentários em Novíssima Arte de Cozinha – 1889
Novíssima Arte de Cozinha - 1889
TÍTULO: Novíssima Arte de Cozinha
SUB TÍTULO: Illustrada com numerosas gravuras e contendo as melhores receitas culinárias ao alcance de todos, uma secção completa de doces, pudins, massas, etc., variadíssimos pratos da cozinha brasileira e o modo de servir a mesa e de trinchar por um Mestre de Cozinha.
AUTOR: Autor desconhecido nas referências bibliográfias.
DATA 1ª EDIÇÃO: 1889
EDITORA: Tavares Cardoso & Irmão Editores. Lisboa
IMPRESSO POR:
Texto em:
Isabel Drumond Braga
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Influências estrangeiras
nos livros de cozinha portugueses (séculos XVI-XIX): alguns problemas de análise
Por seu lado, a Novissima Arte de Cozinha (1889), além das situações habituais antes descritas, teve o cuidado especial de apresentar receitas genuinamente brasileiras, tais como: sopas de fígado, de cebola à mineira, de sagú e de peixe a Caiapó; molhos pardo à mineira, para assar, de laranjas verdes e à mineiro além de diversos pratos de carne, nomeadamente: churrasco à Rio-Grandense, lombo de vaca à mineira, língua branca, língua ensopada parda, tripas de vaca à mineira, tripas de vaca enroladas, chouriço de vitela, costeletas de vitela guisadas, guisado de vitela com grelos, salame de cabeça de vitela, vitela assada de creme, orelhas de vitela com inhame, carneiro com arroz, miúdos de carneiro refogado, carneiro cozido com ameixas ou marmelos, bifes de fígado de porco, carne de porco cozida no sangue, frango frito com bananas, peru assado à fluminense, cangica e bananas em compota.
Arte de Cozinha no Diário Ilustrado – 28 dezembro 1875
- Autor do artigo Por canthecan_bfmhxg
- Data do artigo Dezembro 28, 1875
- Sem comentários em Arte de Cozinha no Diário Ilustrado – 28 dezembro 1875
"Arte de cozinha", anunciado no Diário Ilustrado, Lisboa 28 dezembro 1875 página 4
- Etiquetas Arte de Cozinha, joao da mata
O cosinheiro dos cosinheiros – 1870
- Autor do artigo Por canthecan_bfmhxg
- Data do artigo Janeiro 1, 1870
O cosinheiro dos cosinheiros
TÍTULO: O cosinheiro dos cosinheiros
SUB TÍTULO: colleção de mais de 1500 receitas usuaes, faceis e economicas, de cozinha, copa, salsicharia, pastellaria e confeitaria com as mais importantes noticias relativas a alimentação e conservação das substancias alimenticias.
AUTOR:
DATA 1ª EDIÇÃO: 1870
NOVA EDIÇÃO: 1905
EDITORA: Lisboa : P. Plantier-Editor
IMPRESSO POR:
Esta edição de O COZINHEIRO DOS COZINHEIROS é uma reimpressão de um dos maiores sucessos da Plantier em Portugal. O volume compila receitas de escritores e pessoas conceituadas em Portugal no início do século XX e inclui quitutes preparados por Alexandre Dumas, pai e filho, Saint Simon ou o Visconde de Belacanfor. As receitas são uma mistura de ingredientes e pratos de diversas regiões européias com a culinária típica portuguesa. Dentre as receitas francesas destacam-se clássicos do século XIX como o pombo com ervilhas, o court-buillon de frutos de mar, a enguia grelhada, as omeletes de vários tipos. Do lado português, caldeiradas, ensopados, sopas ou as rabanadas, chamadas pelo seu nome francês, pain perdu, ou em português, pães perdidos.
- Etiquetas O cosinheiro dos cosinheiros, P. Plantier-Editor
Arte de Cozinha, Jornal das Damas – abril 1867
- Autor do artigo Por canthecan_bfmhxg
- Data do artigo Abril 1, 1867
- Sem comentários em Arte de Cozinha, Jornal das Damas – abril 1867
Anúncio "Arte de Cozinha" de João da Mata, no Jornal das Damas nº4, de abril de 1867 página 8
- Etiquetas Arte de Cozinha, João da Mata, Jornal das Damas
Arte Nova e Curiosa para Conserveiros, Confeiteiros e Copeiros – 1788
- Autor do artigo Por canthecan_bfmhxg
- Data do artigo Janeiro 1, 1788
Arte Nova e Curiosa para Conserveiros, Confeiteiros e Copeiros - 1788
TÍTULO: Arte Nova e Curiosa para Conserveiros, Confeiteiros e Copeiros
SUB TÍTULO: e mais pessoas que se occupaõ em fazer doçes, e confervas com frutas de varias qualidades, e outras muitas receitas particulares, que pertencem á mesma Arte.
AUTOR: desconhecido
DATA 1ª EDIÇÃO: 1788
EDITORA:
IMPRESSO POR: Lisboa: Na offic. de José de Aquino Bolhoens
Texto em BiBlioAlimentAriA
Alimentação, Saúde e Sociabilidade à Mesa no acervo bibliográfico da Universidade de Coimbra
Carmen Soares (Coord.)
Imprensa da Universidade de Coimbra
Coimbra University Press
Trata‑se de uma obra anónima e da qual se conhecem poucos exemplares, apresentando‑se como a primeira publicação, em solo nacional, exclusivamente dedicada à arte doceira.
De pequenas dimensões, compreende 162 receitas sem qualquer tipo de organização em capítulos ou livros. Isabel Drumond Braga, que a este volume dedicou um estudo aprofundado, agrupa as receitas em seis grupos distintos: biscoitos, broas e pastéis, doces de frutos, doces de colher, bolos de forma, gelados e sorvetes e, ainda, um grupo heterogéneo de receitas (açúcar rosado, águas de flores, entre outros)6.
O conjunto de receitas registadas não se apresenta inovador nem mesmo original, uma vez que grande parte delas, em maior ou menor grau de semelhança, aparecem já em outros livros de culinária cronologicamente anteriores. Há, no entanto, a destacar não só as cuidadosas instruções para a produção de sorvetes (incluindo indicações sobre a forma como a sorveteira deveria ser feita), mas também o curioso registo de receitas associadas a determinadas casas monásticas, como a “Receita de bolos de Manteiga da Esperança” ou a “Receita de pastilhas, que se fazem na Madre de Deus”.
Arte Nova e Curiosa apresenta‑se, assim, como uma pequena janela para o vasto mundo da doçaria portuguesa setecentista, da qual hoje subsiste ainda um grande número de receitas, como as “Cavacas”, “Broinhas”, “Marmelada vermelha”, “Ovos Moles” ou “Sonhos”.
(JPG)
Cozinheiro Moderno ou Nova Arte de Cozinha, Lucas Rigaud – 1780
- Autor do artigo Por canthecan_bfmhxg
- Data do artigo Janeiro 1, 1780
Cozinheiro Moderno ou Nova Arte de Cozinha, Lucas Rigaud - 1780
TÍTULO: O cozinheiro moderno
SUB TÍTULO: ou Nova Arte de Cozinha
AUTOR: Lucas Rigaud
DATA 1ª EDIÇÃO: 1780
EDITORA:
IMPRESSO POR:
Obra clássica da culinária portuguesa da época barroca, com diversas edições publicadas nos séculos XVIII e XIX: 1ª edição de 1780; 2ª 1785; 3ª 1798; 4ª 1807; 5ª 1826 e 6ª 1846.
Foi o segundo livro de culinária a ser editado em Portugal. De acordo com o próprio autor, “O que me obrigou a dar á luz esta obra, foi ver hum pequeno livro, que corre com o título de Arte de Cozinha [da autoria de Domingos Rodrigues], escrito no idioma Portuguez; o qual he tão defeituoso, que sem lhe notar os erros, e impropriedades em particular, se deve regeitar inteiramente como inutil, e incompativel com os ajustados dictames da mesma Arte”.
A obra de Rigaud actualizou a cozinha portuguesa no século XVIII, retirando o excesso de temperos e inserindo-a num gosto comum a outras cozinhas europeias. Não utilizava o gengibre, cominhos, anis ou açafrão nas suas receitas, advogando que os alimentos deveriam ter o seu gosto “natural”. Em substituição destes temperos usava diferentes ervas, como o manjericão, alecrim, cebolinho, funcho, coentros e trufas brancas. Dada a sua origem francesa, o azeite não consta de nenhuma das suas receitas, sendo a manteiga utilizada em sua substituição.
Inocêncio V, 203. “Lucas Rigaud, estrangeiro, como bem o indica o seu appellido, mas domiciliario por algum tempo em Portugal, onde se declara «um dos Chefes da cosinha de Suas Magestades Fidelissimas», compoz, ou como elle diz, deu á luz a obra seguinte: Cosinheiro moderno, ou nova arte de cosinha, Terceira edição correcta e emendada. Lisboa na Offic. de Simão Thaddeo Ferreira 1798. 8.º de VIII-461 pag. É esta a edição que possuo, e ainda não tive opportunidade de examinar as anteriores. Depois se fizeram mais algumas, e a ultima de que hei noticia é de 1846.»”
Texto em BiBlioAlimentAriA
Alimentação, Saúde e Sociabilidade à Mesa no acervo bibliográfico da Universidade de Coimbra
Carmen Soares (Coord.)
Imprensa da Universidade de Coimbra
Coimbra University Press
Os dados biográf icos deste cozinheiro são escassos. De provável origem francesa, terá contado com uma larga atividade profissional em várias cortes europeias ao longo de trinta anos, fixando residência em Portugal em data indeterminada e tornando‑se um dos cozinheiros reais de D. José e, após a morte deste, de D. Maria I. Publica em 1780 o seu próprio receituário, intitulado Cozinheiro Moderno.
A par da Arte de Cozinha de Domingos Rodrigues, contra a qual se pretende opor, o Cozinheiro Moderno será igualmente um sucesso de vendas, contando com cinco edições até 1826.
Lucas Rigaud, certamente inspirado por Vincent La Chapelle, ao registar a experiência adquirida ao longo de 30 anos de serviço nas grandes cozinhas europeias (como ele bem faz questão de referir no prólogo “Ao Leitor”), pretende renovar a cozinha aristocrática portuguesa, presa aos grosseiros sabores cristalizados por Domingos Rodrigues, e adaptá‑la à nova filosofia do “bom gosto”, mais equilibrado e suave, onde as especiarias orientais davam lugar às ervas aromáticas finas.
A obra de Rigaud conta com mais de 700 receitas (incluindo conselhos e anotações sobre a qualidade de alguns ingredientes), divididas em 30 capítulos e agrupadas tanto por ingredientes principais como tipos de preparados: carnes vermelhas (capítulos 1 a 7), aves (capítulos 8 ao 14), peixes (capítulos 18 e 19), massas de pastelaria (capítulo 20), ovos (capítulo 21), legumes (capítulo 26), geleias e doces (capítulo 28), qualidades dos legumes e formas de conservar (capítulo 29), frutas (capítulo 30, onde também se incluem receitas de bolos secos e sorvetes) e preparados culinários específicos (capítulos 15 a 17, 22, 24 e 25).
Mais evidente do que na obra de Domingos Rodrigues é o grau de internacionalização e receção de receitas “à moda de” outras nacionalidades, sendo notória a influência da cozinha francesa, tanto de âmbito nacional como regional, bem como de receitas “à Inglesa”, “à Italiana”, “à Alemã” e “à Espanhola” (as mais expressivas). É de registar a inclusão na coletânea de um conjunto de catorze receitas “à Portuguesa”, refletindo a longa permanência do cozinheiro em Portugal e a adoção de receitas que seriam comummente consumidas nas mesas mais abastadas.
A obra de Lucas Rigaud constitui‑se, assim, mais do que como um reflexo das práticas alimentares portugueses durante o século XVIII, como a visão pessoal de um dos cozinheiros reais do que deveria ser a cozinha e o cozinheiro modernos.
(JPG)
Suplicio dos Doces 1727
- Autor do artigo Por canthecan_bfmhxg
- Data do artigo Janeiro 1, 1727
Suplicio dos doces
TÍTULO: Suplicio dos doces
SUB TÍTULO:
AUTOR: Silvestre Aranha
DATA 1ª EDIÇÃO: 1727
EDITORA: manuscrito
IMPRESSO POR:
Texto em BiBlioAlimentAriA
Alimentação, Saúde e Sociabilidade à Mesa no acervo bibliográfico da Universidade de Coimbra
Carmen Soares (Coord.)
Imprensa da Universidade de Coimbra
Coimbra University Press
Escrito por um Padre Jesuíta e mestre de teologia, Silvestre Aranha, o texto jocoso copiado em três páginas de um manuscrito em que se reúne matéria muito diversa (o Ms. 120 da BGUC 7) constitui um excelente testemunho da literatura composta por autores eclesiásticos, destinada ao entretenimento moralizante e pedagógico de alunos dos colégios de Coimbra. Conforme esclarecem as palavras introdutórias ao traslado do texto, o mesmo foi tornado público em duas aulas do referido mestre, ocorridas a 1 e 15 de março de 1727, no Colégio das Artes, então propriedade da Companhia de Jesus (1555‑1759, ano da expulsão da Ordem de Portugal). Ao padre jesuíta atribuem‑se, nos manuscritos 120 e 336, quatro composições, identificadas com nomes distintos em ambos os lugares. Assim, em Ms.120 dá-se pelo título de “Banquete contencioso” 8, de que a Parte 1 é o “Suplício dos doces”, a Parte 2 “Descrevece de seu nascim.[ento] o Rio Mondego, em methaphora de pessoa humana, Academico Conimbricense”, a Parte 3 “Descripção da Corte dos animaes terrestres”9 e a Parte 4 e última “Descrevece hũ Banquete em forma de Batalha”.
Deste conjunto, interessa particularmente ao nosso tema a Parte I. Na verdade, o “Suplício dos doces” constitui um bom retrato da doçaria que chegava às mesas pelo menos da comunidade docente e discente de estudos pré‑universitários da Coimbra dos inícios do séc. XVIII. O motivo de inspiração é retirado do quotidiano estudantil, onde os doces (muitos preparados nas numerosas casas de religiosas da cidade) são consumidos com um prazer não isento das culpas do luxo e da gula. A metáfora que serviu ao autor para construir uma narrativa em simultâneo satírica e moralizante foi precisamente a do julgamento em tribunal. Os réus são os doces, os juízes pertencem à Academia, os delitos apresentam uma dupla natureza – económica (“as boas pancadas [dadas] na bolsa [dos estudantes]”) e sanitária (“fazia tanto mal à saúde dos Académicos”) – e a sentença traduz‑se na condenação (quase) geral dos “criminosos”.
Do cardápio guloso desse julgamento fazem parte tipologias diversas de doces: bolos secos (pão‑de‑ló) e fritos (sonhos), frutas (amêndoa, pêssego, abóbora, ameixa, pera, melão, limão e laranja), conservadas em açúcar de maneiras diversas (cobertas, cristalizadas, em calda e de doce – caso da marmelada e da geleia), plantas comestíveis conservadas em açúcar (talos de alface e o tubérculo da escorcioneira), um doce de ovos (os fios de ovos, então conhecidos por “ovos reais”) e outro doce de ancestral tradição medieval, portuguesa e europeia, o manjar branco; doces obtidos de várias formas de preparar o açúcar (caramelo, alfenim, pastilhas). Há igualmente menção, entre os réus, à preparação do açúcar com pétalas ou água de rosas (por isso denominado de “açúcar rosado”), que alega em sua defesa ser sobretudo um doce de utilidade médica, usado na botica como purgante. Chamado à 9 Pequena alteração do título, no Ms. 336: “Descripçaõ Da Corte e Republica dos animais terrestres”. barra do tribunal foi também o grande cúmplice dos criminosos doces: o açúcar. Neste caso a sentença dos juízes foi unânime: ser queimado!
Como se percebe por este último exemplo de pena aplicada aos condenados, o autor tira partido das técnicas de preparação ou de apresentação dos doces para obter o desejado efeito jocoso.
Vejamos alguns exemplos: o pão‑de‑ló apresenta‑se “todo fofo e com o seo vestido de amarello gemado com cuberta tostada”, não se livrando da condenação capital de “morrer affogado em vinho” (numa alusão ao seu consumo ensopado em vinho); ao caramelo, que em frio solidifica, só se podendo comer chupando (“pedia humildemente [aos juízes] que lhe perduassem atendendo que no Verão passado lhe confiscarão os bens chupando‑lhe tudo quanto tinha”) sentencia‑se a pena correspondente ao método de ser eliminado (“morrer afogado em agua”); o alfenim, uma massa de açúcar repuxada à mão para moldar, graças a essa técnica de confeção, é dos poucos réus não condenados, valendo‑se para tal dessa arte (pois “deo tantas voltas athe que escapou”); os confeitos de açúcar, graças às suas reduzidas dimensões, receberam a indulgência do perdão, precisamente por serem considerados “menores”; sorte inversa tiveram os réus seguintes, os talos de alface, cuja maturidade (“por serem já taludos e espigados”) lhes valeu a condenação 10; também a marmelada escapou à condenação, desta feita justifica o autor a divisão dos votos dos juízes em determinarem formas de “execução” que retratam as duas formas em que era vendida: inteira ou aos bocados; o duplo sentido do vocabulário é recurso estilístico agora explorado na metáfora entre comida e política, uma vez que o jesuíta afirma que valeu a salvação da ré marmelada ter “sido de grande utilidade a todos na dieta de Cambray” – usando a palavra “dieta” tanto no sentido de “regime” como de “assembleia”, numa remissão clara a batata, a hortaliça, a sardinha e o bacalhau, constituem quase exclusivamente a alimentação dos aldeões portugueses”. Já o parágrafo de abertura da entrada “Bebidas brancas” (p. 14) é bem o espelho da condenação dos excessos alimentares e comportamentos desviantes a ele associados:
“Se o vinho, bebido em condenável excesso, pode e tem produzido frutos desgraçados da ordem física e moral, as bebidas brancas, por seu turno, têm dado aos hospitais, aos cemitérios e às prisões um contingente horroroso.”
Num segundo momento, Rosa Maria procede à apresentação, por ordem alfabética, das receitas propriamente ditas: primeiro os pratos cozinhados ou crus (as saladas) a que contemporaneamente chamamos “salgados”; depois os doces (agrupados em cinco rubricas independentes: Dôces práticos, Carapinhadas, Compotas, Geleas, Queijadas). Note‑se, no entanto, que a intenção didática da obra continua a marcar presença mesmo nesta parte, uma vez que é antecedida por página e meia de observações da autora sobre os efeitos favoráveis da cocção dos alimentos, que, numa linha ancestralíssima (remontante, como sabemos, aos escritos gregos de dietética da Escola Hipocrática, no século V a. C., herança a que não se alude na presente obra), entendia o cozinhar “como um processo preliminar da digestão” (p. 21).
Os benefícios da ação do fogo sobre os alimentos são de ordem química (produzindo a transformação dos seus componentes), higiénica (eliminando parasitas) e gastronómica (promovendo o apetite, através do estímulo dos sentidos do paladar e da vista).
Que estes princípios, e em particular o estético e gustativo, foram tidos em conta na redação das receitas comprovam‑no, por exemplo, as recomendações finais da receita de arroz à Valenciana (p. 27): “Para dar melhor apresentação deve‑se pôr tiras de malagueta, que não só dá bom paladar como também são aperitivo para o vinho”.
Mas há anotações no pé das receitas que abordam assuntos bem diversos, como é o caso da descrição de um utensílio da bateria de cozinha que seria pouco conhecido. Refere‑se a “umas frigideiras especiais para estrelar ovos separados uns dos outros”, efeito que se consegue devido ao fundo apresentar depressões onde se colocam, sem se tocarem, os ovos a estrelar (mencionadas na receita de Ovos estrelados à portuguesa, pp. 118‑119).
No que se refere à presença de um receituário internacional, observamos que continuam a marcar presença várias receitas de títulos de origem europeia (francesa, espanhola, italiana, inglesa e alemã). Atentemos, porém, com algum detalhe na presença da gastronomia declaradamente portuguesa neste livro de receitas. O nosso levantamento é apenas ilustrativo e tem por critério a presença no título de uma origem nacional (a), regional (b) e local (c):
a) Açorda à Portuguesa (p. 23, em verso); Bacalhau à portuguesa (p. 30), Cabeça de vitela à portuguesa (p. 65), Carne assada à portuguesa (p. 71), Carne estufada à portuguesa (p. 72), Leitão assada à portuguesa (p. 99), Molho de vilão à portuguesa (p. 112), Ovos estrelados à portuguesa (p. 117), Papas de milho à portuguesa (p. 118), Sopa de carne à portuguesa (p. 139);
b) Açorda à alentejana (p. 23), Bacalhau de cebolada à alentejana (p. 35), Bacalhau em açorda à alentejana (p. 55), Sopa à alentejana (p. 144), Bacalhau com couve‑flor, à transmontana (p. 44), Carneiro à transmontana (p. 74), Coelho à transmontana (p. 78); Queijada da Madeira (p. 189);
c) Bacalhau à moda do Porto e Bacalhau à portuense (p. 33); Tripas à moda do Porto (p. 146), Rósbife à portuense (p. 132), Bacalhau à Ericeira (p. 37); Bacalhau albardado à moda de Águeda (p. 39), Bacalhau em arroz à moda do Crato (p. 55), Bacalhau à moda de Lamêgo (p. 58), Fatias doces de Braga e Fidalguinhos de Braga (160), Maneiszinhos de Elvas (p. 162), Mulatos de Torres (p. 162), Sopapos de Torres (p. 194), Ovos moles de Aveiro (p. 163), Palitos de Oeiras (p. 164), Pudim de ovos à moda de Coimbra (p. 174), Queijada de Sintra (p. 189), Queijada de Estremoz (p. 190).
Destacamos ainda, por corresponder a uma atenção especial que o universo culinário brasileiro teve no contexto editorial desta primeira metade do séc. XX, receitas cujo nome denuncia essa origem e/ou público de matriz cultural lusa: Perú recheado à brasileira (p. 123); Pudim de pão à brasileira (p. 174) Baba di moça (p. 152), Baba di moça com côco (p. 152), Biscoitos de côco à Sinhazinha (p. 154), Compota à Sinhazinha (p. 180), Corações de moça (p. 158), Pudim à Tijuca (p. 172).
7 O texto foi transcrito e publicado por Dina Sousa, mas a partir de uma outra cópia existente na BGUC (Ms. 555, pp. 442‑445), na obra A doçaria conventual de Coimbra. Colares Editora, Coimbra, 2011, pp. 111‑113. Seguimos essa transcrição. Na BGUC há ainda um outro manuscrito com traslado do texto de Silvestre Aranha, o nº 336, folhas 83‑86.
8 No M s. 336 vem intitulada “Descripçoẽs jocoserias que recitou nas Mesas da Compª. da Universide. de Coimbra o Pe. Sylvestre Aranha no anno de 1727.
9 Pequena alteração do título, no Ms. 336: “Descripçaõ Da Corte e Republica dos animais terrestres”.
10 O aproveitamento dos talos da alface, que geralmente eram desperdiçados no consumo do vegetal em fresco, revela bem como o açúcar permitia, através da transformação em conserva, não só prolongar a “vida” dos produtos alimentares, como tornar consumível um produto eventualmente votado ao desperdício. Já aparece receita de “talos de alface” no Livro de Cozinha da Infanta D. Maria (receita XLVIII, in Arnaut, S. D., Manupella, G. (1967), O “Livro de Cozinha” da Infanta D. Maria de Portugal. Coimbra).
- Etiquetas Silvestre Aranha, Suplicio dos doces
Arte de cozinha 1680
- Autor do artigo Por canthecan_bfmhxg
- Data do artigo Janeiro 1, 1680
- Sem comentários em Arte de cozinha 1680
Arte de cozinha
TÍTULO: Arte de cozinha
SUB TÍTULO:
AUTOR: Domingos Rodrigues
DATA 1ª EDIÇÃO: 1680
EDITORA:
IMPRESSO POR: Oficina da viúva de Lino da Silva Godinho
PDF integral do livro Biblioteca Nacional Digital
Texto retirado de:
BiBlioAlimentária
Título: Alimentação, Saúde e Sociabilidade à Mesa no acervo bibliográfico da Universidade de Coimbra
Autora: Carmen Soares (Coord.)
Publicado por: Imprensa da Universidade de Coimbra
URL: http://hdl.handle.net/10316.2/43685
Trata‑se do primeiro livro de cozinha impresso em Portugal. Representando um marco na cozinha nacional seiscentista, a Arte de Cozinha é considerado um retrato dos hábitos alimentares das classes mais abastadas da sociedade portuguesa. Definindo‑se como um autêntico “best‑ seller”, com edições conhecidas até ao século xix (a última é de 1844), pouco se sabe sobre o seu autor, Domingos Rodrigues.
Arte de Cozinha não se destaca nem pelo volume de receitas registadas nem pela originalidade destas: a coletânea culinária reflete um acentuado gosto por pratos agridoces e abundantemente sazonados com especiarias, privilegiando‑se as carnes assadas e os compostos guisados.
A primeira edição de 1680 é acrescentada pelo autor duas vezes, em 1683 e em 1693, passando a compor‑se de três partes, sendo esta a edição que é repetidamente reimpressa ao longo dos séculos XVIII e XIX, como a de 1732, que faz parte do acervo da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra.
A primeira parte da obra é maioritariamente dedicada a receitas de sopa e carne, às quais se acrescentam receitas de “pratinhos”, “olhas” e receitas de pastelaria. A segunda parte, mais heterogénea, é dedicada aos peixes e mariscos, receitas de pratos de leite, “doces de massa”, ovos e fruta, bem como pastelaria doce. A terceira parte, fruto de acrescentos à primeira edição, compreende vários tipos de informação: fórmulas para banquetes, específicas para cada mês; banquetes para a Quaresma e para merendas; algumas receitas de carne, peixe e verduras; fórmulas de refeições para “meia dúzia de hóspedes”, para todos os dias da semana e, ainda, para um “comer para uma jornada”, terminando numa fórmula de servir um banquete a um embaixador.
A obra de Domingos Rodrigues, apresenta‑se, pois, como original e única no panorama culinário português moderno: o cozinheiro de D. Miguel de Portugal, 6.º Conde do Vimioso, pretendia, por um lado, difundir receitas por si experimentadas (ou inventadas) ao longo de 29 anos de serviço, refletindo já a crescente influência internacional na cozinha portuguesa. Daí que no seu livro figurem pratos “à Francesa”, “à Romana” ou “à Turca”, a par com a discriminação de receitas com características identitárias nacionais e, por isso consideradas “à Portuguesa”.
Por outro lado, a Arte de Cozinha pretendia contribuir para a formação de novos cozinheiros, ensinando não só técnicas e preceitos culinários, mas também formas de preparar e servir banquetes para todas as ocasiões e segundo o protocolo da época.
Desta forma, Domingos Rodrigues, tal como o seu congénere italiano Bartolomeu Scappi um século antes, seria o responsável pelo que podemos definir como o primeiro manual de cozinha escrito em português e impresso em Portugal, transformando‑se em um sucesso de vendas, largamente difundido ao longo do século XVIII.
- Etiquetas Arte de Cozinha, Domingos Rodrigues